Sergio Bonelli (1932-2011)

Por Pedro Cleto*

Sergio Bonelli (1932-2011)

Sergio Bonelli (1932-2011)

Sergio Bonelli, editor e argumentista de banda desenhada faleceu ontem aos 78 anos, após uma semana de hospitalização, na sequência de alguns problemas de saúde que o começaram a apoquentar em Agosto último.

Filho de Giovanni Luigi Bonelli e Tea Bonelli, natural de Milão, onde nasceu a 2 de Dezembro de 1932, aos 25 anos, concluídos os estudos, assumiu a direcção da editora criada pelos seus progenitores. Um ano depois, dava início ao labor, em paralelo, como editor conhecedor e apaixonado e argumentista culto e polifacetado, que o distinguiu ao longo de toda a vida, escrevendo, para a arte de Franco Bignotti, “Un Ragazzo nel Far West”. Era a primeira de muitas histórias escritas pelo seu punho, de onde nasceram também “Zagor” (em 1961), um western diferente com pontos de contacto com Tarzan, ou “Mister NO” (1975), um ex-piloto norte-americano auto-exilado na América do Sul, em especial no Brasil.

Os argumentos dessa época foram assinados com o pseudónimo de Guido Nolitta, para não ser confundido com o seu pai, o criador de Tex Willer, o mais antigo western da BD ainda em publicação, para quem também escreveu algumas histórias.

Sergio Bonelli

Assente em edições baratas, a preto e branco, com heróis de características populares a quem o leitor facilmente aderia, protagonistas de géneros como o western, o fantástico ou o policial, em histórias que, na senda dos grandes romances de aventura, muitas vezes tinham um fundo de realidade, desenvolveu um autêntico império editorial. Que, ainda hoje, só em Itália, vende anualmente mais de 20 milhões de exemplares de títulos como Tex, Zagor, Mágico Vento, Júlia Kendall (todas disponíveis mensalmente nos quiosques portugueses através das edições brasileiras da Mythos), Dylan Dog, Martin Mystère ou Nick Raider. E que soube adaptar às mudanças que o tempo foi impondo, sem trair as suas convicções nem as características essenciais de cada personagem, respeitando os artistas e dando-lhes liberdade criativa. O que permitiu que os heróis que edita continuem nas bancas, tendo à cabeça o “veterano” Tex Willer, a (sólida) base do seu império aos quadradinhos, cuja republicação recente, por ordem cronológica, a cores, juntamente com dois jornais italianos, prevista para 50 números, ultrapassou os 200, tendo terminado apenas porque alcançou as histórias actuais.

Sergio Bonelli

Ainda no que toca a Tex Willer, são incontornáveis os “Texone” ou “Tex Gigante”, histórias soltas ilustradas por alguns dos grandes nomes da BD mundial, como Victor de La Fuente, Guido Buzzelli, Jordi Bernet, Magnus ou Joe Kubert.

No comunicado em que a Sergio Bonelli Editore divulgou o seu falecimento, lê-se: “foi o principal artífice da passagem dos fumetti (BD italiana) de simples entretenimento popular a produto com dignidade cultural, criando ao longo da sua carreira de cinquenta anos uma das mais importantes editoras de BD no contexto italiano e mesmo mundial”, o que lhe valeu ser distinguido com o prestigiado “Ambrogino d’Oro”, concedido pela sua Milão natal, em 2008, por ter feito da cidade “a capital italiana dos quadradinhos”.

É mais um grande nome da BD que recolhe ao paraíso dos artistas dos quadradinhos, deixando órfãos as suas criações e os leitores que com elas viveram inesquecíveis aventuras.

Sergio Bonelli e as personagens da sua editora

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias e na revista In’ – distribuída as sábados com o JN e o DN), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.

7 Comentários

  1. Fui pego de surpresa com a triste noticia do falecimento desse gigante, fiquei realmente triste.
    Como eu há milhares de leitores dos personagens fantásticos desses personagens aos quais aprendemos admirá-los e tudo sob a batuta de Sergio Bonelli.
    Que de agora em diante começa a sua caminhada eterna ao lado de outros grandes como o seu pai, Galleppini, Vicenzo, Letteri e assim por diante.
    Adeus Sergio Bonelli.

  2. Que seja assim — a marcha do mundo é tal;
    Que me aconteça como a tantos outros.
    Eles partem, seu bote se despedaça,
    E ninguém pode mostrar o ponto do sumiço.
    Adeus, adeus! O sino do barco chama,
    E como demoro, o barqueiro me apressa.
    E agora, ousado, parto através de vagas, tempestades e recifes!
    Adeus! Adeus!…

    Nietzsche

  3. Se o Sergio Bonelli ocupasse somente a função de editor, seria um profissional completo, mas, foi muito além de qualquer expectativa, desfilando roteiros geniais, mestre da ação e do humor, escreveu magistralmente a melhor historia de Tex (El Muerto) e outras magnificas aventuras do ranger,com a mesma desenvoltura do pai.
    Confesso que me incomodava um pouco achar que Sergio conseguiu superar o próprio Bonelli-pai.
    Quanto ao Zagor, ainda hoje me emociona muito roteiros como: A origem de Zagor e Odisseia americana, autenticas obras geniais.
    Com Mister No ele homenageou o lugar em que foi mais feliz na vida, o Brasil.
    A sua ausência deixa uma lacuna que nunca será preenchida, no mundo das hqs.

  4. Como Gianluigi Bonelli está imortal em nosso pensamentos e nas suas obras, hoje, Guido Nolitta segue para uma viagem as pradarias celestes e deixa aqui todos nós com saudades, saudades sim, frustrados nunca…

  5. E agora se foi o Joe Kubert, aos 85 anos. Vi no jornal. O seu Tex solitário, ao gosto do leitor americano, não me agradou muito, mas os desenhos estavam muito bons e a entrevista dele neste Tex Gigante foi excelente.

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