Entrevista com o fã e coleccionador: Aimar Aguiar

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Aimar Aguiar: Meu nome é Aimar Aguiar, tenho 75 anos de idade, casado, 14 filhos, 11 netos e 5 bisnetos. Ocupo o tempo cuidando dos meus 12 cães. Sou tenente coronel do corpo de bombeiros do estado da Bahia aposentado, formado em contabilidade, e educação física, pela universidade católica da Bahia, sou professor de natação e atualmente estou exercendo a função de árbitro de piscinas e maratonas aquáticas pela federação baiana de desportos aquáticos.

Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Aimar Aguiar: Desde quando tinha 8 anos de idade, e ganhei de meu pai Amynthas Aguiar (grande leitor das historias em quadrinhos – gibis), a primeira revista. Que foi o Zorro (The Lone Ranger) nº 1, de março de 1954. Depois fazendo permutas de revistas nas portas dos cinemas, com os amigos, indo à biblioteca Monteiro Lobato, passar a tarde lendo gibis infantis de todos tipos. E até o presente momento continuo colecionando, lendo e comprando, até o dia que o nosso bom Deus quiser.

Quando descobriu Tex?
Aimar Aguiar: Por que ele me marcou, e por causa dele toda semana ganhava meia dúzia de bolos com a famosa palmatória Gertudes. Naquela época Júnior (RGE) já estava no formato médio e custava cr$ 2,00. Meu pai, dava dinheiro para merendar, em vez de comprar a merenda (hoje lanche) comprava gibis, os três mais baratos da época que eram para além de Júnior, Pequeno Xeriffe e Xuxá que custavam cr$ 1,00 e tinham o formato talão de cheque (Vecchi) e Júnior (RGE), deixava de merendar e comprava estas revistas, quando chegava em casa meus irmãos me deduravam: “Papai, mamãe, Aimar deixou de merendar para comprar gibis”. Aí eu já sabia que ganhava meia dúzia de bolos, como gostava das aventuras do Texas Kid como era chamado Tex nos anos 50, aguentava este castigo por causa de suas aventuras cheias de ação, brigas, tiros, índios, foras da lei, ladrões de gados, traficante, valentões, etc., etc. e etc. E fiquei triste quando no seu último número 263, na 2ª quinzena de julho  de 1957, deixou de circular. Somente 14 anos depois voltei a sorrir de alegria pela volta de Tex, em fevereiro de 1971 com a história “O signo da serpente”, que continua saindo até o presente momento.

Porquê esta paixão por Tex?
Aimar Aguiar: Como sou um humilde colecionador de gibis de todos os géneros, não poderia de não deixar de gostar e colecionar de um personagem que surgiu na Itália em setembro de 1948. Aqui no Brasil as suas aventuras começaram no dia 25 de fevereiro de 1951 (as aventuras de Texas Kid). Permanece até hoje firme e forte passando por diversas editoras como Rio Gráfica Editora, mais conhecida como “RGE”, Vecchi, Globo, Mythos, Salvat e agora a Panini. Hoje em dia Tex tem vários títulos como Tex Anual, Tex Almanaque, Tex Coleção, Tex Edição de Ouro, Tex Edição em Cores, Tex Especial, Tex Edição Histórica, Tex Edição Especial Colorida, Tex Formato Italiano, Tex Gold, Grandes Aventuras de Tex, Tex Gigante, Tex Graphic Novel, Maxi Tex, Tex Platinum, Os Grandes Clássicos de Tex, Superalmanaque de Tex, Tex (mensal) e Tex Willer. Não esquecendo que em 1980 foi lançado um grande álbum de figurinhas do Tex com 384 cromos e outros títulos. Por todo esse motivo é a minha paixão do Tex Willler (no começo era chamado Texas Kid como foi batizado aqui no Brasil em 25 de fevereiro de 1951. Só a partir de fevereiro de 1971 é que começou a ser chamado de Tex).

