As Leituras do Pedro – Dylan Dog: O imenso adeus

As Leituras do Pedro*

Dylan Dog: O imenso adeus
Tiziani Sclavi
e Mauro Marcheselli (argumento)
Carlo Ambrosini
(desenho)
A Seita
Portugal, Março de 2020
170 x 230 mm, 104 p., pb, capa dura

12,50 €

Intemporal e impessoal

Esta é, possivelmente, uma das mais belas histórias de Dylan Dog. [Escrevi atrás ‘possivelmente’, apenas por uma questão formal, uma vez que só li umas poucas dezenas de histórias do Detective do pesadelo].

Mas, mesmo assim, repito: Esta é, possivelmente, uma das mais belas histórias de Dylan Dog. Aliás, reforço a ideia: esta é uma bela história, mesmo se não fosse protagonizada por Dylan Dog. Porque é uma bela história, ponto final. Intemporal. E impessoal.

Na verdade, acredito que O Imenso Adeus, com um ou outro ajuste de pormenor, poderia ser contado em qualquer tempo. No presente caso, saltita entre o final da adolescência de Dylan – os anos 1970…? – e a contemporaneidade em que foi criada – os anos 1990. Mas – com o mesmo intervalo temporal – poderia igualmente decorrer na II Guerra Mundial, no Velho Oeste, na Revolução Industrial, na Idade Média… e em qualquer continente. Porque é uma bela história.
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E, sendo evidente que nela há algumas referências e pormenores que só a Dylan dizem respeito – embora não seja necessário (re)conhecê-los para fruir a narrativa – sem eles, poderíamos substituir o protagonista por muitos outros heróis – ou anti-heróis… Porque é uma bela história.

Uma bela história de Dylan Dog – e este facto aporta algumas questões relevantes, como o tom melancólico de boa parte dela, a indecisão permanente do detective ou a sua insegurança pessoal e com as mulheres, que reforçam o tom adoptado pelos autores.

Saltitando entre as épocas referidas – final da adolescência/idade adulta – e, em paralelo, entre o sonho e a realidade – ou entre o sonho realizado e a realidade sonhada? – narra-nos uma bela história – sim! – de amor. Bela e emocionante. Mas também melancólica e triste. E de um dramatismo que só o final da leitura impõe, nos esfrega na cara – e no coração… – com toda a sua força, embora os indicadores estejam estrategicamente colocados ao longo das pranchas que, também elas, vão alternando entre o traço nego a tinta-da-china do presente e o acizentado das aguarelas no passado.

Bela história de amor, impessoal e intemporal como escrito, O imenso adeus justifica muito do sucesso da personagem Dylan Dog – e também fora do âmbito da BD – pela capacidade camaleónica que tem de protagonizar tanto narrativas de ‘terror puro’ e/ou humor negro quanto histórias sentimentais, dramáticas e profundas. E belas, como esta.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro 

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

 

Um comentário

  1. De fato DyD é versátil. Hoje, por coincidência, li 3 estórias de Dyd. 3 estórias escritas em diferentes períodos, com 3 diferentes propostas e as 3 muito agradáveis de ler.

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