Entrevista com o fã e coleccionador: Cleudo Lima

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Cleudo LimaPara começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Cleudo Lima: Nasci a 21 de Março de 1972, na cidade de Limoeiro do Norte, no Estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Sempre gostei de ler desde criança. Na época os meus pais eram muito pobres e não tinham condições de comprar nem livros e muito menos revistas de quadradinhos. Mas tínhamos uns parentes na capital do Estado, Fortaleza, onde hoje moro, que ao final de cada ano enviava para mim e para os meus irmãos vários livros e revistas usadas. Não imaginam a alegria que era receber esse valioso presente! Era maravilhoso. Isso ajudou com certeza a gostar de estudar.
Actualmente trabalho no serviço público federal, de carreira, há 15 anos.
Por incrível que pareça e apesar da paixão que tenho pela personagem Tex, passei um tempo sem me interessar. Na adolescência, após o primeiro contacto, cheguei a coleccionar, mas devido às condições financeiras da época, tinha apenas por volta de umas 25 revistas. Muito tempo se passou desde então, os interesses mudaram um pouco, concentrei-me nos estudos, trabalho e depois família, esposa e filhos. Finalmente com vida mais estável, tanto financeira como emocionalmente, comecei a resgatar os meus antigos interesses e paixões. Aquelas primeiras revistas foram guardadas pela minha mãe e depois passados para os meus sobrinhos. Depois de todo esse tempo, alguns ainda voltaram para as minhas mãos (mas não em tão boas condições de conservação). Depois de ter retornado esse interesse, entrei na Internet e comecei a procurar páginas, grupos, pessoas que gostavam, etc. E foi incrível! Eu não imaginava essa legião de pessoas que gostavam do Tex. Até em Portugal? Não acredito. Eu pensei que seria somente eu e mais alguns malucos por aí. Acabei conhecendo o TEXBR, o grupo BONELLIHQ do qual faço parte e O BLOGUE DO TEX, claro, o qual considero a melhor página da Internet sobre Tex, no que se refere a conteúdo.

A colecção de Cleudo LimaQuando é que teve início esta paixão pela Banda Desenhada, em especial pelo Tex?
Cleudo Lima: Foi graças a esse contacto com várias revistas de banda desenhada; na época recebia, Tex, Zagor, Tio Patinhas, Homem-Aranha e várias outras. Foi assim que tive o primeiro contacto com o Tex, por volta do ano de 1984. Não me lembro qual foi a primeira história, mas sei que das primeiras foi “A águia e o Relâmpago”, que por coincidência foi publicada recentemente no Tex Coleção.

Porquê o Tex e não outra personagem?
Cleudo Lima: Para falar a verdade a gente não sabe exactamente porque gosta. Parece uma paixão que nasce com esse primeiro contacto. Como já falei, tive contacto com vários tipos de quadradinhos, mas de alguma forma o Tex me cativou.  Talvez pela forma de ele encarar os problemas, pela forma ética de agir, até com os inimigos, pela determinação e confiança. Mas por mais que a gente fale, não conseguimos dizer exactamente porque gostamos. Às vezes perguntam-me se gosto de revistas em quadradinhos. Mas eu respondo: não, eu gosto de Tex. Já tentei ler outras personagens bonellianas, como Zagor, Mister No, Martin Mystère, e até o Ken Parker. Este último adquiri há pouco tempo a colecção completa da Mythos. Não a li toda ainda, mas tem despertado um leve interesse, mas nada comparado ao interesse por Tex.

Colecção de Cleudo LimaO que Tex representa para si?
Cleudo Lima: O Tex representa para mim, algo no que devemos nos espelhar para aplicar na vida real. A sua coragem, o seu jeito optimista de ver as coisas, a sua capacidade de transpor problemas quase impossíveis. Acho que é isso que nos prende à personagem.

Qual o total de revistas de Tex que tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Cleudo Lima: Tenho por volta de 400 revistas de Tex e algumas (não chegam a 40) de outras personagens. Acho que não tem uma história, um revista específica. Prefiro falar de colecções. A que eu gosto mais é a Tex Ouro, que tenho completa. Mas o mais interessante é que há três anos atrás eu não tinha nenhuma. Pois foi desse período para cá, que finalmente retomei essa minha vontade de coleccionar.

