CIAO GALLIENO FERRI

GALLIENO FERRI (1929-2016)

Gallieno Ferri (1929-2016)

Por Sérgio Madeira de Sousa [1]

Dois de Abril de 2016 foi um dia muito triste para os amantes da BD! Gallieno Ferri, um dos desenhadores com maior prestigio em Itália, e uma referência para inúmeras gerações de artistas, num país onde a BD é muito mais do que uma forma de entretenimento, faleceu em Génova, a mesma cidade onde nasceu em 21 de Março de 1929, há oitenta e seis anos atrás.

No inicio da sua vida profissional e antes de se dedicar à nona arte, trabalhou alguns anos como agrimensor, tendo começado a sua carreira de desenhador quase por acaso, após ter sido seleccionado num concurso para novos talentos promovido pela editora de Giovanni De Leo. Para essa mesma editora, com o argumento do próprio De Leo e com o pseudónimo de Fergal, Ferri vai desenhar em 1949, o seu primeiro personagem: Il Fantasma Verde. Seguem-se Piuma Rossa, um western, e Maskar, personagem criado em conjunto com De Leo para substituir Fantax. Série, que apesar do enorme sucesso obtido, por ser violenta e, devido à censura existente na época, teve de ser cancelada! Maskar não passava de uma “cópia” do Fantax expurgada dos excessos de violência que motivaram o cancelamento!

Durante o período 1949 e 1951, além do trabalho normal na editora, Ferri envolve-se noutros projectos com De Leo, como Big Bill, Le Casseur e Robin Hood, publicações licenciadas pela francesa de Pierre Mouchtt, a S.E.R.

Entre 1952 e 1953, mais uma vez com De Leo, e numa co-produção com Mouchott, criam Thunder Jack. Posteriormente, após a interrupção da série em Itália, Ferri vai continuar a desenhar o personagem apenas para o mercado francês. Nessa série o desenhador vai adoptar, pela primeira vez, as próprias feições para a composição do protagonista. Processo que vai repetir mais tarde com Zagor! Como reconhecimento do seu trabalho em França, Ferri é convidado por Mouchott a criar outros personagens especificamente para o mercado gaulês e para a S.E.R.. Surgem então, fruto dessa ligação, Kid Colorado, Jim Puma e Tom Tom. Este ultimo publicado mais tarde em Itália pela De Leo.

No final da década de cinquenta, do século passado, o desenhador decide voltar a trabalhar, também, para o mercado italiano, iniciando a colaboração com a redacção do Il Vittorioso, desenhando diversas histórias de Capitan Walter e de Jolly.

Em 1960 conhece Sergio Bonelli, o então jovem editor da Edizioni Araldo, a actual Sergio Bonelli Editore, que lhe reconhece enorme talento, entregando-lhe a responsabilidade de desenhar alguns episódios de Giubba Rosa escritos pelo seu pai, Gianluigi Bonelli. Após a conclusão desses trabalhos, e não existindo outros argumentos disponíveis, Nolitta que pretendia manter o extraordinário desenhador, cria um personagem especificamente para ele: Zagor!

Sergio Bonelli e Gallieno Ferri

Em 1975, novamente com Guido Nolitta, criam Mister No, desenhando apenas a história inicial e as primeiras 115 capas da série. Devido ao sucesso de Chico, em 1979 é lançada uma nova colecção dedicada a este personagem, CICO STORY. Nolitta e Ferri são os responsáveis pelos primeiros cinco números da colecção! Entre 1998 e 2000 Ferri desenha as capas das ultimas 3 edições especiais de “Il Comandante Mark”.

A sua carreira de desenhador ficaria definitivamente ligada ao encontro com Sergio Bonelli no longínquo ano de 1960 e ao personagem por eles criado, Zagor! Após a publicação do primeiro número em 1961, até aos dias de hoje, decorridos cerca de cinquenta e cinco anos, Ferri manteve-se a desenhar o personagem, tendo produzido todas as capas de todas as séries, ultrapassando o milhar, desenhado mais de cento e vinte histórias em mais de vinte mil pranchas. Esta ligação de quase cinquenta e cinco anos a um personagem é muito provavelmente, caso único na história da BD mundial.

José Carlos Francisco e Gallieno Ferri

Inspirado pelos grandes autores clássicos dos anos 20, 30 do século passado, Alex Raymond, Phil Davis, Ray Moore e Milton Carniff, Ferri era um desenhador muito versátil, capaz de produzir desenhos muito expressivos aliados a uma enorme capacidade de execução. Estas duas características do seu trabalho, rapidez e versatilidade, justificam, só por si, a magnitude dos números apresentados. Mas mais do que números, o seu nome está escrito em algumas das mais belas aventuras do personagem! Aquelas que os fãs lembrarão para sempre: “Oceano”, “A marcha do desespero”, “Kandrax, o mago”, “Dharma, a bruxa”, ou “O retorno do vampiro”, entre muitas outras.

Por se manter activo numa idade tão avançada e até ao seu falecimento, numa profissão extremamente exigente ao nível da visão e destreza de movimentos, por ser uma inspiração para os jovens desenhadores, por ter feito sonhar com a sua arte, inúmeras gerações de leitores um pouco por todo mundo, Gallieno Ferri é um exemplo de vitalidade, dedicação, paixão, e acima, de tudo, de vida, que a sua obra perpetuará para sempre. Obrigado Ferri.

Referências:
http://dimeweb.blogspot.pt/2016/01/zagor-anno-per-anno.html
http://www.sergiobonelli.it/gallery/news/39937/Addio–Maestro-Ferri-.html

[1] Sérgio Madeira de Sousa escreve regularmente artigos bonellianos no seu excelente blogue Thebonelliemporium

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

6 Comentários

  1. Espero que a Mythos relance a origem do Zagor em cores com formato italiano, uma das maiores aventuras de HQs em todos os tempos, seria uma grande homenagem aos geniais Ferri/Sergio Bonelli, e traria novos leitores para o Zagor.

  2. Faleceu um dos gigantes da BD italiana e mundial. Para mim, nunca ninguém desenhou Zagor de forma tão perfeita como Ferri.

  3. Um gênio na qualidade dos seus trabalhos, e um exemplo por sua vitalidade e força de vontade.

  4. Grande mestre dos quadrinhos, se em Tex tivemos a honra dos desenhos de Galep, os zagorianos tiveram a sorte de ter Ferri como seu maior expoente. Descanse em paz e muito obrigado por nos fazer viajar no mundo de aventuras de Zagor, por meio desta grande declaração de amor pelo personagem em todos estes anos. Fica a pergunta, quem estará a altura de ser o capista oficial de Zagor e suceder o grande mestre, a exemplo de Villa com o Tex?

  5. A reunião dos grandes chefes está acontecendo lá nas sagradas pradarias de Kiki Manitu e descanse em paz mestre Ferri, teu legado que sobreviverá através da tua arte será eterno.

  6. Adeus, Ferri…
    Há cerca de 31 anos atrás, tive meu primeiro contato com a arte marcante de Gallieno e o texto inconfundível de Nollita. Tinha apenas 9 anos de idade e, prontamente, me apaixonei pelo universo de Zagor. Obrigado Ferri, pelos momentos aprazíveis que passei nessas 3 décadas lendo as aventuras de seu personagem tão querido por todos nós leitores. Descanse em paz!

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