Palestra Fabio Civitelli no Fest Comix: Como foi

Artigo originalmente publicado a 25 de Outubro de 2010, no site Impulso HQ
Por Alexandre Manoel (texto) e Gisele Marin (fotos) [1]


Antes de iniciarmos como foi a palestra do desenhador italiano Fabio Civitelli no Fest Comix, temos que dizer que a equipa do Impulso HQ teve o grande prazer de encontrá-lo um pouco antes e com a ajuda de seu tradutor José Carlos Francisco, que também é um grande fã da personagem Tex e colaborador do blogue português Tex Willer,  conversamos com Civitelli sobre a sua carreira e as novidades que ele está preparando para a personagem Tex.

O desenhador que há 25 anos desenha a personagem comentou que sabia que o cowboy tinha certa fama no Brasil e que frequenta o fórum TexBR. Civitelli disse que depois de tanto tempo desenhando Tex, hoje ele tem total segurança em seus traços, mas que no início quando Tex foi oferecido a ele pelo próprio Sergio Bonelli, ele tinha problemas em desenhar os cavalos e as paisagens do faroeste, isso porque ele não estava habituado com o estilo western. Antes de Tex, o desenhador era responsável pelo traço da personagem Mister No, um piloto amazónico.

E Civitelli comentou brincando que ele deveria ter vindo ao Brasil nessa época porque teria mais sentido e ele já conheceria a Amazónia, mas que está muito feliz com os fãs de Tex. Essa foi a primeira vez que Civitelli se deslocou ao Brasil.

O desenhador italiano adiantou para o Impulso HQ sobre três projectos que estão em andamento que envolve a personagem Tex Willer:

O primeiro é um livro com 90 ilustrações inéditas feitas por ele sobre o mundo de Tex que se chamará “Il Mio Tex”. A data de lançamento está prevista para Novembro durante o festival Lucca Comics, o mais importante evento de quadradinhos na Itália.

Já o segundo projecto o desenhador planeja levar dois anos para a sua execução, sendo prevista para 2012 com o lançamento simultâneo na Itália e no Brasil pela Mythos Editora. Trata-se de uma edição especial de Tex em formato gigante. Civitelli disse se sentir honrado com o projecto porque só grandes desenhadores receberam esse convite.

Sobre o terceiro projecto Civitelli fez mais segredo, não revelando muita coisa. Só adiantou que será um romance sobre Tex, uma espécie de autobiografia da personagem. A publicação está prevista para 2011 e terá 12 ilustrações.

Para o bate papo com o público, Fabio Civitelli fez questão que estivessem presentes à mesa o seu tradutor José Carlos Francisco e G.G. Carsan (autor do livro Tex no Brasil – O grande herói do faroeste e integrante do site TexBR) e solicitou uma salva de palmas para ambos.

Esbanjando simpatia, Civitelli falou um pouco sobre a recente fase do cowboy mais famoso dos quadradinhos, mencionou todos os autores envolvidos com a personagem no momento e que, devido à qualidade desses autores, está optimista quanto ao futuro de Tex.

O desenhador tentou explicar o fascínio que a personagem, criado pela dupla Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini, exerce em tanta gente: “Tex é uma personagem limpa num país com muitas coisas sujas, como a corrupção. Não há privilegiados no mundo de Tex, ele combate quem deve combater, independentemente de seu cargo e posição social. Acho que por isso ele é tão querido”.

Antes de abrir espaço para as perguntas do público, Civitelli disse: “É um grande prazer trabalhar noites por horas a fio em Tex, porque se estou aqui hoje é por causa do Tex”.

Em relação à plateia que assistia – e que encheu o local – era nítido a presença de um público mais maduro, a maioria acima dos 30 anos. Também foi curioso, e gratificante, notar que eram pessoas vindas de diversas cidades, como Presidente Prudente/SP, Santo André/SP, Suzano/SP e de diversos Estados, como Goiás e Paraná.

Muitas perguntas inteligentes saíram da plateia. Uma delas foi sobre se o facto das histórias de Tex passarem a ter histórias contínuas e inter-relacionadas não tornariam os enredos confusos para os novos leitores, assim como se tornaram os comics americanos. Civitelli acalmou os fãs dizendo que os acontecimentos não serão tão acentuados para a cronologia das histórias quanto os quadradinhos produzidos nos EUA.