A bela colecção de Cleudo LimaColecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem?
Cleudo Lima: No momento além das revistas, tenho somente o Filme do Tex, em DVD, a partir do VHS, comprado em um sebo local. Estou à espera do livro do GGCarsan, para começar a colecção também de livros (risos).
Em italiano, somente duas revistas que ganhei num sorteio do grupo BONELLIHQ.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Cleudo Lima: Eu posso destacar mais de uma: “O preço da honra” (Almanaque Tex nº 30), todas do Mefisto, especialmente “Mefisto!“(primeira minissérie de Tex), e “Chamas de guerra” (Tex Ouro nº 4). Para escolher uma, seria a primeira citada. Os melhores desenhadores de Tex são Fabio Civitelli, Claudio Villa e Giovanni Ticci. O melhor: Civitelli. Argumentista, fico com o Claudio Nizzi.

A colecção de Cleudo LimaO que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Cleudo Lima: Eu gosto principalmente dos valores que ele consegue transmitir, sem discriminações, mas valorizando o carácter das pessoas. Por ser uma personagem com 60 anos de vida editorial, às vezes os argumentos não inovam tanto.  Tendem a repetir-se, em alguns aspectos. Esse seria o ponto negativo ou que menos me agrada.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que ele é?
Cleudo Lima: Eu penso que é uma certa magia que envolve a personagem. Essa incansável luta pela justiça e, que no fundo todos apreciamos.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Cleudo Lima e TexCleudo Lima: Eu penso que o Ranger terá vida longa, além da que já tem. Primeiro porque os leitores de Tex são fiéis. E a legião está aumentando, com a nova geração que está despertando. Pelo lado dos que fazem o Tex, vemos uma nova geração de desenhadores que são fantásticos. Por falta de desenhadores competentes não vai ser. Então, teremos pelo menos mais outros 60 anos pela frente. Eu espero que sejam mais…!

Prezado pard Cleudo Lima, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das fotografias acima, clique nas mesmas)

8 Comentários

  1. Caro Zeca, muito obrigado pela oportunidade e pelo espaço que me concedeu no BLOGUE do Tex, o que me faz uma espécie de “colaborador” o que muito me honra. Parabéns pela avalanche de conteúdo que foi esse mês especial do aniversário do Ranger. Vida longa ao Ranger e ao Blogue.

  2. Caro pard Cleudo, nós do blogue do Tex é que agradecemos pela sua disponibilidade e paixão Texiana, já que esta sua entrevista engrandece ainda mais o blogue do Tex. Agradeço também as suas belas e sinceras palavras, pois são um estímulo para fazermos mais e melhor.
    Quanto a você ser um colaborador, de facto é, e sempre que desejar colaborar com o blogue, força, pois para nós é maravilhoso termos um colaborador do seu quilate!

  3. Que biblioTex absolutamente fantástica, num móvel com portas de vidro, tudo arrumadinho, dá gosto só de olhar. Parabéns! Orlando Silva-Lisboa

  4. Obrigado, Orlando Silva. Infelizmente (ou felizmente) o espaço já está ficando pequeno. Vou ter que conseguir mais espaço em casa (com a permissão da esposa, claro eheheh).

  5. Olá Cleudo, parabéns pela entrevista e por ter despertado para o grande barato da infância, e retomar o gosto pelo Tex.
    Sorte sua de ser agraciado pelo vírus texiano, pois já existe a tese de que não escolhemos o Tex, mas ele nos escolhe; e sorte nossa de ter um pard do seu calibre emparelhado conosco nessa agradável arca.
    De passagem, agradeço pela citação ao pseudo-livro que escrevi e digo que existe uma real chance de ser publicado de forma particular.
    E aproveito para deixa-lo convidado a visitar Jampa e passarmos um bom tempo fazendo um Sentieri dei Ricordi. Abraço e até logo!

  6. Valeu, GG. Quanto ao seu livro não concordo que seja “pseudo” e ele se tornará realidade, espero. Quando puder viajar a Jampa, entrarei em contato e deixo o convite para fazer o mesmo quando vier à Fortaleza-CE.

  7. Bacana encontrar aqui e ler a entrevista do conterrâneo Cleudo.

    Parece ser verdade a história de que a cada 10 brasileiros que estão fora do país (ainda que virtualmente) a metade é de cearense (rs).

    Abraços!

    Fred Macêdo

  8. É verdade, Fred. Tem outra sobre os cearenses: “Tem mais cearenses no mundo do que gente”. Brincadeiras à parte me orgulho de ser cearense e de ser conterrâneo de artistas fantásticos, como você. Parabéns pelo seu trabalho.

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