Tex Gigante: Arizona em Chamas

Arizona em ChamasArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Víctor De La Fuente. Com o título original Fiamme sull’Arizona, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 5 em 1992 e no Brasil pela Editora Globo em 1995.

Tentando dar-nos a conhecer os grandes temas e as linhas mestre que consagraram o western, Nizzi apresenta-nos, com Arizona em Chamas, uma aventura que tem como pano de fundo a questão da expansão da civilização nos Estados Unidos e a sua natural colisão com os direitos dos povos indígenas que sempre habitaram as terras mais inóspitas, nomeadamente os povos índios. Com o decorrer dos tempos, a verdade é que a civilização branca sentiu necessidade de se expandir para outras terras, sobretudo para oeste, o que foi colidir com os interesses dos povos que, desde há muito, ali se encontravam instalados, relegando-os para reservas feitas de acordo e há medida das conveniências dos interesses instalados em Washington.

O que Nizzi nos vem apresentar, em lugar de uma pura intriga política (que seria muito mais ambicioso), é, no fundo, uma aventura onde os vários interesses instalados se digladiam e desejam valer os seus intentos, a pura rivalidade entre duas raças e duas civilizações: de um lado, Washington a querer expandir a sua própria civilização e ideais; por outro lado, os índios que se mostram relutantes em deixar as suas terras e partir para outras a mando e contento dos brancos; no meio de ambos as facções, Tex e Carson a defenderem uma solução justa para a questão e ainda o Exército, na voz do capitão Carleton, que não receia pegar nas armas se necessário for para fazer valer os intentos de Washington.

O espanhol De La Fuente em TexO espanhol De La Fuente, desenhador relativamente bem conhecido no nosso país (através de Mathai-Dor, Os Guerrilheiros e outras mini séries que foram publicadas na década de 80, nomeadamente no extinto e saudoso Jornal do Cuto), apresenta-nos uma aventura feita de traços finos e seguros, mas algo rebuscados, o que é aliás uma das características marcantes do seu estilo pessoal. Nota-se uma certa maturidade no autor, uma experiência de anos que nos surge na sua capacidade em apresentar cada personagem e cada plano na pose e postura correctas. De La Fuente apresenta-se aqui mais como um detalhista das personagens do que propriamente dos espaços e dos ambientes, mas nunca descurando estes. É curioso, e isto é uma opinião e um sentimento muito pessoal, que o seu desenho nos tenha conseguido transportar e reviver a época dos grandes clássicos, quer no estilo, quer no ritmo, quer ainda nas expressões utilizadas pelo autor em cada personagem.

Tex por De La FuenteUma das características do Tex de De La Fuente é que o herói não nos parece ter sofrido qualquer influência deste ou daquele autor. A verdade é que, não raras vezes, vemos muitos desenhadores, mesmo consagrados, a remeter a figura do ranger para o estilo de um Ticci, de um Fusco ou de um Galleppini. Com De La Fuente, Tex é o seu Tex, a sua maneira muito pessoal de desenhar o ranger, um herói muito próprio, algo envelhecido ou mesmo rude, mas também muito clássico.

Texto de Mário João Marques

4 Comentários

  1. Mais uma bela crítica, pard Mário Marques. A propósito, não sei se chegou a ver antes, mas escrevi mais uma resenha de uma histórias de Ticci, onde comentei a sua arte.

  2. Amigo Yudae,
    Vi a sua resenha e gostei muito, como tenho gostado de ler tudo o que tem escrito. Esta paixão texiana tem servido para escrevermos e falarmos o melhor que podemos e sabemos, além de nos ter aproximado pelo contacto mantido no blogue. Quanto mais não seja, só por isso, já vale a pena. Obrigado amigo Yudae e continue sempre a escrever aqui o que acha, o que sente, o que lhe vai na alma.
    Esta foi mais uma resenha feita já lá vai algum tempo e que estava aqui guardada, no seguimento da política de publicarmos as resenhas de todos os Tex Gigante.
    Um abraço

  3. Obrigado pela recepção aqui no blog, amigo Mário. Assim dá gosto de comentar! Também porque acho o trabalho de vocês bom demais para não ser apoiado.

    Agora que comentou, notei como as resenhas tem se direcionado especialmente aos Tex Gigante. Antes não tinha notado.

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