Entrevista com o fã e colecionador: Leo Banner

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde nasceu? O que faz profissionalmente?
Leo Banner: Sou do Brasil, da cidade do Rio de Janeiro, e sou advogado de formação!

Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Leo Banner: Meu interesse pela banda desenhada surgiu quando eu tinha 4 ou 5 anos, depois que assisti ao piloto da série O Incrível Hulk, com Bill Bixby e Lou Ferrigno! Poucos dias depois me lembro de pedir à minha mãe uma “revistinha” (assim chamávamos os quadrinhos por aqui no final da década de 1970) do Hulk, e foi onde se iniciou essa paixão que perdura até os dias de hoje, no alto dos meus 47 anos, e sem previsão de término!

Quando descobriu Tex?
Leo Banner: A descoberta de TEX se deu já quando eu era um colecionador efetivo de quadrinhos (ou BDs), lá pelos meus 17 anos, quando li pela primeira vez FORTE NAVAJO, que na verdade se tratava da primeira história do Tenente Blueberry, criação magistral de Jean-Michel Charlier e do fantástico Jean “Moebius” Giraud, que me arrebatou na primeira leitura! Mas foi justamente ao ler Blueberry que descobri também outro famoso personagem do Velho Oeste norte-americano chamado TEX WILLER, que naquele longínquo ano de 1990 não me despertou interesse em conhecer! Durante muitos anos fui um “órfão” de Blueberry que, ao contrário de Tex, nunca teve suas histórias publicadas aqui no Brasil de forma decente e regular! Talvez isso tenha gerado em mim uma resistência ao TEX, um comportamento que só corrigi décadas depois quando o interesse em conhecer de facto a criação de Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini floresceu em mim! Mas me apercebi que era um personagem com décadas de estrada, inúmeras histórias, o que me deixava com aquela dúvida essencial: “por onde começar?”
Essa dúvida foi em parte sanada pela coleção TEX GOLD da Editora Salvat, que elegi como meu ponto de partida para começar a ler as histórias do ranger! Então, a primeira história de TEX que li efetivamente foi O PROFETA INDÍGENA, escrita por Claudio Nizzi e ilustrada por Corrado Mastantuono, que não achei uma história maravilhosa, mas achei uma história razoável! Devo confessar que meu grande interesse naquele momento era a história seguinte dessa coleção, que foi ilustrada por um de meus artistas preferidos de todos os tempos, o grande Joe Kubert (que eu nem fazia ideia que havia ilustrado uma história de Tex), na aventura chamada O CAVALEIRO SOLITÁRIO, também com roteiro de Nizzi! Essa já gostei mais que a anterior, até porque a arte de Kubert, como sempre, estava deslumbrante, e foi uma experiência singular ver o talento do grande mestre à disposição do ranger mais famoso dos quadrinhos, numa trama básica de vingança, mas muito bem conduzida e magistralmente ilustrada!

Porquê esta paixão por Tex?
Leo Banner: Essa resposta é uma continuação direta da anterior! Continuei acompanhando as aventuras de TEX pela coleção TEX GOLD da Editora Salvat, mas as histórias seguintes, ainda que tenha considerado razoavelmente boas, não posso dizer que tenham efetivamente me arrebatado!
No entanto, ao mesmo tempo em que iniciava a coleção da Salvat, a editora Mythos lançou a série chamada AS GRANDES AVENTURAS DE TEX, cujo número inicial trazia a sequência de histórias intitulada A MORTE DE LILYTH, a Índia navajo que foi o grande amor de TEX, e foi ESSA história que efetivamente me arrebatou! UAU! Fiquei fascinado por vários motivos, e o primeiro deles era justamente pelo facto de estar lendo pela primeira vez uma história do ranger produzida pelos seus criadores, Bonelli & Galep, e foi a história que me deixou sem palavras… a trama muito bem engendrada, muito bem desenvolvida, e mesmo que boa parte dela tenha sido em flashbacks, isso não comprometeu em nada sua soberba qualidade! E se o roteiro de Gianluigi foi fantástico, o que dizer da estupenda arte de Galep? Me faltam palavras, mas posso dizer sem sobra de dúvida, que foi a história de Tex que me tornou um fã texiano cada vez mais ávido por novas histórias! E essa coleção se tornou uma de minhas favoritas de todos os tempos, ocupando lugar de prioridade nas minhas aquisições!

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Leo Banner: Definitivamente, Tex é um personagem único! Suas histórias têm características que me encantam; sua relação com seus queridos pards é algo sublime, mas a relação dele com Carson é maravilhosa, tipo Kirk e Spock em Jornada nas Estrelas… há discordância, há rabugice mas há uma amizade e lealdade entre os dois que extrapola todos os limites, é isso é um dos aspectos que mais me encantam nas histórias de Tex!

