As Leituras do Pedro: Tex Gigante #23 – Patagônia

As Leituras do Pedro*

Tex Gigante #23
Patagônia
Mauro Boselli
(argumento)
Pasquale Frisenda (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2009)
182 x 277 mm, 242 páginas, preto e branco, capa brochada
9,00 €

Resumo
A pedido de Mendonza, um antigo ajudante de Montales, Tex e o seu filho Kit deslocam-se à Argentina para servirem de intermediários entre o governo e os índios locais, tentando manter a paz numa zona conturbada.

Desenvolvimento
Fosse a bibliografia de Tex constituída apenas pelas edições gigantes (os italianos Texone) e o mais antigo western da BD mereceria igualmente um lugar de destaque na História das histórias aos quadradinhos, embora por motivos diferentes.
Apresentando um retrato (algo) diferente do Ranger em cada número, não só graficamente mas também pela adequação (contida…) do herói ao estilo – gráfico, narrativo, temático  – do autor convidado, esta colecção reúne algumas das suas melhores histórias e também algumas excelentes bandas desenhadas.

É o caso deste “Patagônia” – convém dizê-lo pois a introdução já vai longa – que se inicia com uma das melhores sequências a preto e branco que vi nos últimos meses: o ataque nocturno a um posto fortificado, com os intervenientes muitas vezes apenas silhuetas, mergulhadas numa neblina que os torna quase invisíveis, com a tensão crescente que vai culminar logo de seguida com a aparição atroadora dos cavaleiros e no massacre de uma aldeia indígena.

Mas, se este início é, a um tempo, surpreendente, pela localização da acção – a pampa argentina -, e prometedor para o resto do relato, de imediato vem o que eu considero o ponto mais fraco da história: o motivo para Tex deixar o seu território habitual para se deslocar ao outro lado do mundo, o que soa pouco credível, seja qual for o ângulo pelo qual se considere.
Mas, ultrapassada esta questão (que não é só de pormenor numa BD de tanta qualidade), mergulhamos num épico magnífico e intenso, no qual vamos assistir à luta de um povo pela sua sobrevivência, à custa de muita tenacidade, determinação, heroísmo, vontade de viver livre, sacrifício, sangue e (muitos) mortos.

Um épico – com uma forte componente histórica e realista – no qual Tex, embora tendo um papel importante, é muito menos interveniente do que é habitual, lutando contra forças superiores às suas, mesmo que para vencer elas utilizem métodos menos limpos e estratagemas pouco sérios, quando a sede de glória (?) se sobrepõe à justiça e quando os imperativos militares são mais fortes do que a amizade e a honra.

E se é verdade que nada disto é novidade em BD, nem sequer em Tex, a força, o carácter, a determinação que Boselli conferiu aos índios das pampas faz a diferença, transformando mais um western – porque o é, apesar da sua deslocalização! – num western diferente e marcante cuja leitura, com toda a certeza, não deixará ninguém indiferente.
Até porque, o seu final – a batalha contra as tropas governamentais nas estreitas gargantas andinas atravessadas pelos indígenas na sua fuga pela liberdade rumo ao Chile – apresenta, de novo, páginas notáveis, passíveis de entrar em qualquer galeria de quadradinhos a preto e branco ao mesmo tempo que são das páginas mais violentas que eu já vi em Tex, pese o facto – ou exactamente por isso – de não conterem qualquer texto.

A reter
– A força do relato.
– A caracterização dos índios argentinos: fortes, determinados, dispostos a tudo pelos seus ideais.
– O limitado protagonismo de Tex, que deixa à narrativa tempo para respirar e desenvolver-se (quase) à sua revelia.
– O traço de Frisenda, soberbo nas sequências inicial e final, muito bom em quase todos os restantes episódios.

Menos conseguido
– O pretexto que leva Tex e Kit até à Argentina.
– O facto de a sua fama o ter precedido junto dos índios locais.

Importante
– Este álbum está actualmente disponível nas bancas e quiosques nacionais. Aconselho seriamente a sua compra. Aos fãs de Tex e – principalmente – aos que não o são.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias e na revista In’ – distribuída as sábados com o JN e o DN), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro.

7 Comentários

  1. Excelente Artigo.
    Continuo firme: PATAGÔNIA é a melhor revista de TEX até agora.
    Será difícil superar esta aventura. Li uma só vez, de supetão. As emoções foram tantas que tenho medo de ler de novo. Mas qualquer dia vou arriscar e fazer isso, ou seja vou ler a revista outra vez. Gostaria de ter um exemplar italiano deste Texone.
    Abraço…
    Ary Otávio

  2. Estou curiosa para adquirir esta edição!
    Sem contar que Tex ficou tão másculo nessa capa…
    ahhh meu coração dispara! rsrsrsrs

  3. Eu já li e reli umas dez vezes, pard Ary, e continua sendo impactante, o melhor Tex que já li. Não concordo com o autor da resenha sobre os motivos fracos (no entender dele) de Tex ter aceitado viajar até a Argentina. Frisenda segura o tranco com sua arte incomparável em toda essa edição. Ah, e os índios, poucas vezes foram desenhados com tal dignidade… de encher os olhos.

  4. Acabei de ler pela 4ª vez. E isso porque tenho a revista há apenas uns 3 meses. Não é só uma das melhores histórias de Tex, é uma das melhores histórias em BD que já li. Não sei como não concorreu ao Eisner

  5. Terminei de ler esse épico essa madrugada, e confesso que fiquei emocionado, após anos crescendo lendo Tex, essa é, sem sombra de dúvida, a melhor aventura do Ranger (senão uma das melhores). Sensacional mesmo.

  6. Patagônia é a aventura ideal para quem pretende começar a ler TEX. Nela estão presentes os principais elementos que explicam o carisma e a longevidade desse herói de papel – o senso inoxidável de honra e justiça, a ponto de colocar em risco sua própria vida.

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