A capa (e o esboço alternativo) de Tex #633, “Tombstone Epitaph”

Por José Carlos Francisco

Se antes do falecimento de Sergio Bonelli o nascimento das capas de Tex ocorria na sede da editora italiana, onde o próprio Sergio Bonelli depois de examinar pessoalmente a história em questão, procurava uma cena “de capa” entre as vinhetas desenhadas, elaborava um esboço veloz que era enviado por fax, a Claudio Villa,  junto às cópias das páginas correspondentes (em geral, duas ou três) e somente a partir daí é que Claudio Villa começava a trabalhar, preparando a cena “de capa”, já que ao contrário do que muitos pensavam, o desenhador não tinha liberdade para fazer a capa que bem entendia para a história, até porque na grande maioria das vezes, Claudio Villa não tinha acesso à história completa, hoje em dia é o próprio Claudio Villa que escolhe a cena a partir da qual faz a capa, embora com supervisão de Mauro Boseli, tendo este o poder de aprovar ou vetar a “capa” escolhida por Claudio Villa, devido a ser na actualidade o responsável máximo por Tex.

Tal acontecerá também com a capa do Tex #633, com lançamento previsto na Itália para 6 de Julho de 2013, contendo a primeira parte de uma aventura escrita por Mauro Boselli e que marca a estreia na saga de Tex, no que ao desenho diz respeito, de Gianluca Acciarino, cujo título é “Tombstone Epitaph”: Quando a voz livre de Frank Banyon, director e redactor único do periódico Epitaph Tombstoneé silenciada por uma bala, Tex e os seus pards intervêm para pôr fim à arrogância da família Damon e ao seu domínio sobre a violenta cidade no deserto. Ao lado deles, de forma inesperada, surgirá em acção um nome célebre do jornalismo em Chicago, o sobrinho de Banyon

Depois do próprio Villa seleccionar a imagem começa então a trabalhar na preparação da cena “de capa”. Cena essa que foi claramente inspirada na vinheta de Gialuca Acciarino que mostramos de seguida.
Em síntese, ele precisa cuidar do enquadramento, da luz e do movimento das personagens já que segundo o próprio Claudio Villa
A capa deve contar sem revelar, deve ser legível e imediata, deve interessar e ser suficientemente dinâmica. Às vezes, falta uma cena significativa e então ela é “construída” com os elementos extraídos da história. Algumas vezes, para conseguir o melhor, chego a seis, sete esboços. É incrível de quantas maneiras se pode contar, em igualdade de situação, uma cena. E cada vez descobrir uma “temperatura” diferente, só deslocando o ponto de vista, a luz ou a disposição das personagens.

Mas, como muitas vezes acontece, a capa que será publicada, não foi a única opção do desenhador italiano, já que até chegar ao resultado final que vimos no início deste texto, Claudio Villa fez outro esboço alternativo, igualmente belo e que mostra toda a intensidade do murro de Tex e do impacto causado no xerife de Tombstone:

Esboço alternativo de Claudio Villa para a capa de Tex #633

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

20 Comentários

  1. Também acho que a capa baseada no esboço alternativo teria mais impacto. É a diferença entre o que parece um simples empurrão – mas capaz de atirar o xerife pela janela – e um murro dado com toda a gana! Reparem só na expressão de Tex!

  2. Sigo o voto da maioria, o esboço alternativo demonstra mais evidentemente a violência e dramaticidade da cena.
    O rosto de Tex exprime todo o esforço do soco,

  3. Na minha opinião, pard AMoreira, o rosto de Tex nesta cena é um catálogo de emoções, pois exprime não só a violência do soco, mas também raiva, ira descontrolada, sentimento de vingança e de justiça (pois Tex nunca age sem razão!)… e outros que poderemos intuir observando detidamente este extraordinário esboço de um autêntico Mestre como é Claudio Villa.

