BLUE em “O DUELO”: Um Western de Wilde Portella, ilustrado por Wendell Cavalcanti

Dando continuidade à rubrica, intitulada “Aventuras do Far-West“, destinada como o próprio nome já indicia, a contos ligados ao Western, contos escritos e ilustrados por grandes nomes ligados à BD, o blogue português do Tex apresenta hoje um conto da autoria da prestigiada dupla Wilde Portella (texto) e Wendell Cavalcanti (ilustração), que se intitula “O Duelo” e que tem como protagonista, Blue, o parceiro de Chet.

BLUE em “O DUELO

Um western de Wilde Portella ilustrado por Wendell Cavalcanti

Blue Lonnegan havia chegado a Saint Joseph, no Missouri, em companhia da bela e rica viúva espanhola Lola Villa Alvarez, de 26 anos de idade. Era uma mulher alta, de pele morena, olhos castanhos-claros e cabelos negros, compridos e encaracolados. Ela chamava a atenção por gostar de se vestir como um cowboy. As mulheres a desprezavam. Os homens tentavam conquistá-la a qualquer custo. Eles adoravam o seu jeito diferente de ser. Billy The Killer, um jovem de 18 anos, do tipo abusado, com seus cabelos loiros e exímio atirador, havia enviado para Lola um par de brincos em forma de argola. Ele e seus dois irmãos mais velhos, que trabalhavam no Triple B Ranch, moravam numa casa branca na parte alta da Lafayette Street.

Há três semanas Blue e Lola estavam hospedados no Star Hotel, nos quartos 115 e 118 respectivamente. Lola Villa queria comprar justamente o Triple B, que pertencia ao criador de gado Hugh Barry, muito amigo do lendário John Simpson Chisum. As negociações ainda não haviam sido concluídas, e o casal sempre era visto junto entrando no cartório de documentos  juntamente com Barry, ou cavalgando em seus cavalos pelas terras e admirando a belíssima casa pretendida pela jovem viúva. Particularmente Blue adorava ver o gado pastando solto e os currais repletos de cavalos puro-sangue. Não se importava quando os vaqueiros paravam o serviço para olhar a bela e esguia figura de Lola.

Corria o boato que Lola Villa havia dormido com Billy no quarto do hotel. Blue sabia que aquilo poderia gerar problemas: um jovem arrogante que se vangloriava em ser “o gatilho mais rápido do Missouri” mantendo encontros fortuitos com a bela senhora que havia chegado ao México com 18 anos de idade para casar com Emiliano Alvarez, um dos mais ricos criadores de gado do país. Mas ele, Blue Lonnengan, estava interessado em receber a comissão de dois mil dólares referente à compra do Triple B. O acordo havia sido feito no Novo México, quando Blue visitava a sua mãe e por um acaso soube dos interesses de Lola pelas terras de Hugh Barry.

Naquela tarde fria, com as nuvens pesadas impedindo a luz do Sol, Blue estava no Lone Star Saloon ao lado de Lola. Encostado no balcão ele observava a clientela enquanto bebia algumas doses de uísque. A viúva não se fez de rogada e aceitou tomar uma dose também. Naquele momento o salão estava com poucos fregueses sentados às mesas jogando cartas sem dar a mínima atenção ao pianista que cantava e martelava nos teclados do velho instrumento desgastado pelo tempo. A canção falava das belezas naturais do Alabama. Enquanto isso o olhar de Blue estava distante, pensando sobre o efeito que a presença de Lola Villa causava nele. A mulher atiçava a sua libido, mas ele não lhe havia declarado as suas intenções, pois esperava ansioso o momento de receber a sua comissão e sair da cidade o mais rápido possível. Sabia que o envolvimento de Lola com Billy The Killer poderia causar uma série de problemas, pois parecia-lhe que ela era inconsequente nos seus actos.

As negociações seriam concluídas na manhã do dia seguinte, com Lola Villa pagando caro pela compra do Triple B. Absorto em seus pensamentos Blue não notou quando Billy The Killer adentrou no saloon, pousando o olhar na viúva. O rapaz, que portava dois revólveres nos coldres, caminhou em direcção ao balcão com um largo sorriso ornamentando o seu rosto. Ao avistar Billy o pianista estancou as notas que tirava do piano e calou a sua voz. Só então Blue Lonnegan viu o rapaz caminhando em sua direcção. Um sexto sentido fez com que ele olhasse para Lola e afagasse a coronha do seu Colt.

– Lola! Lola! Divina! A mais bonita mulher de toda a América! – disse Billy, recostando no balcão ao lado da moça. Blue encarou o rapaz enquanto virava aquela que ele pretendia que fosse a sua última dose.
– Billy? O que você está fazendo aqui, garoto? Você não devia estar no Triple B conversando com os vaqueiros e contando-lhes a novidade? – indagou Lola Villa.
– Claro que deveria estar lá agora. Mas vi você entrando no Lone Star com o mestiço, e resolvi ver como você estava – respondeu Billy, olhando para o barman – Coloque uma dose desse seu uísque horroroso. Estou morrendo de sede!

