José Carlos Francisco entrevistado por F. Cleto e Pina

Entrevista conduzida por Pedro Cleto *

BiblioTEX 12– Porquê Tex?
José Carlos Francisco: Desde que me conheço que gosto de banda desenhada, inclusive posso dizer que nasci praticamente no meio dela. Das mais remotas lembranças que tenho é a de ler na livraria da minha mãe, ainda em Moçambique, revistas Disney. Ao longo dos anos a bd esteve sempre presente na minha vida, fosse no início com Astérix, Lucky Luke ou Tintin, fosse mais tarde com O Mundo de Aventuras, O Falcão, Condor, Tarzan e tantas outras revistas e personagens, mas quando conheci Tex, algo de extraordinário aconteceu, foi como se uma paixão arrebatadora se tratasse, o exemplo vivo de amor à primeira vista e de imediato me vi envolvido no mito da personagem criada há mais de 60 anos por Gian Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenho).
Isto porque quem lê Tex não consegue ficar indiferente ao ranger, porque de certo modo ele é real, já que nos podemos rever nos seus princípios, nos seus actos e na sua coragem, sempre em prol da justiça.
Para além de tudo isto, há que destacar a excelência da produção. Tex é uma série excepcional pelos seus longos enredos, muitos deles permeados de factos e personagens históricas e que sempre teve magníficos desenhadores.

BiblioTEX 10– Como começou a sua colecção Tex?
José Carlos Francisco: A minha colecção de Tex começou em 1980, já em Portugal, mas de um modo bastante inusitado, já que foi ao ajudar os meus avós no decurso de uma mudança de residência, que durante as limpezas do sótão da habitação, descobri uma caixa com muitas revistas de bd e entre elas, estava um único exemplar de Tex, que depois de lido, me cativou de imediato, tanto que logo nesse mesmo dia fui à procura de edições anteriores e passei a comprar todas as edições que iam sendo distribuídas e eis-me aqui passados quase 30 anos a falar desse momento inolvidável e desta paixão, que aumenta a cada nova história!

– Quantos livros + revistas Tex tem?
BiblioTEX 15José Carlos Francisco: Somando as duas principais colecções completas das Tex brasileira e italiana e álbuns em 22 outras línguas, tenho mais de 1200 edições de Tex. Há ainda a acrescentar cerca de 1000 livros e revistas de várias outras colecções e novas séries de Tex que têm surgido nos últimos anos, tanto italianas como brasileiras e ainda um festival de edições especiais e extras, de vários tipos, formatos e países, totalizando um valor a rondar as 2300 edições.

– Que outros objectos tem?
José Carlos Francisco: O que começou por ser apenas uma colecção de bd, passou a ser uma colecção de todo e qualquer objecto que tenha a ver com Tex, por isso para além das edições de papel, adquiri ao longo dos anos e com a ajuda de amigos admiradores de Tex que tenho espalhados por vários países, uma vasta gama de outro tipo de objectos que vão desde camisolas a estatuetas de personagens do mundo de Tex, passando por pósters, puzzles, selos, postais, diários, cadernos escolares, catálogos, quadros, medalhas, porta-chaves, cromos e até o DVD do filme “Tex e O Senhor dos Abismos” (nas versões italiana e brasileira) faz parte do meu acervo, assim como um maço de cigarros que foi posto à venda no Brasil sem autorização da casa Bonelli e que por isso mesmo veio a ser retirado do mercado por ordem judicial, tornando-se hoje em dia num item raríssimo.

BiblioTEX 4– Qual o seu bem Tex mais precioso?
José Carlos Francisco: São vários os itens pelos quais tenho um carinho muito especial, alguns dos quais são igualmente muito preciosos, até por serem peças únicas, como são por exemplo os casos dos inúmeros desenhos originais que tenho recebido de muitos desenhadores do staff de Tex, já que foram feitos propositadamente para mim, ou uma caneta de nanquim autografada, com a qual Marcos Maldonado legendou, durante décadas, muitas edições brasileiras de Tex. Mas talvez os bens mais valiosos sejam o argumento original do recente Tex GigantePatagónia” ou as 220 páginas originais do roteiro completo da história “Terre maledette”, escrita por Mauro Boselli e desenhada por Alfonso Font, não esquecendo uma prancha original de Claudio Villa. No quesito livros, destaco um luxuoso e raríssimo livro italiano de Tex que me foi presenteado por 4 amigos italianos e que custou umas largas centenas de Euros.

BiblioTEX 6– Qual o que mais custou a conseguir?
José Carlos Francisco: Aquilo que mais me custou a conseguir e a qual procurei durante diversos anos, até porque era a última peça para finalizar a colecção, foi a edição brasileira nº 1 de Tex, que há cerca de uma dezena de anos já me custou 100 dólares. Recordo que naquele tempo ainda não existia o Euro e eu não coleccionava a edição italiana do Ranger.