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua coleção? E qual a mais importante para si?
Leo Banner: Minha coleção de TEX ainda é modesta, não chega nem a 70 edições no total, incluindo as edições das editoras Salvat, Mythos e Panini, e ainda há a última leva de aquisições que chegaram há poucos dias que nem consegui ler ainda! Até o momento, a mais importante e a que mais gosto sem dúvida é a coleção AS GRANDES AVENTURAS DE TEX, da Mythos Editora, cuja primeira temporada de 12 edições já tenho completa!

Coleciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Leo Banner: Estou numa fase em que procuro por boas histórias, e os fumetti têm se mostrado uma excelente opção em termos de qualidade e originalidade, justamente por isso tenho adquirido também as edições de Ken Parker, Nathan Never, e futuramente, pretendo me aventurar com Dylan Dog, Martin Mystère, etc.!

Qual o objeto Tex que mais gostaria de possuir?
Leo Banner: Gostaria de ter todas as histórias de Bonelli & Galep e todas as edições em cores de TEX! A Mythos está lançando um Omnibus de TEX com as primeiras histórias do ranger, e espero que num futuro não muito distante, minhas pretensões se tornem realidade!

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Leo Banner: Não consigo citar apenas uma, mas algumas que já tenho como preferidas, que são A MORTE DE LILYTH, ENTRE DUAS BANDEIRAS, O NAVIO DO DESERTO, OS SETE ASSASSINOS, FUGA DE ALCATRAZ e O MASSACRE DE GOLDENA. Meus roteiristas preferidos até o momento são Gianluigi Bonelli, Claudio Nizzi e Mauro Boselli; os artistas preferidos são Aurelio Galleppini, Giovanni Ticci e Carlo Rafaelle Marcello!

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Leo Banner: O que mais me agrada são as histórias bem construídas, bem amarradas e, mais ainda, aquelas em que exploram a amizade entre Willer e Carson!

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Leo Banner: Não é fácil um personagem se manter relevante e interessante depois de décadas de vida editorial, ainda mais quando se trata de um personagem em que não é possível a utilização de recursos usados à exaustão nos quadrinhos mainstream, como mortes e ressurreições, mundos e realidades alternativas, etc… então, acredito que mesmo sendo um personagem mais pé no chão – o que, por si só limita bastante as possibilidades narrativas – TEX vem mostrando ao longo de suas décadas de existência que não é preciso sagas mirabolantes nem reboots anuais para conquistar novos fãs e se manter relevante após todo esse tempo; a grande lição que consigo perceber com a longeva vida editorial do ranger é que, ainda que se trate também de lucro, tem-se ainda um esmero, um cuidado todo especial na confecção e na elaboração das tramas, e é esse cuidado que diferencia TEX de todos os demais.

Costuma encontrar-se com outros colecionadores?
Leo Banner: Tenho conhecidos com quem trabalho que também colecionam alguns materiais.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Leo Banner: O futuro do nosso ranger favorito depende unicamente de a Sergio Bonelli Editore continuar fazendo o excelente trabalho que vem fazendo há décadas, investindo tempo e recursos na melhor produção possível de suas histórias, no sentido de manter sua inegável qualidade e sua considerável diferenciação em relação aos quadrinhos mainstream!.

Prezado pard Leo Banner, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

5 Comentários

  1. Olá venho agradecer e parabenizar a matéria produzida pelo José Carlos e o caríssimo amigo Leo Banner, importante divulgar e criar material das HQs e bandas desenhadas de alta qualidade. Leo Banner é um mestre nato da cultura pop e principalmente da área de quadrinhos, sempre com ótimas ideias para roteiro e um traço de desenho inigualável, sou muito fã desse jovem rapaz, sempre talentoso e paciente nas seus debates sobre quadrinhos. Um forte abraço e Parabéns pelo trabalho.

  2. Excelente entrevista com alguém como Leo Banner, que não apenas ama o que lê mas também é um grande especialista em hqs, capaz de informar e ensinar com suas palavras. Em resumo, excelente.

  3. Conheço o Leo Banner há bastante tempo, e esquecido que só não falou que ele está tentando se aventurar no mundo dos blogs seu canal: Território Neutro (@territorio_neutro1701 e http://www.territorioneutro.com.br) destrinchando as publicações dando suas impressões. Está começando agora, mas tem qualidade. Quanto a entrevista estão de parabéns. Abraços a todos.

  4. Eu já conhecia Leandro Banner há muitos anos, e sempre soube da sua atração irresistível pelos quadrinhos mainstream desde a sua infância, mas não imaginava que ele tinha se tornado um especialista no assunto. Sou testemunha de que ele é possuidor nato de um excelente traço de desenho, o que é inegável e portanto um crítico bem confiável no julgamento das obras de sua preferência. Meus parabéns ao Leandro pela precisão e simplicidade apresentados de forma modesta nesta entrevista, e também a José Carlos Francisco, que soube conduzi-la de forma magistral.

  5. Excelente entrevista. Cabe a nós apreciá-la tal qual apreciamos os quadrinhos. Ver leitores em todas as partes do mundo com mesmos gostos nos colocam num seleto grupo, sem sombra de dúvidas.

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