SERGIO TOPPI faleceu hoje em Milão, aos 79 anos

SERGIO TOPPI

(Milão, 11 de Outubro de 1932 – Milão, 21 de Agosto de 2012).

Sergio Toppi homenageado por Bira Dantas

Por Bira Dantas, José Carlos Francisco e Júlio Schneider

Hoje, dia 21 de Agosto de 2012,  faleceu Sergio Toppi, brilhante autor de narrativas gráficas e um dos mais conceituados e apreciados autores da banda desenhada italiana.

Dorival Vitor Lopes e Sergio Toppi no 3ºFIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte em Setembro de 2003

Sergio Toppi (na foto acima ao lado do editor Dorival Vitor Lopes por ocasião do 3ºFIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em Setembro de 2003) que em Outubro faria 80 anos deixa um vazio enorme no mundo da banda desenhada e da própria cultura tanto na Itália como no resto do mundo. Refinado e elegante Sergio Toppi trabalhou com grandes editoras, inclusive a própria Sergio Bonelli Editore ao serviço da criminóloga Júlia Kendall, do agente Nick Raider da Esquadra de Homicídios de Nova York, do arqueólogo e investigador do impossível, Martin Mystère e ainda de Dylan Dog o detective do pesadelo (é de sua autoria a capa do terceiro Dylan Dog Color Fest, de 2009), criando inúmeras obras históricas e religiosas, não deixando também de homenagear o nosso Tex como se pode ver de seguida:

Tex desenhado por Sergio Toppi

Júlio Schneider relembrou assim o amigo: Sergio Toppi era uma pessoa fantástica. Eu o conheci em 2003, no FIQ-BH, quando ele veio recomendado por Sergio Bonelli (“Cuide bem do velhinho aí no Brasil”). Quando cheguei ao hotel, eu estava ansioso por conhecê-lo, e tive que me conter para não bater à porta do seu quarto, ansioso para apertar a sua mão. Acho que ele não ia gostar muito de receber alguém à meia-noite! Nós nos encontramos pela manhã, no café, quando tive a honra de me ver diante de um verdadeiro cavalheiro, simpático e humilde como só os grandes sabem ser. Ver os dois Sergios conversando era algo indescritível: apesar de há décadas serem amigos de trabalho e da vida, e terem a mesma idade, Bonelli e Toppi só se tratavam por “senhor”, numa espécie de reverência mútua.
Há poucos anos a vida reservou-me uma bela coincidência: Ivan, um amigo italiano que morava em Curitiba, resolveu voltar à sua Milão e, tempos depois, conheceu uma bela ragazza e casou-se. Num jantar em família ele foi apresentado ao tio da jovem: Toppi, ao saber que o novo sobrinho adorava BD e havia morado por aqui, perguntou-lhe se por acaso havia conhecido o Júlio! É mesmo verdade que o mundo é pequeno. No Natal Sergio Toppi presenteou-me um livro seu acompanhado de um cartão de Boas Festas desenhado de próprio punho. Um pequeno regalo que, de forma inesperada, agora ganhou um valor sentimental diferente.

Júlio Schneider e Sergio Toppi no 3ºFIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte em Setembro de 2003

Só para se ter uma ideia da grandeza de Sergio Toppi, eis o que Sergio Bonelli disse, durante a apresentação de trabalhos do artista numa galeria milanesa, há algum tempo:

Ele me garante uma espécie de passaporte internacional. Como sou um perfeito desconhecido – graças a Deus – fora do meu pequeno mundo dos fumetti, quando eu me apresento em alguma mostra dedicada aos comics (em Nova York, Buenos Aires, Barcelona ou Angoulême), basta-me uma simples declaração para suscitar o interesse e a estima dos interlocutores: “Meu nome é Sergio Bonelli, eu publico quadradinhos na Itália e sou o editor de Sergio Toppi”.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

4 Comentários

  1. Toppi sempre foi um dos meus desenhadores favoritos. Num sentido plenamente universal… a par de outros grandes que também já partiram, como Joe Kubert, Al Williamson, Gino D’Antonio e Victor De la Fuente.
    Na última fase das “Selecções BD”, tivemos oportunidade de o contactar, com a intenção de publicarmos algumas das suas criações na revista, nomeadamente a “Sharaz-de“, uma das suas obras mais experimentais, um monumento gráfico e poético que ficará na história da BD, a atestar a originalidade e o refinamento do seu estilo.
    Toppi foi de uma gentileza e modéstia a toda a prova, quase nos agradecendo pelo simples facto de nos termos lembrado dele.
    Recordo-me dos comentários entusiásticos de muitos leitores que não o conheciam, quando apreciaram pela primeira vez os seus trabalhos. Todas as reacções foram positivas, embora Toppi não fosse totalmente desconhecido em Portugal, pois já aparecera nos anos 70, em revistas como “Jacto” e “Jornal do Cuto” e, mais tarde, na série “A Descoberta do Mundo“, das Edições D.Quixote.
    Tive pena de não ter publicado a “Sharaz-de“, cujos direitos já tínhamos combinado com ele, porque a “Selecções BD” acabou de repente, levada pelo torvelinho em que caiu a Meribérica. Curiosamente, sempre mantive o sonho de poder um dia divulgar essa obra excepcional ou convencer alguém a publicá-la no nosso país. Tal não foi possível. Parece que alguns editores andam de olhos fechados…
    Sergio Toppi já está do outro lado, no mundo dos sonhos onde as noites nunca acabam, ouvindo Sharaz-de contar-lhe outras histórias que ele, com aquele jeito manso de sorrir, continuará a acalentar no seu coração. Porque o coração dos grandes artistas é eterno!

  2. Depois de Moebius, Eddy Paape e Joe Kubert, é mais um gigante da BD que parte. Este 2012 está a tornar-se um ano muito negro para a BD…
    Sergio Toppi era um dos grandes autores que a Itália deu à 9ª. Arte (ao lado de nomes como Pratt, Manara, Caprioli, D’Antonio, Crepax, Civitelli e tantos outros).
    Sergio, o Homem, partiu. Toppi, o Artista, ficou entre nós, graças à qualidade plástica da sua maravilhosa obra.
    R.I.P. Sergio Toppi.

  3. A gente acaba sendo pego de surpresa ao ouvir notícias como essa. Como assim? Os mestres não são imortais? Kubert, Giraud, Paape, Topi não íam viver para sempre? Puxa! Daqui a pouco vão falar que Foster, Raymond, Hogarth, Capp, Agostini, J.Carlos, Hergé, Buscema, Dave Stevens, Dave Cockrum, Nestor Redondo também morreram! Parem com isso! JÁ!

  4. Sem dúvida, grande Zeca, trata-se de uma grande perda para os amantes dos quadradinhos, como dizem vocês por aí. Toppi foi inovador e dono de um traço sui generis.
    Porém, deixou para o mundo um legado incomparável.
    Com certeza, está no paraíso reservado aos grandes mestres!
    Bela matéria, apesar de lamentarmos a morte dele.
    Também fiz uma matéria, uma homenagem póstuma à este grande e incomparável mestre, que também trabalhou na Bonelli Comics!
    Matéria essa que pode ser apreciada clicando AQUI!

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