Fanzine “A Conquista do Oeste” – Maio/Novembro 2001 – Páginas 66 e 67 – Uma Pequena História dos “Western” no Cinema

UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS “WESTERN” NO CINEMA

Fanzine “A Conquista do Oeste” – Página 66Oeste é um mundo próprio, um mundo maior do que aquele em que vivemos, quase, se nos lembrarmos daquelas extensões sem fim, povoada de homens bons e maus, “cow-boys” e índios, cavalgando em direcção ao amanhecer.

Um verdadeiro conhecimento dessa zona nunca existiu no início, pois era fruto da lenda e da comunicação verbal, sempre dada ao exagero. No entanto, em qualquer parte do mundo, o Oeste era conhecido. A explicação para a grande popularidade do Oeste deveu-se, essencialmente, a Hollywood. O seu domínio económico nas artes, principalmente no Cinema, aliado mais tarde à TV e à própria Literatura, conseguiram resultados extraordinários na divulgação do mito do Oeste. A produção em massa (às centenas) de filmes por ano, o lançamento de uma série de produtos ligados ao
Marketing, conseguiria manter um filão inesgotável durante 70 anos. Muitos desses filmes possuíam imagens de marca: os bons usavam chapéus brancos e os maus chapéus pretos (a excepção era para Hopalong Cassidy, que vestia totalmente de preto).

A Flecha QuebradaO cavalo, a carruagem, a roupa, tudo mostrava uma imagem de marca e nada era deixado ao acaso. O Oeste não era um meio de vida e sim outro mundo ou, pelo menos, outro país. O próprio inglês até era diferente do que se falava no resto dos Estados Unidos da América…o sotaque, a junção de palavras… e a eliminação de outras…
Uma das grandes fascinações dos outros povos pelo Oeste, era o espaço aberto, as extensas planícies a perder de vista, as grandes montanhas, os desertos inexplorados e perigosos…

Muitos dos filmes de “cow-boys” dos anos 30 e 40, eram rodados indistintamente em vários locais, tal era o manancial de espaço: Rockies, Black Hills, Santa Fé, Red
River, Texas, Wyoming, Kansas, Oklahoma, Pecos, Sonora, Cherokee Trail, Cimarron, Rio Grande, Yukon, Mississipi, Florida, Nebraska, Dakota, etc..

Carga de CavalariaNo início, o Oeste era exótico e fascinante. Era também um espaço, onde aconteciam muitas coisas e se a imaginação ajudasse, tudo ali poderia suceder.
Muitos escritores, aqueles que escreveriam no Século XIX, sobre o verdadeiro Oeste, James Fenimore Cooper, Charles King e Helen Hunt Jackson, debruçaram-se sobre os temas da colonização e dos índios, o choque de culturas, as suas guerras.

Depois os do Século XX, tais como Hamlin Garland e Will Cather, ocuparam-se mais da vida dos fazendeiros e dos seus problemas, não só no gado como na própria agricultura. O Cinema raramente se dedicou a essas coisas. O que interessava era a confrontação violenta entre brancos e índios, entre eles próprios (a eterna rivalidade de costumes e raças, a conquista de outros territórios, a vontade de ser o mais forte, etc.), não esquecendo a própria rivalidade entre os brancos, na conquista de poços e de cursos de água, ranchos, gado e até na luta nos salões, com mulheres ou não à mistura.

Fanzine “A Conquista do Oeste” – Página 67O jogo era criar a tensão entre a selvajaria e a civilização, vencendo sempre esta última. Mas não interessava qual tinha razão ou de que lado estava a justiça ou o direito. O próprio conflito de fronteiras, entre o Leste e o Oeste, servia igualmente como pretexto para as lutas fratricidas, isto não esquecendo as minas de ouro e de prata, o roubo de gado, a falsificação das marcas do gado de cada rancho, o roubo das marcas limítrofes de cada propriedade, o arame farpado, as ovelhas e o conflito entre pastores e fazendeiros, criadores de gado, etc.. Nada era poupado em nome da civilização. Quase não havia lei, devido às grandes distâncias entre as cidades, pelo que se matava impunemente. O papel dos “sheriffs” eram sempre levados à exaustão e o ambiente criado, atingia muitas vezes um grau elevado de emoção nas lutas, em que aqueles, às vezes com ajudas inesperadas, venciam no fim.

