GIOVANNI TICCI: 50 ANOS AO SERVIÇO DO HERÓI

Por Saverio Ceri

O primeiro volume da última série de Tex no formato striscia (formato talão de cheques), a trigésima sexta, baptizada Série Rodeo, está datado de 30 de Janeiro de 1967, há exactos 50 anos.

Há exactos 50 anos nos quiosques italianos comparecia esta edição de Tex

Naquele volume os leitores de Águia da Noite conheciam um novo desenhador destinado a tornar-se no mais longevo colaborador da série Tex, visto que ninguém como ele pôde festejar as “bodas de ouro” com o Ranger criado por G.L. Bonelli. Estamos a falar, obviamente, do grande Giovanni Ticci, que já dez anos antes, ainda muito jovem, tinha feito a sua estreia na Casa Bonelli, nas fileiras do estúdio Dami que para o editor da Via Buonarroti realizava as aventuras de La pattaglia dei bufali. Entre 1958 e 1963, colaborando com Franco Bignotti, emprestou o seu lápis a Un ragazzo nel Far-West o primeiro grande personagem de Guido Nolitta, aliás Sergio Bonelli; com a conclusão das aventuras de Tim Carter, começou a desenhar Judok, personagem de ficção científica com textos de G.L.Bonelli, o seu primeiro personagem a solo, enquanto ao mesmo tempo se encontrava empenhado dia e noite a colaborar com Alberto Giolitti para as séries norte-americanas da Dell e não só. O trabalho para Judok prossegue tão lentamente que o personagem só verá as luzes do dia apenas em 1968, somente por um álbum, e completado por outros.  Bonelli dá porém uma outra chance àquele jovem talentoso, e desta vez, Ticci não deixou escapar a oportunidade e foi assim, que há exactos 50 anos, estreou-se nas páginas de Tex com a mítica história conhecida como Vendetta indiana (Vingança de índia), e desde esse dia Ticci nunca mais deixou de desenhar as aventuras de Águia da Noite e dos seus pards.

Giovanni Ticci festeja neste 2017 os seus 50 anos com Tex

Nesta nossa rubrica aperiódica, desta vez vamos ocupar-nos da produção ticciana para o ranger bonelliano: São 7634,33 as páginas oficiais de Giovanni Ticci para Tex, onde aqueles 0,33 devem-se precisamente ao facto da sua primeira aventura ter sido publicada no formato striscia e não nas habituais páginas do presente, mas ao mesmo tempo representa para o ilustrador um motivo de orgulho, por ter feito parte, mesmo que por poucos meses, daquela época mítica de Tex e da banda desenhada italiana no geral. A estas páginas, devem acrescentar-se outras 33, realizadas fora dos confins bonellianos, para seis aventuras curtas ou mesmo muito curtas, das quais uma, Tex Winner, no limite do apócrifo,  escrita por um tal Ondina (??), para festejar a vitória do Palio di Siena (corrida de cavalos na Piazza del Campo, no centro da cidade italiana de Siena que ocorre nos dias 2 de Julho e 16 de Agosto, desde o século XVII, em honra a “Nossa SeCampo”) de  2 de Julho de 1995 por parte da contrada (bairros de três regiões da cidade, que são escolhidos por sorteio) da Onda.

A Revista Comic Art 96, de Outubro de 1992, contém uma das histórias curtas extra bonellianas de Tex – Capa de Ticci

Além disso tem que se atribuir a Ticci algumas capas, como por exemplo a do sétimo Tex Gigante que o viu desenhar, como tradicionalmente, também as páginas internas, bem como uma dúzia de volumes da Mondadori, as 30 capas da Collezione Storica a Colori Série Gold do La Repubblica, e una miríade de capas para revistas (Comic Art 96 ou Dime Press 2 por exemplo), volumes ou iniciativas texianas.

Ilustração de Giovanni Ticci utilizada como capa do segundo número de Dime Press de Setembro de 1992

Até à data são 35 as histórias bonellianas de Tex em que Ticci “emprestou” o seu lápis, três delas assinadas a quatro mãos (duas com Giolitti e uma com Monti). Precisamente La strage di Red Hill (Tex italiano 431/435), aventura em que Ticci completou o trabalho iniciado por Giolitti após a morte deste último é a história mais longa, 461 páginas, em que colaborou o desenhador senês. A mais longa em solitária é por sua vez Terra Promessa (Tex italiano 146/149) de 375 páginas. Para encontrar as mais curtas é necessário sair do recinto Bonelli, e encontrar duas mini-histórias de apenas uma página, ambas escritas por Claudio Nizzi e publicadas em 2004 no livro Il riposo del guerriero da Hazard.

