As críticas do Marinho: Color Tex #4 – “L’Uomo Sbagliato”, “Un Colvo di Belve”, “L’Ultimo Della Lista” e “La Valle Sacra”

Por Mário João Marques

O mais recente Color Tex constitui um marco na vida editorial da série, sendo o primeiro número de uma colecção de Tex que apresenta histórias completas. A Bonelli Editore pretende alternar semestralmente nesta colecção a publicação de uma só aventura com a apresentação de quatro histórias completas, cada uma de 32 páginas, desenhadas por autores fora do staff texiano. Não é a primeira vez que os leitores de Tex têm o prazer de ler histórias mais curtas do Ranger, Galep, Ticci e Civitelli já o tinham feito, mas sempre isoladamente e nunca em seguimento de alguma opção editorial.

É também o primeiro número desta série publicado num papel diferente do habitual, mais liso e brilhante, permitindo realçar traços e cores, não ficando estas tão esbatidas quando impressas no papel característico e mais rugoso, habitualmente utilizado pela editora. Estou de acordo com aqueles que frequentemente sublinham as desvantagens deste papel mais rugoso quando utilizado em trabalhos a cores, uma vez que não faz justiça ao trabalho dos desenhadores. No entanto, a utilização do papel brilhante, semelhante ao utilizado no Dylan Dog Color Fest, acaba por também não me convencer plenamente, de certa forma, pelo efeito contrário. Realçando cores e ambientes, a verdade é que uma série como Tex, caracterizada por ambientes puros, poeirentos e que vive muito da caracterização da natureza e dos grandes espaços, talvez fosse vantajoso um meio-termo, a utilização de um tipo de papel liso certamente, mas levemente amarelecido, não tão brilhante.

Não deixo ainda de sublinhar, por outro lado, que sempre preferi grandes aventuras a histórias completas, não só em Tex, mas desde que leio banda desenhada. Prefiro aventuras com o número suficiente de páginas que permita aos autores estenderem acção e personagens, com maior desenvolvimento e densidade. Tex é uma série que vive muito dos tempos da narração e dos grandes espaços do oeste. Aventuras plenas de diálogos, sobretudo entre Tex e Carson, que se desenrolam em vários cenários, são uma das imagens de marca da série. As aventuras completas, de certa forma não permitem desenvolver personagens e situações do mesmo modo, apelando antes a um impacto maior da acção, intensidade constante, outra capacidade para os autores poderem de algum modo surpreender o leitor. Numa linguagem bem própria, os autores têm que jogar rapidamente todos os seus cartuchos, o que por vezes não funciona.

Não quero com isto dizer que este Color Tex não tenha ou não possa vir a conquistar o seu espaço, muito pelo contrário, acho que é uma aposta da Bonelli Editore que tem tudo para dar certo e que no fundo tenta ir ao encontro não só dos leitores, mas sobretudo do mercado. Tex é a série que iniciou toda a aventura editorial da Bonelli, é a série que mais vende, uma imagem de marca editorial e por tudo isso esta aposta tem tudo para dar certo. Permitirá apreciar o trabalho de desenhadores fora do staff normal da série, permitirá ver o herói em aventuras menos densas e com tempos mais concretos, permitirá apresentar o herói em registos eventualmente menos utilizados, assim como permitirá a quem escreve fugir dos cânones normais impostos até agora para a série.

Posto isto, passemos às curtas histórias:

L’Uomo Sbagliato

Tex e Carson encontram-se na pista de um assassino contratado para matar um senador. Boa aventura de Tito Faraci, a menos violenta de todas, com algumas semelhanças com “Intriga em Santa Fé”. Mas se na aventura de Nizzi e Civitteli tudo se desenrola numa atmosfera de drama latente, aqui o leitor depara-se com um Tex irónico e o tom é algo ligeiro. Desenho competente de Giampiero Casertano que, habituado a outros ambientes em Dylan Dog, apresenta um trabalho eficaz e sem grandes rasgos, no fundo a principal qualidade do autor.

Un Colvo di Belve

Talvez a melhor aventura desta publicação. Tex persegue o chefe de um bando de assaltantes de bancos, mas não sabe que os outros membros do bando, que tinham sido enganados pelo chefe, também seguem no seu encalço. Tudo se precipita quando surge uma mulher que tem tanto de bela como de maléfica. Em poucas páginas, Ruju constrói uma aventura plena de acção, crueldade, morte e traição. Sandro Scascitelli apresenta um bom trabalho, mas não convence plenamente, muito pelo facto do trabalho não apresentar sempre o mesmo nível. O seu Tex é granítico, mas o traço do autor parece algo estanque, sem movimento. Talvez por isso, os desenhos individuais do seu portefólio que aqui e ali já tivemos oportunidade de apreciar parecem bem mais conseguidos. Veremos o seu próximo trabalho que o autor parece preparar para um almanaque.

L’Ultimo Della Lista

Tex chega a terras do norte onde encontra um velho caçador de prémios com quem se cruzou no passado. Scott Wannabe desde há alguns anos que está na pista dos membros do bando Dillon, restando capturar apenas um. Uma boa história de Manfredi, que consegue transmitir um certo quotidiano local, através de uma caracterização eficaz dos ambientes. O ritmo da acção é essencial e torna a história sugestiva. Stefano Biglia assume estar à vontade na personagem. Um autor a ter em conta para trabalhos futuros e com outro fôlego, construindo um Tex entre o de Ticci e o de Frisenda.

La Valle Sacra

Boselli mergulha Tex numa história de misticismo onde o herói surge em dificuldades físicas. Aventura que assume alguma originalidade, porque foge dos cânones habituais na série. Genzianella não me convence de todo. O seu Tex pouco tem a ver com a personagem bonelliana, enquanto que o estilo parece pouco adequado ao género.

Finalmente a capa, eficazmente desenhada por Laura Zuccheri, a primeira mulher a desenhar na série, compondo um Ranger suficientemente duro.


(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. O segundo e o último desenhista são bem ruins hein? Se a SBE pagar metade do que pagou pra esses dois caras garanto que desenho uma história bem melhor.

  2. Cores fantásticas! Esse tipo de colorização, mais sutil e menos baseada em tons primários, cairia bem nas ediçoes coloridas, que ainda têm uma cara de anos 70. Será que é por limitações de impressão? Ou uma escolha estética deliberada?

    Imagina uma edição de Tex desenhada pelo Mastantuono e colorida num estilo Dave Stewart…

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