Os finais do Século XIX e as primeiras décadas do seguinte, trouxeram-nos as novelas de ficção, com as aventuras de “cow-boys” propriamente ditas, onde se desenrolavam raptos, perseguições, assaltos, roubos, duelos, pugilismo (às vezes), e, por fim, a morte do bandido ou a destruição do bando. Os “heróis” criados, tais como Wild Bill Hickok, Buffalo Bill, Jesse James, Daniel Boone, Davy Crockett e Kit Carson, nem sempre foram como as suas aventuras os descreviam nos livros ou novelas, talvez até porque as condições existentes lhes fossem adversas na altura, no aspecto de civilização e não lhes permitissem actuar de outro modo, senão com violência. Era a velha filosofia que se impunha, “matar para não ser morto”.

Cavalgada HeróicaEntretanto o Cinema dava os seus primeiros passos, iniciando-se com o filme “the Great Train Robbery” (1903), sendo um sucesso. Nascem artistas, tais como William S. Hart, que no teatro desempenha o papel principal na peça “The Squaw Man”, que acabará no cinema em 1914 e que já, em 1907, tinha tido o papel principal na peça “The Virgian” e Dustin Farnum, outro actor, que se torna igualmente um artista de primeiro plano no Cinema mudo, dedicado ao “western”. Os espectáculos de Buffalo Bill que acabarão por percorrer os Estados Unidos da América, vindo a realizarem-se também na Europa, com êxito, serviram de igual modo, para o desenvolvimento do mito.

O nascimento da fotografia e a própria pintura, viriam a destacar e a promover o Oeste. Grandes artistas, tais como George Catlin, Seth Eastman e, principalmente, Frederic Remington, souberam reproduzir de uma forma perfeita, tudo o que os seus olhos observaram no Oeste. Com a vinda da civilização, surgem novas personagens no contexto histórico do Velho Oeste, que irão servir para tema de novos filmes: os soldados, os fora-da-lei, os jogadores, as prostitutas, os ladrões, os mendigos, os bêbados, os charlatães e outros.

O Jardim do DiaboEntretanto o Cinema vai evoluindo e depois de grandes artistas do Cinema mudo, tais como Broncho Billy, Art Acord, Harry Carey e outros, aparece uma nova galeria de outros artistas, os tais de que já incluímos na lista dos “cow-boys” famosos: Buck Jones, Tim McCoy, Tom Mix, Gene Autry, etc., etc., que viriam a cavalgar nos ecrãs do Cinema durante anos, até à Segunda Guerra Mundial. Aqui faz-se un interregno, sendo estes filmes substituídos por outros, de Guerra, Aventura e Acção. Depois da Guerra voltam de novo a ter sucesso devido aos grandes realizadores, John Ford, Samuel Fuller, Henry Hathaway, Howard Hawks, Sam Peckinpah e outros, que souberam dar uma nova faceta aos filmes de “western”, isto para não falar em Sergio Leone. Esse sucesso manter-se-ia ainda durante as décadas de 50 e 60, aparecendo até filmes em 3D, em Cinemascope, em Kodakcolor, ao mesmo tempo que os artistas também mudam, John Wayne, o maior, Alan Ladd, James Stewart, Rober Taylor, Ronald Reagan, Gregory Peck e muitos mais. Os enredos melhoram e os temas são mais sérios e perto da realidade.

Os anos 70 marcam o fim do tema, que irá tentar renovar-se nos anos 80, com uma nova galeria de novos artistas, alguns filhos de actores, que dão uma nova alma aos filmes de “western”: Emilio Estevez, Charlie Sheen, Keifer Sutherland, Sharon Stone e o próprio Clint Eastwood. Os novos efeitos especiais melhoram sobremaneira os resultados, mas era tentar ressuscitar um “defunto”.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, e/ou imprimí-las, clique nas mesmas)

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