O 25º Texone (Tex Gigante) visto pelo seu argumentista: Gianfranco Manfredi

O blogue do Tex apresenta na nossa língua, uma interessante entrevista feita recentemente pela Sergio Bonelli Editore no seu site, ao argumentista Gianfranco Manfredi que teve o privilégio de ser o escritor do 25º Tex Gigante

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Na sua terceira prova com o Ranger, Gianfranco Manfredi confecciona as 224 páginas de aventura contidas no vigésimo quinto Texone (Tex Gigante), à venda nos quiosques italianos a partir de 21 de Junho. Ilustrado por um convidado de excepção, o argentino Carlos Gomez! O traço vigoroso do desenhador, que durante anos acompanhou as histórias de “Dago“, apresenta ao leitor um Tex particularmente dinâmico e vigoroso, adaptado ao conto tecido pelo escritor que por anos orquestrou as aventuras de Mágico Vento. Aproveitando uma visita à redacção Bonelliana por parte do próprio Manfredi foram postas algumas perguntas sobre o conteúdo e o trabalho de “Verso l’Oregon” (Rumo a Oregon) e pedido para que nos oferecesse uma antevisão  do que se poderá encontrar neste 25º Tex Gigante.

Depois de um Maxi Tex (Tex Anual no Brasil) e de uma história dupla publicada na série mensal, esta é a sua terceira abordagem a Tex. Como tem maturado a sua relação com a personagem criada por G. L. Bonelli, no decurso destas três aventuras?
O meu relacionamento com Tex, mais ou menos, é sempre o mesmo: nunca quis, desde o início, fazer mudanças interpretativas, nem jamais pretendi (porque julgo ser uma abordagem errada) adaptá-lo às minhas cordas. O primeiro dever de um argumentista é respeitar a personagem nas suas características. Claro, com uma personagem que superou sessenta anos de vida têm-se à disposição uma série de variantes. Então, eu tentei esquecer a sua idade (porque hoje em dia pode-se dizer que Tex é eterno) e conferir maior energia e acção às histórias. Por acção não entendo tiroteios prolongados e essencialmente estatísticos, mas acção em movimento que é baseada em elementos dinâmicos. Esta escolha não é possível em todas as ocasiões, depende muitíssimo da qualidade dos desenhadores. Assim sendo, o meu problema não considero ser o relacionamento com Tex, mas a sintonia com os desenhadores. No caso de Gomez foi surpreendente, mesmo para mim. No caso de Giovanni Ticci, tinha dentro de mim o desejo de escrever uma história para ele desde há muito tempo (vê-la-ão publicada nas edições italianas de Julho e Agosto), porque entre os desenhadores do Ranger, eu acho que seja aquele que soube ao longo dos anos realçar melhor os elementos dinâmicos da história. Depois disso, o juízo será obviamente dos leitores.


Quando começou a escrever “Verso l’Oregon“, já sabia que a história seria desenhada por Gomez? Como foi o seu relacionamento com o desenhador argentino?
Sim, eu sabia que estava a escrever esta história para ele e aconteceu assim também no caso de Ticci. A diferença foi que o autor italiano eu já o conhecia, enquanto Gomez por sua vez fazia a sua estreia como desenhador de Tex e por isso tive que aprender a conhecê-lo. Bastaram-me apenas as primeiras páginas realizadas por ele para compreender que tínhamos um entendimento espontâneo e assim iniciou-se uma espécie de competição: escrevia-lhe situações muito espectaculares e dificílimas de representar, e ele cada vez não só não ficava para trás, mas rendi-as ao máximo, melhorando-as muito mais além do que as minhas instruções. Em suma, creio que tenhamos conseguido incentivar-nos um ao outro e assim considero ter sido uma experiência da qual estou muito satisfeito.


Folheando as páginas deste Tex Gigante, sobressaem as ambientações (a pista rumo a Oregon e a própria cidade de Oregon), mas também as tantas personagens que desempenham um papel importante no enredo. Sem antecipar demais, fale-nos dos elementos que compõem esta sua história.
Duas coisas muito importantes no meu modo de escrever uma história são: o cuidado extremo com os ambientes (que escolho um por um, documentando-me normalmente com fotos dos lugares, para depois escrever sobre a base das “localizações”) e a atenção prestada às personagens periféricas, todas muito caracterizadas. Por exemplo, nesta história, Tex e Carson escoltam uma caravana de mulheres, e era importantíssimo que cada uma delas tivesse uma personalidade própria. Se fossem desenhadas todas iguais ou num modo padronizado, a história desmoronar-se-ia. Gomez fez um trabalho estupendo: e nisto não há documentação, porque as personagens são inventadas graficamente, com base nas suas características psicológicas, não se pode recorrer à habitual galeria de rostos de actores, caso contrário corre-se o risco de reduzir a história a um museu de cera. O último elemento que eu acho interessante nesta história é a personagem do vilão, que é um jovem psicopático, perigoso porque é inseguro, frágil, medroso, que de certa forma nos dá pena. Um desafio particularmente difícil para Tex, já que para um herói como ele é mais fácil enfrentar os vilões clássicos, sem máscaras. Porém não creio ter-me desviado muito da trajectória, porque muitos dos vilões criados por Gianluigi Bonelli tinham características trágicas, psicologias inquietantes e destinos terríveis desde o nascimento. Eu penso que o vilão não deva ser demasiado “cómodo” para o herói. É de resto um tema clássico de filmes de faroeste que o Justiceiro seja frequentemente confrontado por um malvado que é igualmente um verdadeiro “desesperado”.