Blue olhou para Lola que olhava encantada para Billy Killer.

– Senhorita Alvarez estou deixando paga a nossa conta – disse Blue colocando três moedas sobre o balcão – Vou para o hotel descansar um pouco.
– O velho está cansado, Lola? Ou vai embora porque eu cheguei?
– Billy…Billy… Blue é um amigo que está me ajudando na compra do Triple B. Foi ele quem intermediou tudo entre mim e o senhor Hugh Barry.

Suspendendo um pouco o chapéu com o indicador Blue voltou a encarar Billy.

– Garoto…Eu estou indo embora porque realmente estou cansado. Tivemos um dia longo, eu e Lola. Por isso pretendo voltar para o hotel e tirar uma soneca.
– Escute aqui, mestiço! Não estou a gostar nada desses seus passeios com a minha namorada!
– Pelos diabos! Eu não sabia que vocês já estavam namorando – disse Blue voltando a encostar-se ao balcão.

Para a surpresa de todos que observavam o diálogo, Billy jogou a dose de uísque no rosto de Blue, que se afastou com os olhos apertados e ameaçadores.

– Foi você quem pediu para que isso viesse a acontecer, garoto bastardo! – alertou Blue recuando dois passos.

Nesse exacto momento os fregueses afastaram-se em direcção das paredes de madeira. As três garotas que trabalhavam no Lone Star seguiram em direcção da escadaria que dava acesso ao primeiro andar. Blue posicionou-se e Billy também. O garoto tinha as pernas arqueadas e parecia ser um bom atirador, pelo menos foi dessa forma que todos observaram. Lola ficou pálida, de pé, com os olhos espantados.

– Vocês não devem fazer isso, rapazes! – disse ela com a voz quase sumida.

Blue e Billy sacaram os seus revólveres ao mesmo tempo. Mas por uma questão de milionésimo de segundos, o rapaz levou um balaço no coração e outro no estômago, caindo para um lado enquanto o seu revólver disparava a esmo.

– BLUE! O que você fez seu maldito? O que você fez? Meu pobre Billy – disse Lola  jogando-se ao lado do corpo inerte de Billy The Killer.

Naquela tarde friorenta o matador tinha sido Blue Lonnegan, que ficou olhando para uma Lola Villa Alvarenga postada ao lado do corpo inerte do pistoleiro. Todos que estavam presentes no saloon foram solidários com o homem que dera fim à vida de um jovem que já havia assassinado 21 pessoas em duelos e à traição. Ninguém sentiu a sua morte. Apenas Lola que continuava chorando debruçada sobre o corpo.

Blue colocou o seu revólver de volta ao coldre e caminhou em direcção à porta principal do saloon. Ele meditava consigo mesmo se a morte do rapaz tinha sido válida. Talvez Billy tivesse atravessado o seu caminho para chegar ao fim da jornada. Além disso, o pistoleiro não mataria mais ninguém. Havia sido válido sim, afirmou a si mesmo.

– Até nunca mais, senhora Alvarez. Esqueça que me deve dois mil dólares – disse ele quando passou por Lola que ainda chorava ao lado do corpo inerte no assoalho do Lone Star.
FIM

4 Comentários

  1. Grandes Zeca e Wilde!!!

    Mestre Wilde ainda não me conhecia, portanto chamar a personagem de Senhora Alvarez não foi nenhuma homenagem a mim. Rssss

    Mas foi um feliz coincidência. Rssss

    Parabéns ao Wilde por mais esta importante participação no Blog do Tex, e ao Zeca, por nos possibilitar esta boa leitura.

    Abraços

    Alvarez

  2. Uma história à Tex, simples, vigorosa e directa! Wilde Portella domina o “western” como um mestre… tanto que nalguns trechos do seu conto parece-me rever a escrita de Gianluigi Bonelli.
    Por outro lado, as suas personagens femininas são únicas, ardentes e sensuais como o próprio Oeste selvagem, e deixam sempre uma marca na nossa memória… mesmo as que esquecem a gratidão para chorarem a morte de um bandido. Parabéns, mestre Wilde!

  3. Não há dúvida quanto a importância do Wilde Portela para o universo das HQ brasileiras.
    Os mais antigos conhecem e admiram o seu trabalho.
    Só não entendemos porque parou.
    Mas como a vida anda em ciclos ai está ele de volta, fenomenal como sempre.
    Parabéns Zeca, por mostrar esse talento para as novas gerações.

  4. Tenho toda a coleção do Chet e alguns especiais mas ao reler antigas aventuras sempre tenho vontade de mergulhar em novas aventuras deste universo portelliano.

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