Semanário “O Diabo” destaca o lançamento de “Patagónia” pela Polvo

Jornal Semanário “O Diabo”, de 25/08/2015
Texto da secção Viver Banda Desenhada
DUARTE BRANQUINHO

TEX NA AMÉRICA DO SUL

Semanário “O Diabo” destaca o lançamento de “Patagónia” pela Polvo

O famoso ‘cowboy’ dos ‘fumetti’ viaja até à Argentina numa aventura publicada em Portugal pela Polvo. “Patagónia” (brochado, 228 páginas, 16,99 euros), em formato “Tex Gigante”, com desenhos de Pasquale Frisenda e história de Mauro Boselli leva-nos ao pampa ao encontro de tribos índias, num cenário que nos recorda o Oeste norte-americano.

Como Zagor, Dylan Dog, Martin Mystère, entre outros heróis da banda desenhada italiana publicada pela Bonelli, Tex chegou ao nosso país por via brasileira. É por isso de saudar esta edição nacional, de elevada qualidade, trazida pela Polvo. A capa a cores esconde nas badanas pormenores enriquecedores. Dos estudos das personagens desta aventura e para possíveis capas, passando pelas biografias dos autores, a um ensaio de um ataque dos índios, diferente do que acabou por figurar na versão final, são um deleite para os aficionados.

Patagónia” abre com uma introdução, assinada pelo tradutor, José Carlos Francisco, que – agradece-se encarecidamente – não contaminou o texto com o famigerado Acordo Ortográfico. Ainda assim, deixou passar a redundância inaceitável “há cerca de uma década atrás” [sic], na página 25, e outras falhas menores que escaparam à revisão. No que respeita ao conteúdo, o texto introdutório, para além de fazer a apresentação de Tex Willer aos que não o conhecem, “um Ranger do Texas, para além de chefe dos Navajos com o nome Águia da Noite”, que “cavalga as pistas do Oeste Selvagem desde 1948”, conta-nos que a inspiração para esta história veio do próprio Sergio Bonelli, “o mítico editor de Tex”, quando viajou até à Patagónia em 1984. Por fim, revela-nos ainda uma curiosidade portuguesa, o desenhador Pasquale Frisenda é apreciador do grupo musical Madredeus e o álbum “O Espírito da Paz” foi ouvido durante a realização desta obra.

De facto, é um espírito de paz que guia esta aventura. Tex e o seu filho Kit Willer respondem ao apelo de Ricardo Mendoza, que o ‘ranger’ conheceu em tempos no México e agora é oficial do exército argentino, e zarpam para Sul para ajudar numa missão de resgate de prisioneiros feitos depois de um ataque perpetrado por índios e de punição dos culpados.

O objectivo é evitar uma oposição entre os brancos e os índios, e consequentemente o extermínio destes, até porque, segundo Mendoza, foi Tex que o “fez compreender que todos os homens são iguais, apesar das diferenças de cultura, de língua, de cor de pele”. Guiado por um princípio nobre da defesa das diferenças e da preservação da identidade dos povos, a história acaba infelizmente por cair no igualitarismo e até em ‘clichés’ do “anti-racismo” contemporâneo. Aliás, a questão racial é uma constante nesta aventura, mas o preconceito é unívoco, nomeadamente o desprezo de alguns brancos pelos mestiços ou pelos “selvagens”.

Esta conquista das terras aos índios é uma das semelhanças com o Oeste norte-americano, para além das paisagens, dos fortes, dos cavalos, entre outras. Mas há diferenças que saltam à vista, como a captura dos nandus com as boleadeiras dos gaúchos.

A aventura, de tom épico, é muito bem representada por Frisenda, que conjuga o movimento das cenas de acção com o pormenor cuidado. A sequência de combate que decorre numa zona pantanosa coberta por neblina é uma óptima prova do talento deste desenhador.

Duarte Branquinho

Para os incondicionais do Tex, esta é uma obra obrigatória, que se espera que marque o início da publicação de mais heróis dos ‘fumetti’ em Portugal.

Livro

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Copyright: © 2015, “O Diabo”; Duarte Branquinho

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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