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Aimar Aguiar: Para mim Tex é diferente de outros personagem de faroeste das histórias em quadrinhos por vários motivos. No início de sua carreira Tex ou Tex Willer, era um fora lei (fugitivo da lei e o seu sobrenome era “Killer” – quer dizer matador), tinha maus temperamentos e hábitos como bebia, fumava, matava, espancava para arrancar confissões dos bandidos, não cantava, beber leite nem pensar, quando os rancheiros ou fazendeiros o convidavam para ir à sua residência para jantar, não gostava e não ia. Gostava mesmo era de uma vida violenta, só comia um bom bife e uma montanha de batatas fritas com ovos e uma grande caneca de cerveja. Devido a estes maus temperamentos e hábitos que os leitores chamaram à atenção, foi quando a conselho de Tea Bonelli, a ex-esposa de Gianluigi Bonelli, falou com ele, que desse mais atenção e carinho ao seu personagem. Depois disso é que o nosso herói passou a ser mais educado, mais atencioso, e a ser um Ranger. Eis aqui um texto de um dos personagens: “Texas Kid de agora em diante será o agente nº 3 do serviço secreto”. O agente secreto nº 1 é Kit Carson e o nº 2 se chama Arkansas Joe. No início de suas histórias tinha um cavalo chamado Dinamite, hoje dia monta em diversos. Na Itália, não me lembro o ano, fizeram uma estatística de quantos bandidos Tex, Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre tinham matado. Na época dos maus temperamentos e hábitos Tex Willer devia ter uns 20 anos ou mais, hoje em dia aparenta mais de 40, agora é o mais respeitável Ranger do Texas, tornou-se um grande líder e chefe branco dos índios navajos. Casou com Lírio Branco (sua ex-esposa, já falecida) e está no comando da tribo navajo até hoje. Tem como companheiros inseparáveis de aventuras: Kit Carson, Kit Willer (seu filho) e Jack Tigre, formando assim o quarteto fantástico. Uma criação de Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Aimar Aguiar: Sou um colecionador deste 1954 até o presente momento, se o nosso bom Deus quiser. Tenho mais de 100 mil exemplares de gibis desde 1908 que é o Almanaque do Tico-Tico (o mais antigo) até os atuais que continuam sendo publicados. Coleciono todos os géneros que sairam (vejam a live que está no Youtube feita pelo Ge Ge Carsan onde é exibida a minha coleção: Aimar Aguair colecionador). Quanto às revistas Tex, tenho mais de 6 mil exemplares como Júnior (que começou a ser publicada a partir de 25 de fevereiro de 1951, a partir do nº 28 ao 263 (coleção completa), o Almanaque de Bufalo Bill 1956 – título: Texas Kid – A Lei do Revólver). E das editoras que publicaram e publicam Tex. Tenho este número devido de ter de 2 e até mesmo 8 exemplares como o Álbum de Luxo lançado pela Vecchi em 1980, os nºs 01, 100, 200, 300, 400 etc., chego a ter 3 ou 4 de cada, vários exemplares italianos (almanaques e revistas) e assim por diante.
As mais importantes para mim são: Júnior, Almanaque do Bufalo Bill 1956 e os seguintes números do Tex da 1ª série publicada pela Vecchi: O Totem Misterioso (nº 82) – Pacto de Sangue (nº 94) – Aventura em Utah (nª100) – A Mão Vermelha (nº 135) e o Sindicato do Ópio (nº 150). Existem algumas novas publicadas que gostei , mais preferencio as que citei.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Aimar Aguiar: Coleciono tudo com que se relacione com Tex como fanzines, revistas, álbuns, álbum de figurinhas, fotos, tampinhas de garrafa (comprei um jogo na Itália), marca texto, boneco, estatuetas, selos, póster de lançamento, póster de propaganda, livros, gibis (rasgados, faltando páginas e capas), suas vestes (camisa, camiseta, boné, chapéu e outros itens). Também existem outros grandes colecionadores como o João Marin, Adriano Rainho s e muitos outros que curtem tudo isso.

Qual o objecto Tex que mais gostaria de possuir?
Aimar Aguiar: Uma estatueta que tivesse os cinco personagens icónicos juntos (Tex Willer, Lírio Branco, Kit Carson, Kit Willer e Jack Tigre) e algumas novidades novas que aparecessem.

