Minissérie Especial de Tex: O Veneno do Cobra

O Veneno do Cobra - Parte 1Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Guglielmo Letteri com a colaboração de Raffaele Della Monica e capas de Claudio Villa.
Com o título original Il veleno del cobra, a história foi publicada em Itália no Maxi Tex 2006 e no Brasil pela Mythos Editora na 3ª minissérie de Tex, em duas edições.

No Nevada, perto de Virgínia City e, quando se encontravam a caminho de S. Francisco, Tex e Carson são surpreendidos por uma perseguição que um grupo armado faz a um conjunto de chineses. Estes transportam o ouro extraído de uma sua mina e que pretendiam levar para o comboio com destino a S. Francisco.

A seita chinesa do Loto Verde, chefiada pelo misterioso Cobra, oferece protecção a todos os que pagam por isso, o que não acontece com o pequeno grupo de mineiros, ultimamente vítimas de perseguições e chantagens. Tex e Carson, fazem uma interrupção na sua viagem e decidem ajudar o grupo.

Arte de Guglielmo LetteriA primeira impressão deixada pela aventura é a de um regresso ao passado. Ao passado da série, se nos lembrarmos de “Chinatown”, mítica e excelente aventura escrita pelo saudoso G.L. Bonelli e também desenhada por Letteri. De certa forma a magia opera na primeira parte desta história escrita por Nizzi, não diremos a mesma magia ou a mesma atracção que sentimos ao ler “Chinatown”, mas quando Nizzi utiliza os mesmos chineses, com as suas seitas, as suas tradições ou os seus códigos milenares, é no passado bonelliano que mergulhamos.

Tex de Guglielmo LetteriSem pretendermos entrar em comparações, até porque não é só o tempo que é outro, é também um estilo, esta aventura acaba por seduzir até certo ponto. Ou seja, enquanto a trama se vai desenvolvendo, enquanto vamos conhecendo as personagens, enquanto não dispomos da ideia que Nizzi pretende para a aventura, mantemo-nos suspensos a meio caminho entre o revivalismo de aventuras e ambientes conhecidos e o novo tempo, o do Tex nizziano que, actualmente, pouco tem de bonelliano. Por outras palavras, enquanto a magia e a sedução dos ambientes chineses vai operando, a leitura avança fluida e ritmada, mas chegados a um ponto, o da perseguição ao Cobra, dá-se o corte com esse passado tão saudoso e acabamos por regressar ao presente, a um tempo onde Tex limita-se a seguir pistas e a juntar detalhes e, durante toda a aventura, acaba por nunca enfrentar directamente o seu inimigo.

O Veneno do Cobra - Parte 2Mais atentos podemos afirmar que Nizz foi buscar ao passado ambientes e personagens bonellianas, com a eventual pretensão de conferir uma qualidade que tem andado tão arredia dos seus argumentos. Mas o que foi um artifício revelou-se também ser uma armadilha, porque Nizzi esqueceu a dimensão psicológica ou a estrutura dramática bonelliana. Nizzi abusa em certas passagens de diálogos superfulos, de cenas por demais batidas, tornando, por exemplo, a parte central da aventura muito fastidiosa. Bem vistas as coisas, cada um como cada qual e Nizzi, antes de ser bonelliano, só tem que regressar a um tempo preciso, ao tempo em que foi escolhido para substituir o mestre.

Esta aventura também guardava natural curiosidade pelo facto de se tratar do último trabalho de Letteri, que aliás o autor não chegou a terminar, devido ao seu falecimento, sendo substituído pelo competente Della Mónica. Sem pretender elogiar o trabalho de Letteri, até porque nunca foi, a meu ver, um desenhador dinâmico, importa mais prestar a justa homenagem a quem, antes do mais, foi um desenhador competente e esforçado, que emprestou à figura texiana uma fisionomia muito própria. Letteri foi também um desenhador que se especializou mais em determinados ambientes (mexicanos ou fantásticos) e que sempre se manteve fiel à personagem que ajudou a desenvolver.

Tex, Carson e os chinesesNos últimos tempos, com o decorrer da sua idade, o traço de Letteri interpretava e ampliava já as imperfeições que sempre lhe testemunhámos, como planos repetidos, falhas fisionómicas e uma visão pouco actual do dinamismo da 9ª Arte. No entanto, esta notória decadência que o autor vinha evidenciando acaba por não ser tão acentuada neste seu último trabalho, talvez pelo facto de Letteri sempre se ter sentido mais à vontade nestes cenários urbanos e com este tipo de personagens. Se mais não sirva, no fundo esta aventura acaba por ser a homenagem possível a um competente artista.

Texto de Mário João Marques

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