O Tex de Ticci

Seis são os escritores que escreveram aventuras de Águia da Noite ilustradas por Giovanni Ticci. O pard mais assíduo do desenhador senês foi Gianluigi Bonelli que escreveu para ele 14 histórias, contra as 12 de Claudio Nizzi; o criador de Tex também prevalece no número de páginas escritas para Ticci: 2784,33. Se sairmos da editora Bonelli, escreveram histórias curtas de Tex para Ticci os suspeitos do costume, Nolitta e Nizzi, mas também um par de escritores surpresa: Graziano Romani, ele que em 1995 foi o “cantor misterioso” da canção Christmas with the yours, e o “escritor misterioso”: Ondina que também naquele Outono de 1995 assinou o já citado episódio de Tex Winner.

No livreto incluído no disco de Graziano Romani “My name is Tex” encontramos uma breve aventura desenhada por Ticci, com textos do próprio Romani, onde Águia da Noite encontra Guitar Jim, um dos personagens da saga de Zagor

Segue-se a lista dos argumentistas que escreveram para Ticci classificados pela ordem de páginas desenhadas pelo ilustrador:


A média de páginas anuais de Ticci para Tex é de quase 153; o seu ano mais produtivo foi em 1990 com a publicação de 374 páginas; a sua mais constante presença nos quiosques italianos registou-se entre 1969 e 1978, dez anos consecutivos de publicação, enquanto a década mais rica no número de páginas publicadas foram os anos 80 do século passado com a publicação de 2084 páginas do desenhador toscano. A maior ausência das páginas de Tex aconteceu por sua vez entre Maio de 2008 e Outubro de 2010, ausência prolongada por razões de… programação, já que neste último mês foi publicado o Tex número 600, um álbum celebrativo a cores, o segundo realizado por Ticci, após os primeiros quatro álbuns centenários desenhados pelo criador gráfico do personagem, Aurelio Galleppini.


Giovanni Ticci é actualmente o terceiro desenhador mais produtivo de Tex após Aurelio Galleppini e Guglielmo Letteri; Na classificação geral da Editora Bonelli Ticci é, com mais de 9500 páginas, o oitavo desenhador no quesito número de páginas publicadas nos 76 anos de vida da editora milanesa; entre os desenhadores em actividade é segundo atrás de Roberto Diso, que com um milhar de páginas a mais, ocupa o sétimo posto da classificação all-time, enquanto ninguém o bate bonelliamente falando como precocidade na estreia (não encontramos mais nenhum jovem de dezoito anos com material publicado nos álbuns da SBE), nem como carreira: estamos muito próximos do sexagésimo ano de colaboração com a editora da Via Buonarroti. Recorde sem dúvida invejável e presumivelmente inalcançável.

Giovanni Ticci, © do autor

Encerramos com os parabéns a Giovanni Ticci por este histórico marco texiano e marcando encontro convosco para o próximo capítulo desta rubrica intitulada  “Tex em Números“.

Saverio Ceri

Material apresentado no blogue Dime Web em 30/01/2017; Tradução e adaptação (com a devida autorização): José Carlos Francisco.
Copyright: © 2017, Saverio Ceri

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

22 Comentários

  1. É único! Ninguém o supera na dinâmica do desenho. Ou na composição da vinheta. Uma delicia!

  2. O melhor…
    Simplesmente o melhor desenhista de Tex… No início herdeiro do traço de Giolitti… Depois desenvolveu a característica “Ticciana” e Tex ficou melhor ainda…

  3. Uma carreira incrível, sem dúvida!
    No entanto, prefiro o Tex de Villa, Civitelli, Letteri ou até mesmo Fusco.

  4. É o meu eterno desenhista preferido, não terá outro com os traços do grande Ticci.

  5. Em minha opinião Ticci é quem melhor retrata o personagem Tex e seus pards.
    Isso não quer dizer que ele seja o o melhor desenhista em minha opinião, mas o que melhor representa o mundo Tex.

