Por Júlio Schneider*
Um momento mítico do Velho Oeste, presente em incontáveis filmes, romances e histórias aos quadradinhos é o duelo. Em setenta anos de vida editorial, a saga de Tex Willer apresentou aos leitores embates de todo tipo, muitas histórias concluíram-se com um confronto do herói com o vilão da vez, mas nem todos esses confrontos têm a aura espetacular do duelo tradicional, um contra o outro, no meio de um saloon ou de uma rua, em que os contendores olham-se, apreensivos, até ao momento em que sacam e o vencedor é o mais rápido, ou o que tem a melhor mira. Ou o que trapaceia.
Tex participou de muitos duelos, e o primeiro que se viu aconteceu na segunda história da série, A Mão Vermelha, no capítulo que recebeu o subtítulo Na Trilha da Morte: o mexicano Alonzo ameaça liquidar Tex porque este ofendeu o seu chefe, o bandido El Diablo, e o nosso herói propõe que a questão seja resolvida no confronto direto. O resultado do desafio envolveu, além de boa mira, a velocidade: antes de atirar, ambos tiveram que correr às extremidades do balcão para recuperar a arma.
No pódio dos duelos memoráveis merece um lugar de honra o que foi disputado com El Muerto, personagem tão bem caracterizada pelo roteirista Guido Nolitta que deixou saudades nos leitores, além de um desejo de que o vilão não tivesse morrido e pudesse regressar noutras histórias. A cena antológica do duelo final entre Tex e El Muerto no cemitério de Pueblo Feliz (nome bem apropriado) é uma homenagem assumida, inclusive nos enquadramentos, ao realizador Sergio Leone e a uma de suas obras-primas, Por Mais Alguns Dólares (no Brasil, Por Uns Dólares a Mais). Assim como no filme, nesta trama o sinal para os desafiantes sacarem a arma é dado por um velho carillon, um relógio de bolso.
Dentre os duelos resolvidos de forma desleal, o mais famoso aconteceu na rua principal do vilarejo de Silver Bell. O patife Ruby Scott tenta deixar Tex na pior posição num confronto, com o sol nos olhos, mas o ranger é experiente, não se deixa enganar e posiciona-se de modo favorável. Mas o astuto pistoleiro joga mais sujo ainda e, antes que a contagem chegue até três e sem nem mesmo sacar a arma, dispara e tira o adversário de combate. Um duelante leal sequer pensaria na possibilidade de usar um coldre montado com um elo giratório, mas o inescrupuloso Scott não conhecia o significado de palavras como honra e lealdade.
O primeiro duelo colorido de que Tex participou foi na aventura fora de série chamada justamente de O
Duelo, lançada quando Tex completou 50 anos, em 1998, naquela que foi a primeira história com argumento de um desenhador, Fabio Civitelli. Arizona Kid, o homem do revólver de ouro, desafia Tex a um duelo, mas um jovem inconsciente que brinca com armas não pode jamais levar a melhor sobre alguém que usa os seus revólveres imbuído de um ideal de justiça.
O recorde de duelos numa só edição ocorreu recentemente, numa edição da série Tex Especial Colorido, em que o Ranger é desafiado nas cinco histórias do volume, e participa de dois duelos tradicionais: no primeiro, o artista do piano e do revólver René Valjean recorre até a uísque drogado para tentar levar vantagem contra o nosso herói, e, no segundo, o jovem Rick Short treina durante anos para se vingar de Tex que, para igualar as forças no ato do confronto, mantém a mão direita amarrada às costas. O final deste duelo é surpreendente.
Sozinho, com todos os pards ou em dupla com Carson, como no duelo no Sunset Corral, contra um ou contra vinte, Tex é um campeão de duelos, e muitos outros combates ainda estão por vir na carreira deste jovem de setenta anos.
* Texto de Júlio Schneider publicado originalmente na Revista nº 8 do Clube Tex Portugal, de Junho de 2018.
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Mais uma matéria Nota 10 para os texianos da pura estirpe. Parabéns, Julio!
Clássico western os duelos.
Artigo primoroso, para os fãs do verdadeiro bang-bang (aqui no Brasil). Parabéns ao nosso já conhecido e exímio comentarista, Júlio Schneider!