– O que lhe falta ainda?
José Carlos Francisco: Ainda continuo a ter o sonho de um dia possuir na minha colecção o nº 1 original de Tex italiano em tiras, de Setembro de 1948. É um sonho quase impossível de se tornar realidade, mas como no quesito Tex, todos os meus sonhos se têm tornado realidade, quem sabe se um dia esta preciosidade não vem parar também a Portugal?

BiblioTEX 1– O que queria mais ter?
José Carlos Francisco: Depois de ter um roteiro completo de Tex na minha colecção, gostaria muito de um dia vir a ter também a totalidade das pranchas originais de uma história do Ranger. É outro objectivo quase impossível de ser conseguido, mas como tenho a ambição de criar em Portugal um Museu dedicado ao Tex, tenho a esperança de que no futuro, um dos vários desenhadores de Tex que me honram com a sua amizade, faça essa doação e engrandeça desse modo, ainda mais a minha, já de si grandiosa, colecção.

– Tem a colecção ordenada/desordenada? Como?
José Carlos Francisco: A minha colecção de Tex, está devidamente organizada em estantes apropriadas que mandei confeccionar por medida e está separada em duas vertentes, cada uma delas num cómodo diferente da casa. Num dos cómodos, situado logo à entrada, portanto visível a todos que entrem na minha casa, tenho a secção brasileira, onde está exposto tudo o que possuo oriundo do Brasil, desde a colecção principal e mais antiga, à mais recente, assim como diversos objectos.
BiblioTEX 2Num segundo cómodo, mais no interior da casa, tenho a secção internacional, com predominância para a colecção italiana, mas onde também estão expostas todas as edições internacionais que possuo, assim como as dezenas de estátuas de Tex e demais personagens do mundo do Ranger.
Para além destes dois cómodos, tenho espalhado por inúmeras paredes da casa, diversos desenhos e pósteres devidamente emoldurados que dão a sensação de estarmos numa galeria de arte e não numa residência habitacional.

BiblioTEX 5– É o maior coleccionador do mundo de Tex? Se não, quem é?
José Carlos Francisco: Por tudo o que possuo de Tex, muitos consideram-me um dos maiores coleccionadores do mundo, mas não me atrevo a considerar-me o maior, porque há pelo menos dois outros grandes coleccionadores que conheço pessoalmente e que também são proprietários de duas colecções verdadeiramente grandiosas e valiosas: Júlio Schneider do Brasil e Enzo Pedroni de Itália.
BiblioTEX 17Júlio, advogado de profissão, sendo também tradutor de Tex no Brasil, colecciona Tex desde o primeiro número brasileiro, editado em 1971, sem ter perdido uma única edição que tenha saído no Brasil, de todos os tamanhos e formatos, ou seja tem tudo o que foi publicado de 1971 até aos nossos dias, tendo também toda a colecção italiana, assim como diversas edições dos mais variados países onde Tex foi publicado, para além de diversas edições especiais, algumas das quais, contando inclusive com a sua participação, como aconteceu por exemplo na edição portuguesa de Tex, pois a fama de Júlio Schneider ultrapassa as fronteiras brasileiras, tendo sido citado em diversas publicações estrangeiras.
BiblioTEX 3Já o Enzo, possui tudo, mas literalmente tudo o que foi publicado de Tex na Itália, de Setembro de 1948 até hoje, sendo sem dúvida alguma o maior coleccionador italiano de Tex e automaticamente um dos maiores do mundo, mesmo não coleccionando edições internacionais da mítica personagem italiana!

– Tem alguma história curiosa sobre a sua colecção?
José Carlos Francisco: Nestes 30 anos de coleccionador, há muitas histórias curiosas para contar, mas destaco uma que tem mais a ver com a BiblioTex em si do que com a colecção em particular.
BiblioTEX 16Aquando de uma recente visita Pascal, tradição que ainda hoje se mantém por estas bandas, o sacerdote ao entrar em minha casa e ao deparar-se logo à entrada com a minha colecção de Tex, parou durante alguns segundos observando detalhadamente a BiblioTex, enquanto a família estava toda reunida na sala à espera de beijar o compasso, e mostrando-se admirado com o que via, confidenciou-me que já tinha estado em muitos santuários, mas nunca tinha visto um santuário do género, reforçando novamente a admiração no final da visita, dando-me os parabéns pelo santuário Texiano, nome pela qual passou a ser conhecida depois desse dia a minha biblioteca. Para além desta história, há muitas de teor não muito diferente, sempre de pessoas que me visitam pela primeira vez e que ficam admiradas ao ver uma casa de habitação transformada em galeria de arte e muitas dessas pessoas acabam até por perguntar à minha esposa como é que ela consente a maluquice do marido (…risos…)

