Entrevista com o fã e coleccionador: Paulo Castilho

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Paulo Castilho: Chamo-me Paulo Castilho, nasci no ano de 1965 em uma cidade chamada Goiatuba (GO). Ao completar 40 anos de idade eu resolvi aposentar-me por conta própria. Aqui no Brasil falam que “o homem nasce aos 40 anos”, e resolvi levar isso a sério. Como estou com “7 anos de idade” (pelo ditado brasileiro), não posso trabalhar (…risos…). Brincadeirinha. Trabalho com restauração de áudio e vídeo. Levo muito a sério o que Hal Foster dizia: “Trabalho para viver, não vivo para trabalhar”. Em minhas horas vagas pratico desportos de aventuras. Todo ano viajo para o Parque Nacional do Xingu, uma reserva indígena aqui do Brasil, onde sou amigo de várias etnias. Nas horas vagas dedico-me ao meu blogue, que é relacionado com a banda desenhada: www.hqpoint.blogspot.com

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Paulo Castilho: Quando eu tinha sete anos de idade, o meu irmão coleccionava revistas aos quadradinhos. Eu ficava fascinado com todos aqueles desenhos. Eu não sabia ler e ficava o tempo todo admirando as ilustrações. Posso dizer que os quadradinhos foram o meu incentivo para aprender a ler. Aos nove anos, a minha família foi morar em uma cidade do interior e lá não havia livrarias nem lojas que vendiam tais revistas. Certa vez, os meus pais viajaram para uma cidade maior e levaram três exemplares da revista TEX, Fuga Dentro da Noite (nº 5), A Flecha Negra (nº 10) e A Ferro e Fogo (nº 12). Eu já tinha uma pequena colecção de revistas, mas foi a partir de TEX que eu comecei a levar a coisa mais a sério e não parei mais.

Quando descobriu Tex?
Paulo Castilho: Senti-me atraído por TEX desde os primeiros três exemplares, mas foi quando li as histórias desenhadas por TICCI que eu fiquei fã mesmo. As histórias que ele desenhava eram sempre cheias de índios, florestas e belíssimos desertos. Aquilo fascinava-me e após cada leitura, eu reunia os meus amigos e ia brincar de bang-bang. Pegávamos as nossas bicicletas e íamos para os arredores da cidade, dividíamos em dois grupos (os mocinhos e os bandidos) e brincávamos em nossas “batalhas imaginárias”. TEX era a nossa fonte de inspiração.