  4. Per niente d’accordo. In quella bocciata il braccio col pugno è già “tornato indietro”, Tex sembra il discobolo di Mirone e il tipo con quelle gambe lunghe ingombranti e tese è troppo rigido e impalato. Ma che occhio avete? 😉

  5. Tradução da resposta de Mauro Boselli:Discordo totalmente. Naquele golpe, o braço com o punho já “voltou atrás”, Tex parece o Discóbolo de Myrón e o tipo, com aquelas pernas longas vultosas e duras, é demais rígido e empalado. Mas, que olhos vocês têm?” 😉
    N.T.: O Discóbolo de Miron, escultor grego, é a mais famosa das estátuas atléticas. Discóbolo: O arremessador do disco.

  6. Permita-me discordar, querido Mauro Boselli.

    O esboço alternativo tem mais movimento. A capa aprovada está sem movimento, parece uma pose para uma fotonovela, daquelas tão populares na Itália e no Brasil algumas décadas atrás. Parece uma capa posada.

    A alternativa tem movimento. E se as pernas da “vitima” estão duras, certamente foi devido à força usada por Tex, que simplesmente apagou o sujeito no ato do impacto.

    Respeito, muito, sua opinião, mas deixo aqui também a minha.

    Grande abraço

    Alvarez
    Rio de Janeiro/Brasil

  7. O esboço contém um erro nas pernas de Tex, pois ele acerta o soco com a mão esquerda porém está com a perna direita pra frente (essa posição só seria aceitável se ele fosse canhoto).

    Tentem fazer essa mesma cena, um soco com a mão esquerda mantendo a perna direita na frente. Só com uma ótima desenvoltura corporal pra atingir o ângulo, e mesmo assim ainda corre o risco de cair “rodopiando”.

    PS: Concordo que mesmo assim o esboço contém mais movimento, pois a capa parece que Tex deu um Jeb de boxe, porém se manteve fixo na posição, sem deixar o braço continuar o movimento, já que o inimigo está já um pouco distante.

  8. Secundando o pard Alvarez, cujo comentário, a meu ver, é muito correcto, “volto à carga” novamente para discordar, com o devido respeito, de Mauro Boselli. Na posição do Discóbolo de Miron, o atleta, de torso flectido e pernas arqueadas como Tex, está parado, antes de lançar o disco, mas a atitude do Ranger, ainda em movimento, revela o efeito do impulso com que desferiu o golpe, tão violento que fez o xerife levantar literalmente os pés do chão e “voar” pela janela. Portanto, o braço esquerdo já está retraído, mas o corpo e o rosto de Tex reflectem ainda a tensão do golpe. Como na BD tempo, espaço e acção se fundem numa só unidade, é natural que o xerife “voe” ao mesmo tempo que Tex baixa o braço, como numa cena ao retardador.
    Há uma expressão para exemplos destes: “cair redondo”, como que fulminado por um raio!… Um soco de tal forma demolidor, como o de Tex, cuja força é bem conhecida, teria o efeito de um choque eléctrico no seu adversário, por isso não me admira que este, no esboço alternativo, tenha o tronco e as pernas como que inteiriçados ao tombar para trás, quebrando os vidros da janela. Na minha perspectiva da cena, os braços e as pernas bamboleantes do xerife, na capa oficial, fazem-mo parecer um boneco articulado.
    De qualquer forma, embora seja uma simples questão de gosto e de critério, partilhado até agora pela maioria dos pards que comentaram as ilustrações de Claudio Villa, qualquer delas tem impacto comercial.
    Um amistoso abraço para todos os pards e, em especial, para o Zeca e para o Mauro Boselli.

  9. No desenho escolhido como capa, a figura de Tex tem o movimento “congelado”, o que lhe retira algum impacto. Por outro lado, a figura do xerife a cair desamparado com o corpo inerte parece-me muito mais natural.

    Quanto ao esboço alternativo, apesar de ser um desenho com mais impacto (onde até o murro parece ter sido desferido com mais força) tem, quanto a mim, um pormenor a reter: é que o murro de Tex vem de cima para baixo e o xerife está a levantar os pés do chão (como se tivesse levado um murro de baixo para cima). Ora, o movimento de um personagem não corresponde ao do outro. É claro que Claudio Villa desenhou, propositadamente, assim os personagens para dar mais dramatismo à cena, mas talvez tenha sido esse pormenor que, na minha opinião, acabou por determinar que a capa fosse rejeitada.
    Concordo, por isso, com o ponto de vista de Mauro Boselli, apesar de ir contra a opinião da maioria dos pards que aqui deixaram comentários.