Na biblioteca de...– Para além de Tex, que mais há na sua biblioteca?
José Carlos Francisco: A minha biblioteca é quase na totalidade exclusiva de Tex, embora acabem por estar presentes outras personagens da casa Bonelli, como por exemplo Mágico Vento, Zagor, Dylan Dog, Nick Raider, Júlia e Mister No, mas também algumas das denominadas séries franco-belgas, das quais destaco Tenente Blueberry, Astérix ou Michel Vaillant, isto porque o espaço já não abunda e as milhares de edições Disney e dos super-heróis da Marvel e DC que ainda possuo, estão em casa dos meus pais.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Pedro Cleto

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*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias e na revista In’ – distribuída as sábados com o JN e o DN), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.

12 Comentários

  1. Parabens Zeca! Isto é que é um verdadeiro colecionador, um verdadeiro amante da arte BD. Espero que continues sempre colecionando e consigas o tão sonhado museu de Tex. Um forte abraço. Apropósito obrigado pela foto com a camisa da ExpoTex de Afogados da Ingazeira (PE), é uma grande honra vê-la vestindo o nosso grande “Chefe”

  2. Valeu Pard Zeca,nós sentimos honrado pela sua dedicação e paixão pelo nosso Ranger. Colecionador e representante mor que cada dia nos faz querer aprender mais sobre o nosso herói de papel e continuar nossa coleção com mais empenho e dedicação. Agradecemos e voce é nosso espelho.

  3. Parabéns! Grande Pard e Amigo Zeca!!

    Graças a colecionadores e amantes das Histórias em quadrinhos do nosso herói como você, é que Tex nunca irá morrer, estará sempre vivo na imaginação de milhares de pessoas espalhadas pelo Mundo.

  4. Espectacular entrevista do Zeca, que tem um coração do tamanho do mundo, uma família maravilhosa e é um grande Amigo! Parabéns Zeca. Um abraço.
    Orlando Santos Silva

  5. Parabéns por mais esta bela entrevista, Zeca. Seu conhecimento e amor pelo ranger são impressionantes.
    Sua dedicação emociona.

    Abraço.

    Eduardo

  6. Obrigado pelos vossos parabéns mas sobretudo pelas vossas palavras referentes à entrevista, dilectos pards e Amigos, mas o conhecimento e a dedicação ao Ranger, são consequência sobretudo da muita paixão e dedicação de muitos Amigos comuns que tenho aqui no blogue do Tex (não vou citar nomes para não correr o risco de me esquecer de alguém, mas vocês são alguns deles) e que também me inspiram a fazer mais e melhor em prol do Ranger… é que quando nos juntamos aos bons, temos tudo para ser como vocês 😉

  7. Parabéns amigo

    Li muitas entrevistas neste blog, de muitos coleccionadores, mas tenho que admitir uma coisa:

    Esta é “A Entrevista”!

  8. Realmente, o grande Zeca se destaca entre toda a nação texiana, e pra todos nós é um orgulho ter um “representante” como você, Zeca.

  9. Olá
    Tenho mais de 100 livros BD Tex, Chet, Chacal, Histórias do faroeste,
    Scorpio, Ken Parker, Akim (nº 1 ) e gostaria de saber se me podem informar algum site onde possa saber se alguém está interessado na aquisição destes livros que juntei desde 1975.
    Obrigado
    Carlos Grilo ( cgrilo1@apo.pt )

  10. Olá Carlos.
    Tentei entrar em contacto consigo através do mail indicado mas deu erro. Agradecia que entrasse em contacto através do mail: sergiosousa1367@hotmail.com
    Envie a listagem das revistas que possui para venda, estado de conservação e preços juntamente com algumas fotos.
    Obrigado,
    Sérgio Sousa

  11. Impressionante saber também da magnitude das coleções de Júlio Schneider (que já conhecia das edições brasileiras) e de Enzo Pedroni. Ah, essas miniaturas da tua coleção são muito legais, até o sacerdote ficou boquiaberto! Elas são importadas da Itália?

    • Amigo João Guerreiro,
      Júlio Schneider cuja colecção já tive o privilégio de visitar e o Enzo (que tenho o prazer de conhecer pessoalmente) são sem a menor dúvida, dois dos maiores coleccionadores de Tex a nível mundial 🙂

      Quanto à sua questão, as 40 miniaturas do mundo de Tex, vieram de Itália, mas para você saber mais sobre esta fantástica colecção que trazia inclusive fascículos a acompanhar as miniaturas, acesse o nosso blogue do Tex em https://texwillerblog.com/?p=23971 e poderá ver muitas das miniaturas mais pormenorizadamente 😉

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