Porquê esta paixão por Tex?
Paulo Castilho: Acredito que todas as crianças de nossa época eram fãs de bang-bang e TEX completava essa paixão. Com o tempo, na medida em que eu ia amadurecendo, comecei a prestar atenção a outros detalhes – roteiros e desenhos. Hoje eu vejo TEX como uma verdadeira obra de arte, mas também tem o lado psicológico… ao ler TEX, indirectamente estamos alimentando uma fantasia da infância.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Paulo Castilho: O grande problema dos quadradinhos hoje em dia é que a Marvel e DC os tratam como uma fonte de renda, uma indústria sem escrúpulos com os artistas que produzem as histórias. Com a Bonelli essa sensação não vem à tona. É claro que toda e qualquer editora tem as suas revistas como um “produto” e eles precisam “ganhar dinheiro”, mas a Bonelli passa uma imagem diferente, parece haver mais respeito ao leitor. Não é só TEX que me chama atenção… todas as revistas publicadas pela Bonelli me são agradáveis.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção?
Paulo Castilho: Já cheguei a ter todos os exemplares de TEX. Hoje restam-me umas 300 edições. Estou digitalizando todas. Pretendo conservar a minha colecção digitalmente. Não existe um exemplar específico que seja mais importante para mim, toda a minha colecção tem o seu valor.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Paulo Castilho: Colecciono todo o tipo de quadradinhos, mas tenho preferência pelos europeus. Da Bonelli, depois de TEX, os que mais me atraem são Dylan Dog, Martin Mystère, Mágico Vento e agora Face Oculta (Volto Nascosto), que está sendo publicada aqui no Brasil pela Panini.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Paulo Castilho: Tenho um amigo na Itália, que sempre que vem ao Brasil traz-me alguns presentes relacionados a TEX. Na última viagem ele trouxe-me uma action figure do TEX e Dylan, que passaram a ser os meus itens mais valiosos da minha colecção.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Paulo Castilho: Caçada Humana” (nº 68) é sem dúvida a melhor história já publicada de TEX. É claro que têm surgido histórias muito boas, “A Escolta” (nº 516) e “Os Bravos do Forte Kearny” (nº 517), é um bom exemplo disso. Quando Joe Kubert preferiu desenhar uma história de TEX agindo sozinho, ele estava certo. Faraci provou que é mais fácil trabalhar com TEX “solitário”, o que dá mais liberdade à personagem. Na citada história, Tex está bem mais violento… o roteiro ficou solto e interessante, sem muita conversa mole.
Antonio Segura era sem dúvida um dos melhores argumentistas da actualidade. Com a sua morte eu escolho as histórias de Manfredi. Os roteiros que ele escreve sempre são interessantes e informativos (assim como tudo que ele escreve). Os roteiros escritos por Claudio Nizzi estavam se tornando chatos e repetitivos. No começo, assim que começou a escrever, ele até agradava. Com o passar do tempo, fui perdendo interesse em ler as histórias escritas por ele.
Giovanni Ticci foi o desenhador que me atraiu, mas os desenhos dele começam a mostrar falhas por causa de sua idade avançada. Claudio Villa e Mastantuono são sem dúvida os melhores desenhadores da actualidade.
Acredito que Civitelli está se expondo demais e isso pode ser prejudicial ao trabalho dele. Um artista de talento como ele tem que se poupar, aparecer menos. O excesso de publicações com seus trabalhos podem ser uma armadilha e podem tornar os desenhos dele enjoativos. Claudio Villa é um exemplo, seus desenhos são belíssimos e temos que nos contentar com suas capas… de vez em quando somos brindados com uma história de sua autoria. Isso deixa os fãs querendo ver seus trabalhos, deixando um gostinho de ansiedade.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Paulo Castilho: Gosto da variedade de artistas presentes em suas histórias. O que não me agrada é o formato da revista aqui no Brasil. TEX é o título mais vendido nas bancas daqui e acho que já é hora da Mythos adoptar o formato italiano, coisa que a Panini está respeitando ao publicar Face Oculta.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Paulo Castilho: O que tem ajudado TEX a fazer sucesso, pelo menos aqui no Brasil, é que a grande maioria de seus leitores (acima dos 40 anos) são pessoas que liam bolsilivros (pequenos livretos de bang-bang) dos anos 70 e 80. Essas pessoas acabaram passando o hábito de ler Tex aos filhos e isso vem se repetindo geração após geração. Raramente encontramos um leitor novo que foi à banca e se interessou pela revista. Mas isso vai mudar, como comentarei na última pergunta.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Paulo Castilho: Fazemos reuniões sempre que possível. As conversas são sobre quadradinhos em geral e nunca especificamente sobre TEX. Tenho feito uma boa propaganda da personagem italiana e já notei que o interesse está aumentando entre os meus amigos.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Paulo Castilho: Com a inclusão de novos desenhadores e novos argumentistas TEX só tem a ganhar. Apesar de lamentar muito a morte de Sergio Bonelli, fico ansioso para ver o que os novos editores irão fazer com a personagem. Acredito que a revista irá tornar-se cada vez mais interessante e com isso atrairá novos leitores. Cabe a nós, fãs da personagem, divulgar essas mudanças e tentar fazer com que novos leitores sejam atraídos.
Espero que algum dia tenhamos uma edição de TEX desenhada por algum artista brasileiro… seria o ápice.


Prezado pard Paulo Castilho, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

5 Comentários

  1. Paulo Castilho, que SUPER!!! Adorei ver sua “admiração antiga” e trabalho de divulgação de quadrinhos em geral, e em especial pelo TEX, ser reconhecida nessa bela entrevista. Parabéns também ao “Paulinho magrinho e cabeçudo”, aquele garoto de Goiatuba & Aloândia que sonhou com todos os personagens de quadrinhos e se tornou um cara legal, com ideais a altura dos heróis que ele admirava!
    D. Shirlei deve estar orgulhosa… e eu também compadre.

  2. Grande Paulo, belíssima entrevista. Qualquer dia passo por aí e roubo algumas das suas raridades!
    Abraço!

  3. Paulo Castilho: pelo sobrenome, imagino que seja descendente de pioneiros de Goiatuba, assim como eu. De quem você é filho? Minha família mudou-se toda de lá, mas tia Gicelda continuou morando em Goiatuba; eu nasci em Goiânia mas vou em Goiatuba desde pequena, morei lá e dei aulas de educação física por 10 anos, sou desenhista e pretendo morar em Goiatuba de novo.
    Um abraço.
    Marisa Borges F. Curado.

  4. Marisa,
    por favor, entre em contato comigo através do e-mail (hqpoint@gmail.com)
    Sou de Goiatuba. Será um prazer poder falar de nossa família.
    Aguardo seu contato.

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