Por Fernando Dordio [1]
Nunca tinha percebido o fascínio dos livros de banda desenhada existentes nas bancas portuguesas e que normalmente se encontram no conhecido formatinho brasileiro. Admito que havia da minha parte uma certa arrogância em considerar, nem sei porquê, aquelas publicações em algo menor. Felizmente, apareceu no mercado português a colecção do DN da Turma da Mônica, que me fez investigar o que se vendia por aí do Maurício de Souza – e uma coisa leva à outra e às tantas comprei o livro Tex Edição de Ouro 62: Springfield Calibre 58.
Com argumento de Claudio Nizzi e arte de Victor De La Fuente, o western voltou com força para as minhas leituras.
Tex
Antes de fazer uma crítica mais focada no livro que li, gostava de começar por tentar explicar o apelo que a personagem tem para mim.
Um género que gosto bastante de banda-desenhada é o pulp de aventuras. Na banda desenhada norte-americana existem alguns títulos que fui lendo e que estavam dentro deste estilo: Doc Savage, Spirit, Rocketeer, Lone Ranger, Zorro entre muitos outros.
O mais estranho é que nunca encontrei uma personagem ou Universo tão rico e complexo como nas publicações DC/Marvel, Tex consegue dar-me o mais puro western de aventuras e ao mesmo tempo consigo perceber que há todo um Universo de personagens para nos perdermos em milhares de histórias.
Crítica
Duvido que este livro seja uma das melhores aventuras de Tex. Em termos de escrita não vai mal de todo e a arte é excelente (sendo por vezes mal reproduzida). O problema é que Nizzi não consegue conter a narrativa e acaba por estragar algumas cenas, em que explica, como determinado assunto aconteceu com demasiada exposição – por exemplo, Tex cruza-se com o xerife que está a fazer a ronda e posteriormente é revelado num flashback que o xerife vê o vilão a sair da janela e por causa disso é que Tex agiu de determinada maneira.
Penso que com um pouco mais de trabalho, a cena poderia resultar numa equivalente, sem o flashback que acaba por enfraquecer a narrativa (na altura em que escrevo já li outro Tex deste argumentista, em que ele utiliza novamente o mesmo truque).
No entanto, Nizzi faz um build up excelente, o arranque é muito forte e prende imediatamente, qualidades excelentes para uma narrativa “serializada”, na qual o leitor tem de estar sempre motivado para continuar a ler. De referir ainda, a homenagem a Sergio Leone na última sequência, sobre quem é mais forte, o homem da espingarda ou o homem da pistola.
A reter
– Universo complexo no qual as personagens se movimentam;
– Personagens muito bem desenvolvidas, nas quais o criador trabalhou durante muitos anos, definindo meticulosamente todos os detalhes da sua personalidade;
– Excelente utilização do Western na banda desenhada;
– Arte de grande qualidade, artista muito sólido, ainda mais por não ter cor.
[1] (Texto publicado originalmente no Blogue “Concerto em O Menor para Harpa e Nitroglicerina“, em 13 de Setembro de 2013)