As Leituras do Pedro: Tex em Cores #31

As Leituras do Pedro*

Tex Edição em Cores #31
Gianluigo Bonelli (argumento)
Aurelio Galleppini (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Janeiro de 2017
160 x 210 mm, 210 p., cor, capa mole
R$ 27,90 / 10,00 €

Mal menor

Tex Edição em Cores, a colecção da Mythos Editora que se propôs (re)editar todas as histórias de Tex a cores, por ordem cronológica, numa colagem à colecção do jornal La Repubblica e do semanário L’Espresso que fez furor em Itália, não tem tido vida fácil. Sucessivas suspensões – temporárias – eram até agora a marca mais evidente nesta vida atribulada, agora reforçada – em novo regresso – pela diminuição do número de páginas e da qualidade do papel. Um mal menor (?) para assegurar a continuidade.

As razões, são as já conhecidas desta e doutras colecções, neste e noutros tempos. Custos de edição vs. falta de leitores.
Agora, na actualidade, a crise económica brasileira, surge duplamente penalizadora: pelo aumento dos custos – papel, impressão no estrangeiro, transporte – e pela diminuição do poder de compra dos (potenciais) leitores das edições.


Sinal – também? – de que o florescente mercado brasileiro não tem assim tanta abrangência? Ou tantos leitores de Tex? Ou que esta edição deveria procurar os seus leitores noutros locais – nomeadamente livrarias – em vez das bancas? Respostas que só o editor – juntamente com os seus leitores e com os que o poderiam ser – conhecerá ou poderá descobrir.

Se o formato italiano da edição felizmente se mantém, a diferença de papel faz a diferença – e de que maneira! Mais fino, mais absorvente, sem aquele cheiro de acabado de imprimir – sim, muitos de vocês sabem do que falo! Papel de jornal em vez de couché brilhante… Mas as opções em cima da mesa eram só duas: reduzir (custos) ou suspender de vez…
Entre os leitores, haverá com certeza quem assobie e quem aplauda. É verdade que ninguém gosta de passar de cavalo para burro, mas a escolha era entre isso ou ficar apeado…

Feita a exposição da forma, passemos ao conteúdo. As poucas mais de 200 páginas da edição (onde infelizmente faltam os prefácios originais de Sergio Bonelli) são quase completamente preenchidas com um relato publicado originalmente em 1965. Nele, um Tex ainda fora do corpo dos rangers, enfrenta dois assassinos de navajos da sua tribo e um coronel prepotente, e surge intransigente como sempre, desta vez disposto até a começar uma nova guerra índia se a justiça dos brancos não punir os culpados.


História clássica, com uma clara linha de demarcação entre ‘bons’ e ‘maus’, corre – literal e livremente – à vontade da inspiração da máquina de escrever e do pincel – sem linha condutora prévia, com diversas inflexões e actos surpreendentes por parte de Tex e dos navajos, mas com o final esperado embora também inesperado. É um dos relatos que construíram a lenda do chefe índio de pele branca e futuro ranger e fizeram dele um caso série de popularidade entre leitores fiéis e indefectíveis, que se mantém há décadas.


*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Concordo bem com o autor da resenha. Principalmente no tocante ao “mal menor”. O mercado brasileiro decaiu muito nos últimos anos, associado a uma debandada de leitores para os livros digitais ou qualquer outro petrecho mais “interativo” do que um livro ou BD, a priori. Eu tenho as Tex em Cores das duas qualidades: uma magnificamente incrível em qualidade (de miolo denso, e com cheiro de livro acabado de imprimir, é verdade); e também esta edição, a mais recente. Mas confesso que, se perdemos em qualidade, ganhamos em outro quesito: parece uma bobagem, mas o PESO do livro ou da revista (e da BD), conta muito para uma leitura maleável. Há que se pensar que a nova geração de leitores prezam por um bom produto, mas também gostam de algo prático, como no meu caso, que pouco tempo tenho para ler em casa e acabo levando as revistas na bolsa. Carregar uma mais antiga pesa bem mais do que a nova. E como eu sou a típica leitora que lê em mil posições estranhas, contar com uma edição leve me trouxe mais conforto na leitura.

    Então, analisando pelos pontos práticos, acho que acabamos ganhando mais do que perdendo. Concordo que seria interessante manter os prólogos, mas creio que este feedback pode ser analisado SE os leitores, DE FORMA EDUCADA e CONSTRUTIVA levarem isso ao conhecimento da editora.

    Aliás, diga-se de passagem, que, pelo preço, me impressiona que a Mythos consiga manter uma publicação deste porte em banca, principalmente aqui, em terras tupiniquins.

    Quanto ao conteúdo – western – é verdade que hoje atrai poucos olhares, mas ai há que se analisar os contextos extra-mercado de livros que podem ajudar na divulgação. Posso até estar viajando demais, mas se bem me lembro, cada vez que uma grande “modinha” é lançada, outros setores alavancam vendas aproveitando a onda… E o público que lê, é,em boa parte, o mesmo que consome itens GEEKs/NERDs… Me refiro ao mercado de games, principalmente. Este ano há um lançamento em particular que pode ajudar a Editora dar uma renovada no público alvo. Red Dead Rendemption é um jogo western MUITO, MAS MUITO famoso. E cada vez que é lançado algo que se assemelhe a ele na época de seu anúncio oficial, vende. Ai vão as jogadas de marketing para ter aderência no mercado. Mas enfim, acho que isso fica para uma outra vez 🙂

    Parabéns pela crítica!

  2. Há alguns anos, desde que comprei os primeiros livros de Tex e Zagor da famosa “collezione storica a colori” (e também os enormes volumes “cartonato”) deixei de comprar edições brasileiras. A qualidade é infinitamente superior (em tudo) e eu achei que já não se justificava comprar livros em formato pequeno e a preto e branco.
    Atualmente só compro Tex e Zagor no original italiano em formato gigante e a cores.
    Pelo que tenho lido neste blogue ao longo destes últimos meses, vê-se que a Mythos Editora passa por uma grave crise.

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