  6. Fabuloso Giovanni Ticci, na minha opinião o MELHOR, junto com Alberto Giolitti, que foi sua inspiração, Ticci é Western puro.
    Técníca inigualável, todas as fases da sua carreira são fantásticas.
    Leio e coleciono Tex há 42 anos, e o motivo disso é GIOVANNI TICCI.

    Nei Campos

  7. O melhor desenhista de Tex de todos os tempos, sem dúvida! Também amo os desenhos de Fernando Fusco e Aurelio Galleppini, mas eu reconheço que os de Giovanni Ticci parecem mais com fotografias do que com desenhos propriamente ditos! Confesso que já li histórias de Tex em que cheguei a duvidar que os desenhos ticcianos fossem feitos por um homem, de tanto que por vezes eles se assemelham a fotos!
    As paisagens urbanas, rurais e do faroeste selvagem ganham incrível realismo na pena do grande Giovanni Ticci! Os cavalos, as armas e até as cartucheiras e os cartuchos de balas se parecem mais com fotos desses objetos do que com o desenho feito por mãos humanas! Na aventura “Selva Cruel” vi armas usadas pelos fuzileiros navais, tais quais as que eles costumam usar na vida real! Parecem negativos de fotos dessas armas! Assim como certos personagens parecem tão nítidos como na realidade, tanto os brancos como os índios! Na aventura “Fuga de Anderville” vi batalhas cheias de lindos cavalos, soldados e armas que parecem mais quadros de parede! Ou fotos dessas batalhas! Ninguém sabe desenhar essas paisagens e animais e armas melhor que Ticci! Até nas expressões faciais dos personagens, não tem quem vá com ele também! Ele consegue tornar plácidos os rostos de qualquer personagem, assim como consegue fazer com os rostos deles fiquem franzidos com um realismo terrível, e com jogos de luz e sombra que nunca vi qualquer outro desenhista dominar assim!
    Realmente, é meio século de lindos desenhos de dar água na boca! E, assim como Nei Campos, posso dizer que me iniciei no mundo de Tex lendo histórias desenhadas pelo grande Ticci! Mesmo sem ainda gostar de Tex, na época, eu já amava admirar os belos desenhos desse maiúsculo desenhista, que pra mim é o maior de todos os tempos!
    Uma safra de ótimos desenhistas vieram na esteira de Giovanni Ticci: Fernando Fusco, Vicenzo Monti, Claudio Villa, Fabio Civitelli, Repetto, Piccinelli, Della Monica, Venturi, e tantos outros que empunham a pena para desenhar o maior ranger da História! Mas Ticci, pra mim, tem um quê a mais que todos eles, apesar de eu também amar Fusco, Civitelli, Villa, Monti e Piccinelli! Ticci tem uma técnica de desenho que não mais será igualada! O grande Alberto Giolitti foi a grande inspiração de Giovanni Ticci, e também era um desenhista de dar água na boca e tirar o fôlego! Mas os desenhos de Ticci, ao meu ver, são mesmo os definitivos para o Tex, e pra mim os Tex clássicos são o de Galep e o de Ticci! Embora eu ame Galep, sei que Ticci é mais apurado na Nona Arte que ele!
    Estou com a opinião da maioria dos fãs de Tex: Giovanni Ticci é o maior desenhista de todos os tempos! Vida longa a esse talentoso ser humano que soube criar um Tex com seu perfil definitivo, e com desenhos inigualáveis que jamais deixarão de ser degustados pelos fãs! Qualquer história de Tex desenhada por Ticci é um colírio pros olhos!

  8. I vostri articoli e i vostri commenti sono molto interessanti. Vorrei poter citare qualche frase e utilizzare qualche immagine, menzionandone la fonte, nel mio sito internet ‘Leggendo Tex Willer’, che è a Vostra disposizione per ogni ricerca. Grazie.

    • Grazie per i complimenti 😉
      Puoi utilizzare il materiale che vuoi proveniente dal blog portoghese di Tex. È un onore per noi.
      P.S. – Congratulazioni per il tuo sito, pard Demetrio. È davvero bellissimo!

    • Ciao mitico pard Demetrio,
      Rivista Clube Tex Portugal nº 1, novembre 2014.

  9. Simplesmente meu primeiro Tex aos 8 anos de idade foi “Cheyenes” o n°96, desenhado por Ticci, como não se maravilhar com aquela arte. O melhor desenhista do ranger.

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