    Tudo isto, contudo, não invalida que Claudio Villa seja um EXTRAORDINÁRIO desenhador que, sendo humano, também tem o direito de errar (ou, pelo menos, a não estar sempre a 100%).
    Até parece pecado eu estar aqui a criticar a arte deste monstro sagrado da BD…
    As minhas desculpas e um grande abraço de admiração para ele!
    Carlos Rico

  10. Peço desculpa por “voltar à carga” neste assunto, mas lá tenho de discordar também do meu Amigo Carlos Rico, cujo talento artístico e cujas opiniões muito prezo, em defesa da capa alternativa de Claudio Villa. É verdade que o murro parece desferido de cima para baixo, embora Tex e o xerife sejam aparentemente da mesma estatura. Mas mesmo que tivesse sido assim, bastaria o impacto do soco – dado com toda a gana, volto a repetir – para que o xerife, ao ser projectado para trás, tombando pela janela, levantasse os pés do chão, pois nessa altura já estava em desequilíbrio.
    Aliás, na capa oficial esse movimento é ainda mais grotesco, parecendo que o xerife salta mesmo pela janela, apesar de Tex, com o punho estendido, o ter derrubado com um golpe frontal.
    Não estou de acordo, portanto, com a tese de que Claudio Villa cometeu erros na capa alternativa. Mesmo que quisesse exagerar um pouco, para dar mais dinamismo à cena, soube fazê-lo dentro de parâmetros realistas. “Erros” ou distorções, se os há, são mais evidentes, quanto a mim, na capa oficial.
    Mas era interessante ter mais opiniões sobre este assunto…

  11. Amigos e pards, será um “crime” se não for revogada a capa aprovada. O esboço alternativo é imensamente superior! Vai vender até para quem não é fã de Tex, (rsrrs) mas gosta de ação. Fico torcendo para que seja aprovado o esboço.

  12. Curiosamente, podemos ver aí uma diferença entre a escola “americana” e a “européia” de BD na escolha das capas.

    A capa escolhida é claramente mais europeia. A pose do Tex é mais estática, mas natural. Poderia ter sido captada como um instantâneo de uma luta de boxe.

    Já a pose do Tex na capa alternativa é claramente uma “americana”. O movimento tem mais impacto, mas é antinatural. As pernas dele estão trocadas, o soco é desferido de cima para baixo enquanto o seu adversário vai de baixo para cima. Até mesmo a sua bandana não está fazendo um movimento natural, já que ela teria ficado para trás com o movimento do torso do ranger e estaria portanto mais próxima do braço que golpeou. Mas a pose exagerada do Tex multiplica o efeito do impacto em nossas mentes. A BD americana usa isso rotineiramente em suas capas, com bastante efeito.

    As duas têm os seus méritos e deméritos. O uso de uma ou de outra depende do que o editor quer passar para os compradores em potencial. Na minha opinião a capa oficial é mais representativa do tipo de arte encontrado no interior…

    Eu fico fascinado é com uma discussão desse tamanho ninguém menciona o velho problema das capas do Villa: Os sombreamentos mal colocados. Ambas as capas têm duas potenciais fontes de luz (a janela e o abajur) visíveis e, no entanto, em NENHUMA delas as sombras estão em conformidade com qualquer uma das duas e sim com o “holofote” que o Villa parece invariavelmente colocar pouco acima da sua “câmera”. ESSE seria um bom ponto para discussão!

  13. Pessoalmente gosto de ambas, cada uma à sua maneira, mas tenho que concordar com o Bouça: os sombreamentos não ficam bem nas capas de Villa o que é uma pena!

  14. No esboço não aprovado eu vi um soco, na capa aprovada eu vejo o mesmo Tex de dentes apertados de outras tantas capas, fazendo uma pose para a “foto”.
    Minha opinião, baseada apenas na minha percepção, sem conhecimentos prévios de box ou algo do gênero.
    Não quero mudar a opinião de ninguém, muito menos de Boselli.

    Abraço a todos!
    PS: Muito bom ter o autor participando dos comentários!

