Texto da secção Cultura de 12/11/2019
Banda Desenhada
F. Cleto e Pina
“Pessoa volta a ser herói de BD”
* Mauro Boselli e Michele Cropera guiam-nos numa história cheia de mistério, esoterismo e aventura passada em Portugal .
O que pode haver em comum entre o poeta português Fernando Pessoa, um caçador de vampiros, Cthulhu, e o mestre do ocultismo britânico Aleister Crowley?
A resposta encontra-se em “Dampyr: O suicídio de Aleister Crowley”, álbum de banda desenhada acabado de lançar em Portugal pela nova editora A Seita, que conta com argumento de Mauro Boselli e desenho de Michele Cropera, que esteve recentemente no Amadora BD.
O Dampyr do título é um termo do folclore eslavo, que designa o filho de um vampiro e de uma humana, tornando o seu sangue mortal para aquelas criaturas e fazendo dele o seu mais perigoso predador.
Nesta história, que abre ao som do fado, os autores captaram muito bem o espírito saudosista e nostálgico da Lisboa do início do século, mas o habitual protagonista, Harlan Draka, mantém-se na sombra, para que sejam os dois amigos com quem se desloca a Portugal a investigarem o desaparecimento seguido de um aparente suicídio de Crowley, ocorrido décadas antes, em 1930, na Boca do Inferno, perto de Cascais.
Pessoa tem grande destaque numa narrativa densa e consistente, de contornos fantásticos, em que uma forte base histórica se combina com ficção e fantasia, ao bom modo da série Dampyr . Nela, acompanhamos no passado o poeta português cujo interesse pelo ocultismo o aproximara do mago britânico, e no presente vamos descobrir como aquele acontecimento, o Cthulhu dos contos de Lovercraft, o terramoto de 1755, e a relação de Pessoa com a amada Ofélia Queiroz têm inusitada ligação.
O dampyr Harlan Draka é um dos heróis da Sergio Bonelli Editore, mais conhecida por editar as aventuras de Tex ou Dylan Dog, e esta não é a primeira vez que vem a Portugal, pois em “O esposo da vampira” e “Tributo de Sangue”, compiladas no volume “Aventuras em Portugal” (ed. Levoir), já passara pelo Porto, Gaia e Régua, para investigar acontecimentos paranormais.
Pessoa habitué na BD
Neste encontro diferido entre Fernando Pessoa e Dampyr, não é a primeira vez que o poeta surge como personagem de BD. Em “A vida oculta de Fernando Pessoa”, André Morgado e Alexandre Leoni fizeram dele agente de uma sociedade secreta encarregada de limpar o mundo de zombies, o que explicaria os seus heterónimos, usando muitas citações do poeta. O mesmo tinha feito o cartoonista Laerte em 1987, quando se deu o improvável encontro entre Pessoa e os Piratas do Tietê, num divertido episódio carregado de nonsense em que no final vence a… poesia!
Mais convencional é “As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal…”, de Miguel Moreira e Catarina Verdier, uma extensa biografia aos quadradinhos.
Já “Pessoa & Cia”, da ilustradora espanhola Laura Pérez Vernetti, junta uma curta biografia a preto e branco com a ilustração colorida de um punhado de poemas do escritor português.
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F. Cleto e Pina
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Off: Nathan Never volta a ser publicado no Brasil. Pela editora Graphite, a mesma de Brad Barron. A Mythos não se interessou em continuar a publicar o herói, que é considerado um dos melhores da casa Bonelli.