As Leituras do Pedro: El Invierno del Comisario Ricciardi – El sentido del dolor

As Leituras do Pedro*

El Invierno del Comisario Ricciardi: El sentido del dolor
Marcello de Giovanni (argumento)
Claudio Falco (guião)
Daniele Bigliardo (desenho)
Panini Comics
Espanha, 22 de Novembro de 2018
195 x 259 mm, 176 p., cor, capa dura
18,00 €

E também…

No actual catálogo da Sergio Bonelli Editore, para além dos (re)conhecidíssimos Tex, Dylan Dog, Julia, Zagor, Martin Mystère…, há (cada vez mais) espaço para outras propostas, sejam elas a espada e fantasia de Dragonero, o relato de fundo histórico, a crónica sócio-política ou… adaptações literárias como é o caso desta primeira abordagem ao Comissário Ricciardi.

De seu nome completo Luigi Alfredo Ricciardi, é uma personagem de ficção criada por Maurizio de Giovanni que se estreou em livro em 2005. Comissário da polícia napolitana – cidade natal do seu criador que serve de fundo às suas deambulações – entre romances e contos curtos já encabeçou desde então 14 inquéritos.


Se no seu sub-título lemos a palavra ‘inverno’ – espelhando talvez o cinzentismo dos tempos que vive, em plena ascensão do fascismo sob a égide de Mussollini, cuja sombra perpassa pelas obras e o tom desencantado que esse facto (também) projecta nos relatos – possivelmente uma outra palavra de igual sonoridade – ‘inferno’ – cairia também como uma luva sobre estes relatos de base policial e contornos fantásticos.

Ricciardi, para além de dedicado ao seu trabalho e completamente concentrado na descoberta do(s) culpados, pesem todas as pressões que possa sofrer nesse percurso, tem como característica principal ‘ver’ – literalmente… – os últimos momentos das vítimas cujo assassinato investiga bem como daqueles que morreram violentamente nos locais por onde passa, o que acrescenta a estas obras um tom surreal – e faz com que algumas pranchas se assemelhem a um retrato cru de um (possível e) autêntico ‘inferno’.


El sentido del dolor adapta, com a supervisão de Giovanni, o primeiro romance publicado e tem como ambiente o mundo artístico da ópera, quando um grande intérprete lírico é descoberto morto no seu camarim do teatro de San Carlo, em Nápoles, antes de um espectáculo.

A fama do falecido, a sua ligação aos círculos próximos do ditador e a presença de autoridades e gente famosa na estreia que se preparava, vão ser um entrave à investigação encabeçada por Ricciardi, sempre com o apoio próximo do sargento Maione, que no entanto não hesita perante nada até expor completamente a verdade, que irá adquirir contornos socialmente dramáticos, bem representativos de uma época determinada da História italiana.


Na transição da literatura para a banda desenhada, a obra foi bem adaptada ao novo meio narrativo, adquirindo as suas características próprias e proporcionando uma leitura bem ritmada, em que o leitor acompanha a evolução do inquérito e tem acesso aos pormenores necessários à descoberta do assassino, que tanto se encontram nos diálogos como na cena do crime e nos sinais físicos transmitidos nos sucessivos encontros entre os protagonistas. Estes, seguindo o que em tempos foi tradição nas edições Bonelli, foram dotados com os rostos e/ou o físico de diversos actores de cinema, como Andy Garcia, Ava Gardner ou Monica Bellucci.

Numa edição espanhola da Panini, mais uma vez muito cuidada, o relato é contextualizado por textos de Maurizio de Giovanni e Michelle Masiero (director editorial da Sergio Bonelli Editore) e por uma longa entrevista com o desenhador Daniele Bigliardo.


*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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