  15. Qualquer um vê que a força e disposição dos personagens ficou melhor o alternativo.

  16. Eu prefiro o esboço certamente. Nem diria que é uma disputa entre as escolas de Quadrinhos italiana e a estadunidense (apesar de respeitar a opinião do Pedro Bouça, grande conhecedor de quase todos os estilos do mundo!). Eu diria que a escolha final optou por uma capa morna, sem impacto. A ação do esboço está fenomenal. E mesmo a vinheta do Acciarino tem mais impacto do que a capa final aprovada. Zeca, você poderia traduzir pro italiano?

  17. Ainda bem que esta “polémica” continua e esperemos (secundando Bira Dantas) que os seus ecos cheguem até Itália, para que os responsáveis editoriais da casa Bonelli fiquem a saber, mais uma vez, como os leitores de Tex se apaixonam por todas as questões relacionadas com o seu ídolo, mesmo que seja uma “simples” capa.
    Estou de acordo com o pard Pedro Bouça quanto à capa alternativa ser mais fiel ao estilo americano, provavelmente aquele com que Claudio Villa sente mais afinidades. Mas, se as pernas estão trocadas, então Acciarino também parece ter errado, numa réplica da mesma cena em que Tex soca o xerife com a mão direita e tem a perna esquerda mais avançada. Claro que dirão algumas vozes: não, Acciarino não errou, pois toda a gente sabe que num combate de boxe os pugilistas se apoiam na perna esquerda, quer golpeiem com a mão esquerda ou com a direita.
    Ok, digo eu… Mas Tex não é um pugilista. Pode saber de bang bang e até de leis, mas não está provado que conheça a fundo as técnicas do boxe. Aliás, ao dar um murro tão forte, tão demolidor, com a mão e a perna esquerdas na mesma posição, qual seria o ponto de apoio do corpo? O movimento do torso e o impulso do braço fá-lo-iam inevitavelmente rodopiar sobre si próprio.
    Quanto à questão dos sombreados, julgo que a técnica cinematográfica de Claudio Villa (e a inegável influência que recebeu dos grandes mestres do western) pode explicar o holofote e a câmera fictícios, projectando sombras irrealistas mas que dão outra tonalidade às suas cenas. É nisso também que os quadrinhos e o cinema se aproximam, nesse jogo de ilusões filtrado pelos nossos olhos e pelo nosso espírito, porque arte realista verdadeiramente não existe.
    São duas, de facto, as potenciais fontes de luz: o abajur em cima da mesa e a janela, mas pode haver outra naquele cenário, que não está visível. Também não sabemos (só lendo a história) se a cena se passa de dia ou de noite, mas inclino-me para a primeira hipótese porque, na capa a cores, o candeeiro está apagado, caso contrário veríamos o resplendor da luz.
    Se a cena for ao entardecer, a luz que entra pela janela iluminará frouxamente o palco, diluindo as sombras. São detalhes que contam para a avaliação correcta da cena… mas, repito, numa BD conta também e muito um factor extra, que às vezes, como leitores, tendemos a esquecer: a arte é a fusão do imaginário com a realidade.

  18. Mas que bela e muito INTERESSANTE “polémica” esta que decorre aqui no blogue do Tex a propósito do esboço rejeitado e da capa eleita da edição nº 633 de Tex italiano, que tal como todas posteriores à edição nº 400 é da autoria de Claudio Villa.

    Espero que a “polémica”, ou melhor, o debate, continue, até porque não é necessário traduzir nada porque Mauro Boselli e Claudio Villa compreendem bem a nossa língua e eu sei que estão atentos a este post, aliás, como sabem e podem observar, Mauro Boselli até já interveio e nada me espanta que volte a intervir, tal como Claudio Villa, se acharem importante fazê-lo 😉

  19. Achei muita conversa pra pouco assunto. As pequenas diferenças entre as duas cenas são mesmo de gosto puramente pessoal. Eu prefiro a cena colorida. A figura de Tex – que sempre é o mais importante numa capa – está melhor do que no esboço, onde sua posição não está natural e sua expressão está quase alegre – parece mesmo a estátua do discóbolo. Se colocar um pouco de movimento no braço esquerdo de Tex na cena colorida a capa fica perfeita.

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