As Leituras do Pedro: J. Kendall #139 – Aventuras de uma criminóloga – “Uniforme manchado” e “Loucura sem fim”

As Leituras do Pedro*

J. Kendall #139 – Aventuras de uma criminóloga
Myhtos Editora
Brasil, Março/Abril de 2019
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 24,90 / 9,00 €

Uniforme manchado
Berardi e Calza
(argumento)
Ernesto Michelazzo (desenho)

Loucura sem fim
Berardi e Mantero
(argumento)
Steve Boraley (desenho)

À espera de Myrna
.

É indiscutível que Julia Kendall, enquanto personagem de BD, vai bem além da bidimensionalidade do papel, assumindo-se a várias dimensões: mulher, criminóloga, professora, neta, irmã, amante…

Por isso se entende que os sucessivos casos que investiga apresentem sempre criminosos ‘novos’ sem qualquer tipo de recorrência. Ou quase.

É por tudo isto, no entanto, que se tornam especiais os poucos confrontos que em 20 anos de existência teve com a sua ‘besta negra’, o que faz com que os leitores estejam sempre à espera de Myrna.

[O texto que se segue desvenda um pouco da segunda história deste volume, mas não mais do que a sua introdução em J. Kendall #139; mesmo assim, leiam-na por vossa conta e risco.]

Myrna, Myrna  Harrod, a assassina em série que apresenta em Julia um papel semelhante ao de Mefisto em Tex: os encontros são raros, mas sempre memoráveis.

Loucura sem fim, segundo relato deste volume #139 da edição brasileira das aventuras da criminóloga de Garden City, marca mais um desses encontros (in)desejados (conforme o ponto de vista das duas protagonistas).

Duas protagonistas, sim, porque quando Myrna entra em cena, rouba boa parte dela a Julia, quer do ponto de vista visual para o leitor, quer na condução da narrativa através dos seus pensamentos, papel que geralmente cabe a Julia.

O relato começa com a fuga de Myrna do hospital em que estava internada, em coma, recomeçando a sua senda sanguinária que progressivamente a encaminha para Julia.

Ao desejo de reencontro dos leitores com a assassina, Berardi (cor)responde com um argumento forte, a dois tempos – Julia num local secreto, protegida por Alan Webb, e Myrna numa cruzada assassina na sua direcção, eliminando aqueles com quem se cruza – numa narrativa em que as páginas parecem multiplicar-se para impedir o frente a frente entre as duas mulheres, movidas por sentimentos antagónicos.

A gestão de tempo de Berardi chega a ser cruel, pela forma como mais do que uma vez o ponto de não retorno para o inevitável encontro é simulado (para os olhos do leitor) sem que se concretize. Para, afinal, no final, ocupar apenas umas escassas meia dúzia de páginas…

…mas deixando a promessa de um próximo – mas não antes de (mais uma) longa espera – regresso.

Capas, outra vez

Depois de Moonshine #2 Comboio dos Tormentos, volto ao tema das capas.

As da Sergio Bonelli Editiore, nas suas edições tradicionais, de venda em bancas e quiosques – admiradas por uns, odiadas por outros – são características e ostentam durante anos, lustros, décadas a assinatura – o traço, o estilo, a visão da personagem… – de um mesmo autor. Mauro Soldi, no caso de Julia, do número inaugural até ao #157. A partir daí foram entregues a Cristiano Spadoni que, para além do estilo diferente, mais arejado, apresenta aos leitores uma nova Julia, menos receosa e tímida, mais capaz de assumir o comando e de arriscar onde antes hesitava, em suma, mais em linha com aquela que as últimas edições têm revelado.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Júlia é meu gibi favorito. Após a leitura de cada edição eu sempre me pergunto como Berardi consegue me prender há tantos anos com Júlia? Como ele consegue administrar tão bem as 130 páginas, sem pressa mas sem deixar o ritmo cair. Como ele consegue? Eu não sei, mas como leitor não preciso saber, basta saber que ele consegue.

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