A “poesia” nas cores e arte de Sergio Tisselli

Por Ricardo Elesbão Alves [1]

* Lamentavelmente a nona arte perdeu esta terça-feira, dia 14 de Abril de 2020, um mago dos pincéis, aquele que emprestava as cores das suas aguarelas, verdadeiras pinturas, aos quadradinhos. Capaz de se deslocar dos Apeninos ao velho Oeste americano, contava habilmente as grandes aventuras e as pequenas histórias..

Deixou-nos aos 63 anos, o desenhador e ilustrador italiano Sergio Tisselli. Bolonhês, nascido em 24 de Janeiro de 1957, como muitos dos grandes artistas da banda desenhada, dedicou parte de seu tempo aos personagens da Sergio Bonelli Editore. No final dos anos 90, com Lucio Filippucci, criou capas de Martin Mystère, o que  parecia ser o prelúdio para seu desembarque nas páginas de Dylan Dog, mas não se sentiu confortável com o Detective do Pesadelo. Foi então que, com uma história de Pasquale Ruju, estreou oficialmente na Editora com Tex.

Tisselli estreou em 1980 no “Corrier Boy Music” da editora Rizzoli, escrevendo histórias aos quadradinhos e também desenhando outras trinta delas para outros argumentistas.

Na cidade natal, Bolonha, formou-se em história moderna e defendeu uma tese sobre a praga que atingiu a capital da Emília em 1600, da qual mais tarde desenharia o guião da história de banda desenhada intitulada “La costellazione del cane“.

Foi esse trabalho, ainda não publicado na época, que impressionou Magnus (Roberto Raviola) a ponto do Mestre indicar Tisselli para ilustrar os três volumes de “Le avventure di Giuseppe Pignata“.

Magnus não teve tempo de ver todo o trabalho publicado, pois faleceu em 1994.
O facto de Tisselli morar perto de Monzuno, levou-o a se relacionar com vários artistas que frequentavam a vila dos Apeninos e surgiram colaborações interessantes da amizade com eles.

A próxima parada depois de “Pignata” seria “Le avventure di Kim“, desenhadas livremente do romance de Kipling. Em seguida, chegou a vez  de “La locanda dei misteri“, para os textos de Maurizio Ascari, seguidos de: desenhos das histórias intituladas “Il Satanone Bolognone” e “L’iperbolica Pomata“, escritas por Marco Caroli; das ilustrações do volume “Quarzo tesoro nascosto“, com a colaboração do amigo Giovanni Degli Esposti Venturi; e do livro dedicado a “Don Zambrini“, juntamente com o pintor de Monza Raffaele Bartoli.

Para a revista local “Sevena Setta Sambro”, ele desenha “La storia della Bellosta che ballò col diavolo” com base em textos do historiador local Adriano Simoncini e, em colaboração com o seu amigo Lucio Filippucci, criou as capas de Martin Mystère – L’tegrale, para Hazard Edizioni, enquanto que, para os textos do professor Giovanni Brizzi, desenha dois volumes intitulados “Occhi di Lupo” e “Foreste di morte“.


Desse mesmo período surgem as maravilhosas ilustrações para cartas de tarot para Edizioni Lo Scarabeo e várias colaborações com Angelo Nancetti para o Museu Nacional da banda Desenhada – “Museo Italiano del Fumetto e dell’Immagine“, em Lucca, Itália.

As referidas cartas foram ricamente ilustradas com temas relacionados ao Oeste e aos Nativos Americanos.

Adicionalmente, Tisselli ilustrou várias histórias aos quadradinhos escritas pelo próprio Nancetti, dentre as quais vale a pena mencionar “Giacomo Puccini“, “La Bersagliera” e, principalmente, “Guerre di Frontiera“, desenhados a quatro mãos com Renzo Calegari.

A partir de 2009, em colaboração com Valeria Cicala e Vittorio Ferorelli, Tisselli realiza várias ilustrações encomendadas pela Instituto de Patrimônio Artístico Cultural e Natural da Região Emilia Romagna – “Regione Emilia Romagna – Istituto per i Beni Artistici Culturali e Naturali“, as quais foram exibidas em algumas exposições temáticas intituladas “Nove passi nella storia, “Il mondo in un paese” e “In cerca dell’altrove”.

É, portanto, o momento da colaboração com a casa de leilões Little Nemo Edizioni, de Lugano, para a qual Tisselli concretiza várias ilustrações para três novos portfólios sobre o Oeste e os Nativos Americanos, bem como para o volume intitulado “51 storie sugli indiani d’America”, escrito por Renato Genovese.

Em Novembro de 2015, Tisselli fez sua estreia no Color Tex número 8,  pela Sergio Bonelli Editore, com a história intitulada “Sfida alla vecchia missione“, escrita por Pasquale Ruju. No Brasil foi publicada pela Mythos Editora com o título “Duelo na Missão”, na Edição Especial Colorida número 8, e em Portugal pela Levoir com o título “Desafio na velha Missão”, na número 1 da Colecção Bonelli.

Na história, Patricia Graves, prisioneira dos comanches, é salva por Tex. O chefe Octavio quer a mulher de volta e anuncia-se um duelo sangrento. O roteiro desenvolve-se com base na dúvida de para quem irá a lealdade de Patricia, quando tiver que escolher entre a sua antiga e a sua nova vida.

Tex Edição Especial Colorida nº 8 – Edição brasileira onde foi publicada a história de Tex desenhada por Tisselli

Colecção Bonelli nº 1 – Edição portuguesa onde foi publicada a história de Tex desenhada por Tisselli

Essa também foi para Tisselli a história que abriu as portas para França. Com o título “Prisonnière des Apaches“, foi republicada em um livro de capa dura da Editions Mosquito, que a partir desse momento tornou-se oficialmente a sua editora francesa. Como curiosidade o tradicional logótipo do Tex não foi usado na capa do especial francês.

Edição francesa onde foi publicada a história de Tex desenhada por Tisselli

O próximo passo seria a realização da obra “Le chemin du couchant“, para os textos de François Corteggiani. Obra essa com a qual Tisselli finalmente realizou o seu sonho de se tornar um dos autores dos Alpes. Dois volumes foram publicados, também pela Editions Mosquito, sendo o primeiro em Fevereiro de 2018, com o mesmo título da série, e o segundo em Agosto de 2019, com o título “Marqué par le diable“.

Volume 1 de “Le Chemin Du Couchant“, com o mesmo título da série

Volume 2 de “Le Chemin Du Couchant: Marqué par le diable“.

Com a primeira prancha de Tex, proposta por Tisselli à Sergio Bonelli Editore, despedimo-nos (fãs, leitores e o personagem) desse que, com as suas cores e arte, levou a “poesia” aos quadradinhos.

Addio Maestro!

[1] (Texto publicado originalmente no site da Confraria Bonelli, em 14 de Abril de 2020)

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Obrigado caríssimo amigo Zeca,

    Mesmo para um tema triste como esse, as “cores” ajudam a dar luz ao trabalho desse magnífico desenhador – como dizem em Portugal.

    Espero que essa seja uma das muitas colaborações que possamos fazer e que mantenham acessos os laços de amizades entre nós, nossos países e, principalmente, entre e Clube Tex Portugal e a Confraria Bonelli.

    Grande abraço a todos,

    Ricardo Elesbão Alves – Comitê Gestor da “Confraria Bonelli”, a irmandade mais italiana do Brasil. Um grupo criado por leitores brasileiros para discutir e divulgar os personagens Sergio Bonelli Editore!

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