Tex e eu

LukasPor Marcos César Lukaszewigz[1]

Em 1973 eu tinha 11 anos e era viciado em revistas da Disney. Tio Patinhas, Donald e Mickey reinavam na minha pequena cachola. Nesse ano descobri Tex, o heróis mais famoso dos quadradinhos de faroeste. O primeiro a que tive acesso foi o número 29, Os Cinco Fugitivos do Inferno, dado por um tio de Mandaguari, que também adorava revistas de banda desenhada.
Os Disney ele chamava de “Pato”. Eu ia passear na fazenda e a primeira coisa que ele perguntava era: “Marcos, você trouxe Pato?”, ou então “Comprei uns Pato essa semana, depois você leva.”. Tempo bom, esse.
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Tex WillerGamei no tal Tex. Daí foi fuçar nas bancas para comprar usados; ia lá de vez em quando, pois a família não tinha muito dinheiro para essas coisas. Se bem que o pai e a mãe sempre investiram na compra de BD’s, quando podiam.
Eu estudava com um japonezinho que morava numa fazenda nos fundos da Vila Esperança. Morava com a família e cultivavam uma horta enorme. Lembro-me que tinha até uma roda d’água – a primeira e última que vi na minha vida.

Uma vez por mês eu descia no meio do cafezal para ir até a casa do amiguinho, que comprava o Tex novinho todos os meses. Ele não coleccionava e trocava por três ou quatro revistas usadas (geralmente de super-heróis) que eu levava. Na volta, afanava algumas cenouras, vinha comendo e folheando e cheirando a revista novinha, doido para chegar em casa, deitar na calçadinha fria da lateral da casa e devorar o material. Tempo bom.

Aí, dá-lhe tio, japonezinho, banca, (um ou outro furto em banca, inclusive) e anos depois, fiz o levantamento: tinha do 1 ao 102, faltando apenas quatro exemplares intermediários entre eles. Aí ocorreu a tragédia: parece-me que a gente precisava de dinheiro urgente para não sei o quê, e eu vendi a colecção por uma ninharia na Banca Faroeste, do Cido, perto do viaduto da avenida São Paulo.
Depois disso montei uma colecção razoável da segunda edição lançada, acho, em 1976. Juntei uns 30 exemplares e depois também dei sumiço, não me lembro como e para quê.

Kit Willer, Kit Carson, Jack Tigre e Tex WillerMas o que deu vontade de chorar mesmo (depois de ter feito a burrada) foi o que aconteceu mais recentemente. Há uns oito anos comprei do Tazima, da praça Raposo Tavares, Tex do 1 ao 246 da PRIMEIRA EDIÇÃO!! A 1 Real cada e conservadíssimos.
Foi um achado e a colecção ficou num lugar de destaque na estante do meu quarto. Li e reli umas 3 vezes cada um durante uns 4 anos. Aí veio a ideia de comprar uma Playstation 2. Vendi tudo para o Robes, do alfarrabista (no Brasil, sebo) perto da Câmara Municipal (no Brasil, Prefeitura), e entrei para comprar a consola de jogos.
Aí é que entra a vontade de chorar, ou enfiar o dedo e rasgar: Dois dias após eu dar adeus aos Tex, a minha irmã liga-me dos Estados Unidos avisando que havia comprado, e já enviado o Play 2, para mim, de presente.
Quase desmaiei. Tivesse ela ligado antes, ou eu esperado mais um dia, a grande desgraça seria evitada. Pensei em devolver o dinheiro e pegar os Tex de volta, mas, negócio é negócio.
Um dia destes, conversando com o Robes, ele disse-me que encaixou a colecção e não vende por dinheiro nenhum. “Tá lá no apartamento. Aquilo é uma relíquia“.

Pior é que ele não vende e também não lê as revistas. Dá raiva só de pensar naquele MEU material todo trancado numa caixa de papelão…
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Casa do Noca[1]Texto de Marcos César Lukaszewigz apresentado no blogue Casa do Noca em 28 de Junho de 2010.
Adaptação a cargo de José Carlos Francisco.
Copyright: © 2010, Marcos César Lukaszewigz

6 Comentários

  1. Lukas é uma figuraça! Não o conhecia como cronista exímio que agora se mostra aqui. Tava camuflado. Agora deu as caras… Um baita artista, esse Lukas!

    Parabéns aos administradores do blog, pela belíssima matéria!

    abs

  2. Olá, tenho um saudosismo muito grande dos anos oitenta quando, em parte, fazia igualmente o Lukas para conseguir um exemplar e uma boa leitura, diversão garantida. Hoje tenho 43 anos tenho um filho que se chama Arthur (Rei) Willer, em homenagem ao TEX WILLER, entretanto perdi e chorei muito mais de 300 exemplares destruidos em uma catastrofe e desde então não consegui mais, ou não aguentei a perda, em recomeçar do zero. De uns dis pra cá, estou sendo tentado com revistas de um colega que está procurando, adivinha o que, revistas de Tex. E vendo está matéria, li e para ajudar o colega, pergunto quem pode ajudar a encontrar um caminho de conseguir o início, número um até trezentos e como seria este custo.

    Um abraço

  3. Olá pra todos. A história contada por Marcos César lembra um pouco o meu passado. Quando fui apresentado ao Tex tinha 10 anos nos idos de 1974. Por força do destino, algo fez com que eu me afastasse um tempo da leitura entre 1983 a 1987 mais ou menos. Essa época foi quando ingressei na faculdade e acabei tendo que me afastar. Ao término desse período, bateu uma nostalgia tão forte que comprei todos os exemplares de um sebo aqui em Vitória/ES. Muitos deles estavam danificados pelos cupins. Não teve importância. Mesmo assim comprei um lote de mais ou menos 80 revistas de uma só vez. A história é maior ainda e levaria um bom tempo para contá-la. Hoje tenho 47 anos e continuo, desde então, a cultivar o hábito de ler semanalmente esta magnífica revista. Caso alguém tenha interesse em saber mais, escreva para: arizonanevermore@hotmail.com.

  4. É isso aí… Quem tem, tem de preservar pra não se arrepender depois de ter desfeito das revistas.
    Também tenho centenas de revistas do Tex, bem conservadas.
    Não vendo, não empresto.
    É uma relíquia.

  5. Desde 1999 eu leio Tex. Já li tudo o que foi publicado no Brasil. Eu lia também Batman, Justiceiro, Liga da Justiça, Spirit, Fantasma e Wolverine, mas devido a fatores financeiros, parei de acompanhar quase todos, mas o Tex eu nunca parei de ler.
    Uma vez eu mandei uma carta para editora Mythos, cheia de sugestões para roteiros de histórias e pedi até que eles mandassem para a Bonelli se minhas ideias fossem boas. Então eu esperei a resposta ou até mesmo a publicação da minha carta como é feito com as cartas dos leitores, só que não recebi resposta. Pensei que a carta não havia chegado ao destinatário, mas algum tempo depois recebi uma resposta, porém apenas com os preços e a forma de pagamento de algumas revistas que eu havia solicitado naquela mesma carta. Depois dessa imensa desconsideração comigo, eu passei a desconsiderar também a editora, porém sem deixar de acompanhar as edições de Tex.
    Numa próxima oportunidade eu mando nesse blog as sugestões que eu havia mandado para a Mythos.
    Hasta luego!

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