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Aimar Aguiar: Para mim tem que ser a volta, Tex nº 1 em fevereiro de 1971, pela Vecchi, que foi um dos maiores marcos daquela década. Com uma excelente e grandiosa aventura.
Quanto aos desenhistas e argumentista. Todos foram bons e excelentes em sua época, a qual respeito muito isso, temos que dar valor a cada um deles, todos eles são ou foram (falecidos) os melhores. Nesta equipa da Bonelli só entra que tem qualificações e profissionalismo no que faz. Tem muita gente nova que está entrando hoje em dia nesta equipa, com bons desenhos, com bons argumentos, que chegam à marca de 400 a 500 páginas uma só aventura. Já ouvir falar que estão fazendo uma história de 770 páginas. Respeito todas as opiniões de cada um. Cada qual tem a sua preferência, gosto ou preferido. Para mim, e no meu conceito todos são bons e excelentes argumentista e desenhistas, seja do passado ou atual por isso não menciono nomes de ninguém. Porque todos são merecedores no que fez e faz de melhor. Tiro o chapéu para todos eles.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Aimar Aguiar: Na verdade o que me agrada mais no Tex Willer, eu vejo que nele prevalece um eficaz senso de justiça, que aprofunda as suas raízes num espírito libertador pelo respeito aos valores humanos, as aspirações do homem viver livremente, no que se junta um natural sentido de justiça para cada violação destes valores, seja por obra do indivíduo, seja obra do poder público.
Não existe nada de desagrado do Tex para mim. Tex é, de fato, “obrigado” a agir com violência num contexto social que não lhe dá alternativas. Porém, se olharmos a obra num todo, veremos que Tex entende que a lei favorece somente o forte, o poderoso, em detrimento do fraco, e por isso este último conta sempre com o auxílio de Tex.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Aimar Aguiar: Qual a razão que faz um ícone? Simples, enquanto praticamente todos os personagens de faroeste desapareceram de circulação, Tex é indiscutivelmente o sucesso em quase todos os lares do Brasil e em outros países. E o seu prestígio se renova a cada publicação. Apreciado e preferido por jovens e adultos, homem ou mulheres, pelo seu desempenho nas variadas publicações de cada dia porque os responsáveis pela entidade Bonelli, têm responsabilidade e eficiência na elaboração dos seus grandiosos lançamentos. Evoluindo assustadoramente, com a missão de dar aos leitores uma variedade de temas e procurando ser objetivo no tratamento do tema de cada aventura, desde sua definição a um breve ou longo histórico.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Aimar Aguiar: Sim, hoje em dia os encontros são mais quando tem eventos com temas relacionados a personagens ou ao mundo encantado das histórias em quadrinhos. Seja aqui na Bahia ou em outros estados, viajo para rever grandes amigos e participar. Apesar dos meus 75 anos de idade. Nestes tempos pandémicos tenho também encontros com grandes colecionadores através de lives e no Facebook.
Os bons encontros mesmo foram quando era adolescente e se dava nas portas dos cinemas para compra, troca e venda. Isso acontecia todos os fuins de semana. Foram grandes lembranças, grandes momentos e hoje são só saudades.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Aimar Aguiar: Criado por Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini e lançado no dia 30 de setembro de 1948, uma quinta-feira, com uma tiragem de 45 mil exemplares, semanal, em formato pequeno e horizontal b (formato talão de cheque), com 32 páginas (hoje em dia há aventuras de 400 ou 500 páginas e inclusive já ouvi falar que estão a fazer uma aventura com 770 páginas) e cerca de três quadrinhos e em continuação. Chegando ao Brasil no dia 25 de Fevereiro de 1951, suas aventuras começaram a ser publicadas na revista Júnior pela Rio Gráfica Editora (RGE) a partir do nº 28. Terminando suas aventuras no nº 263 na 2ª quinzena de julho de 1957. Votando às bancas 14 anos depois em fevereiro de 1971 pela editora Vecchi com titulo “O Signo da Serpente), passou por crise (teve que mudar a cor de sua camisa vermelha para amarelo por causa da ditadura – não podia usar nada que fosse de cor vermelha e nomes estrangeiros), passando por várias editoras, continuava, firme forte e vivo até hoje. Depois disto tudo. Seu futuro está garantido pelo grande número de colecionadores(as), leitores(as) e fãs. Sem contar os meios de comunicações (televisão, rádio, internet, fanzines, revistas, grupos e mais grupos do grandioso Tex Willer – Texas Ranger – e seus pards Kit Carson, seu filho Kit Willer e o navajo Jack Tigre) para conferir é só entrar no Youtube que você encontra o que desejar do herói texiano, inclusive leitura online. A cada dia mais cresce o número de coleciondores(as) de todas as idades, lançamentos e mais lançamentos (de diversos formatos e números de páginas), assim sendo, o futuro de Tex esta garantido pelos grandiosos eventos e os acontecimentos de cada dia e os que virão. Por ser um fenómeno mundial das histórias em quadrinhos. Só está faltando fazer um grande filme à altura do Tex Willer. O primeiro foi realizado em 1985 com o título “Tex e o Senhor do Abismo” com Giuliano Gemma.

Prezado pard Aimar Aguiar, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

6 Comentários

  1. Aimar Gibi Aguiar é o Tex e o Superman do colecionismo. É o Hulk recheado de gibis de todas as épocas. É o professor Xavier dos quadrinhos. É o Tony Stark baiano da banda desenhada.

  2. Parabéns ao blogue do Tex por mais esta belíssima entrevista. Parabéns ao Aimar por dividir conosco a sua história com Tex e essa grande paixão pelos quadrinhos.

  3. Excelente entrevista do especialista cel AIMAR.
    Acervo relevante e entende do riscado.
    Destaco esses pôsteres da vecchi, das suas coleções.
    Vida longa ao nosso amigo.

  4. Poucas coleções chegam ao nível da desse cara aí, Aimar sabe como causar inveja em qualquer texiano de respeito!
    Abraço meus amigos, e mais uma vez belíssima coleção… como disse o Ge Ge, Aimar é praticamente uma bibliotex ambulante, uma enciclopédia completa do herói mais querido do faroeste mundial!

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