As Leituras do Pedro – Dylan Dog: Após um longo silêncio

As Leituras do Pedro*

Dylan Dog: Após um longo silêncio
Tiziani Sclavi (argumento)
Giampiero Casertano (desenho)
A Seita
Portugal, Março de 2020
170 x 230 mm, 104 p., pb, capa dura
12,50 €.

As memórias, o silêncio e o alcoolismo

.Há três formas de abordar “Após um Longo Silêncio”, mais um livro – o quarto ou o quinto, conforme o ponto de vista… – de Dylan Dog editado por A Seita.

A primeira, como um dos últimos lançamentos de BD feitos em Portugal antes da epidemia de Covid-19 que suspendeu quase todas as novas edições previstas para as semanas que correm e os meses que vêm e que arriscam tornar este ano um dos piores do século no que a este capítulo particular diz respeito.

A segunda, para saudar o regresso a Dylan Dog do argumentista que o criou, Tiziano Sclavi, e que fez dele uma obra de referência – repleta de referências variadas – muito para além do círculo restrito dos apreciadores de BD, apesar de aparentemente ser apenas uma série de tom fantástico, protagonizada por uma espécie de detective que poucas vezes se leva a sério…

A terceira – e também a mais relevante – pela obra em si, que marca o regresso – duro e brutal – de Dylan Dog ao fantasma que há muito paira sobre ele: o do alcoolismo, vencido uma vez, mas contra o qual é necessário batalhar incansavelmente – ou de forma extremamente cansativa…? – dia após dia. Um inimigo silencioso, como silencioso é o fantasma que Dylan investiga nesta história, o de uma esposa que o marido continua a ver, a sentir, com quem continua a falar mesmo que não obtenha resposta.
.

A acompanhar Sclavi está o muito competente Giampiero Casertano, perfeitamente à vontade no tratamento da figura humana, seguro na forma como assumiu e retratou o ‘verdadeiro’ Dylan Dog, ou seja, sem desvios à figura que lhe (re)conhecemos, e que brilha especialmente no tratamento dos fundos das cenas de exterior.
Sem o humor de Groucho – desarmado pela seriedade dos temas? – Após um longo silêncio, se de alguma forma assume um tom algo moralista, apresenta-se como uma reflexão dura sobre a falta de comunicação, a morte, o alcoolismo em particular e os vícios em geral, mas perfeitamente integrada no universo de Dylan Dog..
.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *