As Leituras do Pedro: Tex Platinum #4 – Em Território Selvagem

As Leituras do Pedro*

Tex Platinum #4 – Em Território Selvagem
Mauro Boselli (argumento)
Alfonso Font (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Outubro de 2016
135 x 180 mm, 320 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 24,90 / 9,00 €

Justificações
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Se muitos ficam surpreendidos pela quantidade de títulos de Tex que a Mythos Editora disponibiliza – Tex, Tex Colecção, Tex Edição de Ouro, Tex Edição Histórica, Tex Edição em Cores, Tex Platinum – que (re)publicam os mesmos relatos, uma e outra vez, existe uma explicação lógica. Ou várias. Uma delas, é proporcionar a novos leitores o acesso a histórias clássicas. Outra, é disponibilizar num só volume, de forma integral, histórias que originalmente se estenderam por duas ou mais revistas.

A publicação por ordem cronológica ou na versão a cores, são duas outras razões de igual modo válidas. Há ainda uma outra, que possivelmente só funciona no universo ‘texiano’: a existência de um núcleo duro dos fãs do ranger que compra tudo o que é publicado do seu herói favorito….

Independentemente da razão que orientar o leitor destas linhas até este Tex Platinum #4 – que possivelmente deveria estar agora distribuído em Portugal não fossem as más notícias que entretanto chegaram – ele justifica uma leitura atenta, mesmo por quem não é consumidor habitual dos ‘fumetti’ Bonelli.

Passada nas montanhas geladas do Canadá, onde Tex e Carson se deslocam a pedido de Gros-Jean, preocupado pelo desaparecimento voluntário mas demasiado demorado do Coronel Jim Brandon, este é um relato que foge, a vários níveis, ao que é tradicional em Tex.

Para além do reencontro com aqueles dois velhos amigos e dos locais que lhe servem de palco, um dos sinais distintivos de Em Território Selvagem é o facto de boa parte do protagonismo estar entregue a uma mulher, a bela e autónoma Dawn, com um papel que ultrapassa a de simples coadjuvante e a transforma numa personagem a ‘tempo ‘inteiro’, bem construída, com defeitos e qualidades bem humanas.


Depois, em jogo, estão várias amizades, momentos marcantes do passado que parecem regressar do fundo da(s) memória(s) e dificultam o tomar de decisões que se impõem ou ligações surgidas no presente que obrigam a repensar objectivos. Há ainda o tom de mistério que paira durante boa parte da narrativa relativamente a algumas identidades, relações e propósitos de algumas das personagens.

Finalmente – ou nem tanto porque esta história se apresenta bastante densa e diversificada – há uma faceta mística e sobrenatural que parece orientar alguns dos intervenientes e estar na origem de muito do que se está a passar.

Iniciada com a descoberta de um cadáver, seguida de uma conversa posterior densa – como raramente existiram em Tex – entre Brandon e outro membro da Polícia Montada – o relato está muito bem escrito por Mauro Boselli, que cria uma teia complexa que só aos poucos vai deslindando e onde muito do que parecia acaba por se revelar de forma diversa.


Para além disso, o guião de Em Território Selvagem foi entregue ao espanhol Alfonso Font, que nele aplicou o seu desenho duro e agreste como a paisagem exposta na maior das pranchas e, contrastando o branco que nela impera com o seu traço negro, preciso e expressivo, fez dela um belo trabalho gráfico que justificava um outro tipo de edição, mais cuidada e de maior formato. Como as da Polvo, por exemplo…

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Tem toda a razão, caro Pedro… Este magnífico episódio desenhado pelo mestre Alfonso Font (e já publicado num Tex Anual da Mythos) merecia uma edição mais condigna, como as que a Polvo tem dedicado aos texianos portugueses. Graças ao Rui Brito e ao Zeca (um excelente tradutor), os nossos pards têm ficado a ganhar, fazendo certamente inveja aos brasileiros 🙂
    Espero que a Polvo publique também, um dia destes, o álbum a cores do Serpieri. Seria a cereja no topo do bolo!
    Um grande abraço, com muita amizade e admiração.

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