Quais foram, nesta ocasião, as suas principais fontes de inspiração, tanto históricas como literárias?
Quando escrevo Tex, a minha fonte principal é o próprio Tex. No máximo, para superar os momentos de cansaço, refresco-me revendo algum filme com John Wayne. A História Americana usei-a muito como estímulo, na minha série Mágico Vento, mas em Tex uso-a muito mais levemente porque o Ranger não vive na História, mas no Mito. A literatura, então, não conta, também porque os grandes romances western de Zane Grey e de Louis L’Amour não existem mais e escritores de western mais modernos como Leonard ou McCarthy não são bons para Tex porque são muito “ferozes” e não prevêem Heróis clássicos no centro da trama.

E agora? Os leitores de Tex o reverão em breve às voltas com Águia da Noite?
À parte as já citadas edições a publicar neste Verão, não sei, já que no presente estou empenhado em terminar a minha nova série “chinesa” Shanghai Devil. Alguns enredos para Tex eu tenho, mas como disse dependerá também (e muito) dos desenhadores livres. Se escrevo uma história minha, isto é idealizada por mim, a partir do protagonista, posso também adaptar-me no âmbito de uma série a colaborar com algum desenhador com quem não tenha um entendimento perfeito, porque conta o trabalho da dupla e o percurso narrativo global. Mas Tex é um clássico, é seguido por um público muito vasto, escrevo uma história de vez em quando e gostaria que as poucas edições escritas por mim se fizessem apreciar. Além disso, as histórias de Tex são em geral muito mais longas. Não me sentiria bem para enfrentar o desafio sem ter a meu lado um “pard” em quem eu possa confiar cegamente. Não é uma questão de ser competente ou menos competente. Se um desenhador não é bom, dificilmente chega a Tex. É uma questão de sintonia entre quem escreve e quem desenha. Se o desempenho não me convence, se com determinado estilo não consigo identificar-me, arriscaria a escrever uma história pouco convincente…

Entrevista com Gianfranco Manfredi apresentada no sítio da Sergio Bonelli Editore em 21 de Maio de 2011.
Tradução e adaptação a cargo de José Carlos Francisco.
Copyright: © 2011, Sergio Bonelli Editore S.p.A.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

6 Comentários

  1. Excelente entrevista com um grande argumentista, agora também ao serviço de Tex e que certamente dará um contributo extraordinário à série.
    Quando é que nós, leitores portugueses, teremos a oportunidade (e o prazer) de desfrutar este novo Tex Gigante? Só daqui a muitos meses… e a expectativa vai tornar-se muito grande, não só por causa do trabalho de Manfredi (que talvez se tenha inspirado, quem sabe, num “western” dos anos 50, com Robert Taylor, intitulado “Caravana de Mulheres“), mas também porque na série se estreia um dos mais talentosos desenhadores do momento: Carlos Gomez.
    Já vi um dos seus trabalhos em “Dago” e fiquei absolutamente rendido ao seu estilo perfeccionista e à sua extraordinária técnica, que, pelas páginas que ilustram a entrevista, não deve ser menos espectacular nesta aventura de Tex.
    Com artistas deste quilate, que a Sergio Bonelli Editore capricha em incluir na sua já vasta e prestigiosa equipa (como se fosse um imã que atraísse os melhores desenhadores de todo o mundo!) o futuro do nosso Ranger está assegurado.
    E quão felizardos somos, nós os fãs de Tex e do “western“, por podermos continuar a apreciar bons desenhos e argumentos bem escritos e bem construídos que dignificam, tanto uns como outros, a Banda Desenhada dita popular!

  2. Zecão, o seu italiano está a ficar cada melhor, parabéns, caro Amigo!!!

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

  3. Só aquele painel com o Kit Carson já vale uma revista inteira. Estou ansioso para lê-la!

  4. Olá dilecto pard e Amigo Sílvio.

    Obrigado pelas suas palavras, mas não publiquei neste post nada meu escrito em italiano, logo não dá para atestar que o meu italiano esteja melhor… agora o português é que parece estar bom 🙂

    P.S. – Obviamente que estou brincando 😉

  5. Um Tex com traços bem diferente do usual, bem mais jovem, embora o Carson esteja sensacional

  6. Está com cara de ser uma ótima história, a região que eu mais gosto dos EUA é o norte do país e o Oregon é o meu Estado favorito, então com certeza vou curtir essa aventura, os desenhos do Carlos Gomez são muito bons!!!

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