GAZETA DA BD #30 – NA GAZETA DAS CALDAS – TEX WILLER – O RANGER DO TEXAS – O “western” mais antigo em publicação

Jornal Gazeta das Caldas, de 22/08/2014
Texto da secção Gazeta da Banda Desenhada #30
Jorge Machado Dias

TEX WILLER – O western mais antigo em publicação, no Jornal gazeta das Caldas de 22 de Agosto de 2014

TEX WILLER – O RANGER DO TEXAS

O “western” mais antigo em publicação

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Tem estado à venda em Portugal desde o início do ano passado, o “Tex Gigante” (ou “Texone”, como lhe chamam em Itália) #27 – A Cavalgada do Morto, escrita por Mauro Boselli e desenhada por Fabio Civitelli. A distribuição das revistas de Tex por cá, e como os fãs bem sabem, é feita pela brasileira Mythos Editora. Acontece que as aventuras de Tex Willer – o cowboy que é um Ranger do Texas –, além de ser um dos westerns mais lidos em diversos países, é a série de aventuras deste género mais antiga em todo o mundo ainda em publicação, precisamente há 66 anos. Daí o interesse em contarmos aqui, em traços gerais, a história desta personagem da BD italiana (ou “fumetti”, no plural – “fumetto”, no singular, como em Itália se designa a BD) cuja primeira história foi publicada em 30 de Setembro de 1948, com texto de Giovanni (Gian) Luigi Bonelli e desenhos de Aurelio Galleppini.

Vejamos então um pouco da vida de Bonelli e como começou Tex: Com o fim do Estado Fascista e da II Grande Guerra Mundial em 1945, assistiu-se a uma frenética actividade nas editoras italianas de BD: um grupo de pequenas casas editoras, de características e estrutura artesanal, deu vida a uma grande produção de bandas desenhadas originais italianas, tornando quase irrelevante a importação dos comics americanos, que foi regra durante a guerra. A grande mudança dá-se com a adopção de um espírito filo-americano – em voga em Itália depois da libertação – pelos velhos heróis “italocentricos”. Em 1946 Bonelli, baseado no êxito de Mandrake, cria Ipnos e pouco depois, com a Serie d’oro Audace (1948), começa a sua colaboração com Aurelio Galleppini, produzindo Occio Cupo, um “fumetto” inspirado nos romances de Dumas, que não teve grande sucesso dada a fraca aceitação dos temas de capa e espada.

Mas o ano de 1948 marcaria para sempre a vida de Gian Luigi Bonelli. Por ser um grande admirador das histórias do velho oeste americano, Bonelli cria, em parceria com o desenhador Aurelio Galleppini, a personagem Tex Willer – inicialmente Tex Killer. As histórias desta personagem eram editadas numa revistinha semanal de formato peculiar, designado por striscia – tira em italiano – com 17 x 8 cm (parecendo uma caderneta de cheques) fino e pequeno, com apenas 32 páginas e uma tira por página, que despertou um grande interesse dos leitores italianos, projectando G. L. Bonelli nacional e internacionalmente. A primeira história de Tex intitulava-se Il Totem Misterioso.

Quando Tea Bonelli, a mulher de Gian Luigi, tomou em mãos a direcção e administração da casa editorial (que mudaria de nome várias vezes) começaram a ser tentados outros formatos, agrupando as histórias publicadas em tiras, que foram sendo reeditadas, num formato mais parecido com o que são hoje as revistas mensais de Tex, com 13,5 x 17,5 cm (mais pequeno que um A5) e três tiras por página.

Mais tarde, quando o filho de Gian Luigi e Tea, Sergio, passou a dirigir a editora, dando-lhe mesmo seu nome actual (Sergio Bonelli Editore), os formatos foram sendo mantidos, embora novas revistas se tenham iniciado, como o Texone – ou Tex Gigante, que referimos no início, com um formato 18,5 x 27,5 cm (próximo do A4) e cerca de 242 páginas. Esta série tem a particularidade de ser anual e ter como convidados para o desenho das histórias, grandes nomes da banda desenhada mundial, como Guido Buzzelli, Victor De La Fuente, José Ortiz, Joe Kubert, Manfred Sommer, etc…

Voltando ao início deste texto – falemos um pouco de A Cavalgada do Morto, publicado em Itália em Junho de 2012, pela Sergio Bonelli Editore, no Brasil, em Outubro de 2012, pela Mythos Editora e distribuído em Portugal (obviamente a edição brasileira) em Janeiro de 2013. A revista tem 242 páginas, sendo que as primeiras 18 são preenchidas por textos de Graziano Frediani (O Pincel Fez Clic!) – sobre Fabio Civitelli –, outro de Gianmaria Contro (Fabio Civitelli: Um Fotógrafo no Oeste) – uma entrevista com o desenhador –, finalizando esta introdução um texto de Graziano Frediani (A Terra dos Pesadelos Adormecidos) – sobre a lenda que deu origem a esta história – e ainda as biografias condensadas de Giovanni Luigi Bonelli, Aurelio Galleppini, Mauro Boseli (o argumentista de A Cavalgada do Morto) e de Fabio Civitelli.

A tradução de todos os textos para a edição brasileira (incluindo o da história) são de Júlio Schneider, adaptados por Dorival Vitor Lopes e a letragem esteve a cargo de Marcos Valério.

Tendo como principal fonte de inspiração a lenda de “El Hombre Muerto”, em que o fantasma de um vaqueiro mexicano assassinado e decapitado, cavalgava de noite nas terras entre o sul do Texas e o norte do México, transportando a sua própria cabeça presa à sela do cavalo e aterrorizando quem se aventurava por aquelas paragens. Alguns pormenores desta história de Tex Willer, levam-nos a pensar que haja também alguma influência, no texto de Boselli, do conto clássico de Washington Irving, publicado em Portugal com o título A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, embora a base seja, seguramente, a lenda mexicano-texana.

Nesta edição #27 do Tex Gigante, destacamos a excelência do desenho de Fabio Civitelli que, apesar do clacissismo do traço – especialmente nas figuras de Tex (que tem que ser sempre parecido com o protótipo desenhado inicialmente por Aurelio Galleppini em 1948) e dos seus parceiros – desenvolveu uma moderna versão do clássico “pontilhismo” da BD italiana, combinado com o “claro-escuro”, que dão a esta história um ambiente quase surreal. De referir que Civitelli já esteve por cinco vezes em Portugal, como convidado, nos Festivais de Beja, da Amadora e do Porto e nos Salões de Moura e de Viseu.


Copyright: © 2014 Jornal Gazeta das Caldas & Jorge Machado-Dias

Nota : o texto publicado na Gazeta das Caldas teve de ser ligeiramente cortado devido ao condicionalismo do espaço disponível.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. O Zé Carlos Francisco alterou, aqui no Tex Willer Blog, muito ligeiramente o meu texto, no final do mesmo, acrescentando, nas vindas a Portugal de Fabio Civitelli, a presença do autor no MAB (Porto), de que me esqueci completamente – foram portanto 5 presenças e não 4 como eu escrevi.
    Grande abraço, Zé Carlos.

  2. Tecnicamente seria o western em estilo realista mais antigo em publicação, já que o Lucky Luke é mais antigo (1946).

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