Joe Bennett, na plateia, disse que o traço de Civitelli era muito elegante e perguntou se, por isso, o desenhador italiano já havia recebido convite, ou teria vontade, de desenhar super-heróis americanos. Civitelli respondeu que, em seu início de carreira, havia uma revista italiana que publicava BDs dos heróis da Marvel desenhadas na própria Itália e nessa revista ele desenhou duas histórias de super-heróis, uma do Homem-Aranha e outro do Quarteto Fantástico. Depois disso, começou a trabalhar na editora Bonelli e não houve mais tempo, interesse ou convites para desenhar comics.

Em relação às quedas nas vendas devido à Internet, Civitelli disse que ocorre o mesmo na Itália, “As vendas caem ano após ano, mas Tex é a personagem que melhor resiste a isso, sempre com boas vendas. Exemplo disso é um álbum colorido que fizeram e que esta superando as expectativas de vendas”.

Entretanto, o desenhador reconheceu que utilizar recursos da web, como a publicação on-line, pode ser uma solução para conquistar novos leitores e ressaltou que, independentemente do material ser impresso ou virtual, “o desenhador tem que ter um bom traço, ser detalhista e fazer um bom trabalho. Se a história vai sair no papel ou na Internet, não é função do desenhador escolher”, enfatizou.

Civitelli comentou sobre o seu processo de trabalho dizendo que é um desenhador lento que faz 15 páginas por mês e que, num álbum de 200 páginas, demora em média de 1 a 2 anos para concluir. Ressaltou ainda que Alex Raymond foi a sua grande inspiração “sobretudo, pela forma como desenhava a figura humana”, finalizou.

Houve ainda muitas manifestações de agradecimento por parte do público, visivelmente emocionado, pelos seus 25 anos de trabalho com Tex.

E uma enorme fila se formou para conseguir um autógrafo do mestre italiano ao fim de sua apresentação…

[1]Texto de Alexandre Manoel (e fotos de Gisele Marin) publicado originalmente no Site Impulso HQ em 25 de Outubro de 2010.
Adaptação a cargo de José Carlos Francisco.

Copyright: © 2010, Alexandre Manoel, Gisele Marin, Impulso HQ

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Mais uma ótima matéria sobre o que aconteceu no Fest Comix, dessa feita a palestra do Fabio Civitelli. Vim para acrescentar que a palestra foi muito bem realizada, com o mestre desenhista do Tex respondendo de forma clara, sem economizar informações. Em vários momentos, foi aberto o volume que trazia as imagens do futuro Tex Gigante 2012, para exemplicar a sua técnica, como é possivel apreciar no livro O Oeste Segundo Civitelli.
    Vim também para registrar que na platéia estavam Marcos Maldonado e Dolores, sua esposa, letristas de Tex há décadas; estava lá o Paulo Guanaes, tradutor em várias editoras que passaram pelo Tex; estava lá o Levi Trindade, editor da DC Comics; o Sidney Gusman, jornalista, chefe do Universo HQ, atualmente trabalhando com Maurício de Sousa, o Joe Bennet, desenhista que trabalha com/para a Marvel; o Tony Fernandes, autor de Apache e tantas outras HQs nacionais; entre tantos colecionadores e fãs do Tex.
    Enaltecer a ajuda voluntária do pard João Rios, de Sampaulo, que ficou de um lado para outro, levando o microfone sem fio, durante as perguntas ao desenhista.
    E citar alguns que fizeram perguntas ao mestre: Vander Dissenha, João Cunha, Ary Canabarro, Joe Bennet, Mario Latino, Edson de Paula, etc.
    Abraço a todos,
    G.G.Carsan

  2. Zeca,

    Muito boa a iniciativa de publicar este resumo da palestra do grande mestre Civitelli.

    A lamentar apenas que tenha sido apenas um rápido resumo, e que a palestra não tenha sido gravada na integra para uma posterior tradução e publicação. Assim, os que não tiveram o privilégio de acompanhar ao vivo, teriam a chance de conhecer o pensamento deste monstro sagrado da nona arte.

    De qualquer maneira, mesmo que resumidamente, ficam o pensamento de Civitelli para seus fãs, que transcendem até mesmo os fãs de Tex.

    Grande abraço

    Alvarez

  3. Eu tive oportunidade de ouvir pessoalmente, narrada pelo próprio Civitelli a mim, a história dos mencionados projetos, e a ansiedade por conferi-los só era ultrapassada pela empolgação do próprio artista ao descrever esses novos trabalhos!

    Alvarez tocou num ponto interessante, a palestra não foi gravada?

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