ESPECIAL CELEBRAÇÃO TEX 70 ANOS IV – TEX E SEUS PARD´S

Por Zenaldo Nunes – Caruaru / Pernambuco / Brasil [1]


Kit Carson já era um famoso Ranger na ocasião em que apareceu pela primeira vez nas aventuras de Tex (TXC-002), embora mais jovem e ainda com cabelos e bigode pretos. No início Carson participava esporadicamente das aventuras de Tex. Geralmente era Tex que de vez em quando era designado pelo comando dos Rangers a ajudar Carson em algum caso escabroso de difícil solução.

A amizade de Carson com Tex foi crescendo aos poucos e forjou-se definitivamente em aço no episódio em que Tex fora condenado injustamente à forca pela corte marcial norte-americana (TXC-005). Pondo em risco a sua própria carreira na corporação dos Rangers, Carson faz uma visita a Tex na prisão poucos dias antes da execução e entrega a ele a sua própria arma, com a qual Tex consegue fugir da prisão e, tempos depois, provar a sua inocência.

Nas aventuras iniciais de Tex, vemos Carson esporadicamente na reserva Navajo, normalmente quando este vai requisitar ao amigo para participar de alguma missão, mas à medida que o tempo passa, Carson adopta a reserva Navajo como sua casa, sendo respeitado e conhecido pelos índios como “Cabelos de Prata”.

O personagem que na vida real era um batedor, um explorador do exército norte-americano, nos quadradinhos é representado como um cinquentão bem conservado, de olhos castanhos e cabelos e barba brancas. Mas ressalte-se que o personagem Kit Carson, companheiro de Tex, não foi inspirado no batedor que realmente existiu. O próprio G.L. Bonelli, criador de Tex, revelou que o Kit Carson bonelliano foi inspirado no personagem homónimo criado por Rino Albertarelli, anteriormente ao surgimento de Tex, em 1948 na Itália. Uma espécie de homenagem ao Rino.

Kit Carson empresta às histórias um ar maduro e ao mesmo tempo irónico e brincalhão, servindo às vezes como escada cómica. Com as mulheres sempre se desmancha em atitudes galanteadoras e gentis, com pose de sábio e conquistador. Sem nunca ter casado, Kit teve no passado uma grande paixão, Lena Parker, com quem pode ter tido uma filha de nome Donna (TEX-317), que é apaixonada por Kit Willer.

Chamado por Tex amistosamente de “Velho Camelo”, Carson é o pessimista de plantão que está sempre achando que a coisa vai acabar mal. Cansado de perder apostas para Tex nas mais diversas circunstâncias, Kit adoptou uma postura pessoal de não mais apostar com o amigo, pois senão teria sempre os bolsos vazios.

Dono de um apetite fora de série, a especialidade de Carson ao chegar num restaurante é pedir ao cozinheiro os famosos bifes com três dedos de altura e ainda sepultados numa montanha de batatinhas fritas e crocantes… E não é só: depois da refeição e de alguns canecos de cerveja, Carson é ainda capaz de comer uma torta inteira de maçã…

Sobre a carreira nos Rangers, pouca gente sabe, mas Kit Carson chegou ao posto de Coronel. Na página 57 de TEX-193, na aventura O Killer sem Rosto e com arte do saudoso Galep, vemos um soldado da cavalaria dirigir-se a ele com a seguinte frase: “Exactamente, Coronel Carson! Acho que se chama assim!“. Na página 84 da mesma edição, um outro soldado corre na direcção de Carson utilizando as seguintes palavras para chamar-lhe a atenção: “Carson! Coronel Carson!“.

Quanto à idade de Tex, em TEX- 265 – Fuga de Alcatraz, enquanto vestem os uniformes de guardas nesta aventura, Tex e Carson são indagados sobre qual idade deve constar nos documentos falsos que serão preparados pelo funcionário de Sam Brennan. Tex revela então que sua idade é 40 anos e a de Carson é 56. Carson, por sua vez, resmunga dizendo que sua idade é 55. E ainda diz algo mais ou menos assim: ” Que foi? Quer saber mais que eu?

Kit Willer – Neto legítimo de Flecha Vermelha, o grande chefe de todos os Navajos, o filho de Tex e de Lilyth aparece ainda bebé em TEX-043 – Juramento de Vingança. Na ocasião, o menino estava com uma tosse teimosa que o curandeiro da tribo não conseguia curar e como Lilyth estivesse muito preocupada, Tex resolve levar o menino até um médico na Missão de Taos.

Lilyth fica na aldeia porque o seu pai Flecha Vermelha estava adoentado e Tex parte com o pequeno Kit rumo a Taos. É nesse período que os Navajos são vítimas de uma epidemia de varíola, na qual Lilyth, mãe do pequeno Kit morre, fazendo com que o pequeno garotinho crescesse órfão de mãe, embora desfrutando de todas as atenções e regalias que um neto de um grande chefe possuía.

Quando tinha cerca de 7 anos (TXC-017 – O Rastro do Medo, a aventura tida por muitos como a mais bela de toda a saga de Tex), Kit reaparece novamente e acerta de surpresa uma flechada no chapéu de Carson, o qual fazia uma visita à aldeia. Nessa mesma história o pequeno garoto é sequestrado pelos assassinos de Arkansas Joe e já começa a dar mostras do tipo de sangue que corria nas suas veias, fazendo ameaças a um dos raptores: “Entre os Navajos se ganham penas de águia matando um inimigo… espero ganhar as minhas primeiras matando você!“.

Depois, amarrado ao poste onde seria queimado vivo, age como um verdadeiro guerreiro Navajo e pensa: “Não devo gritar! Tenho que mostrar que o filho de Águia da Noite sabe morrer sem gemer! Papai, você que é o homem mais corajoso do mundo… me dê forças para morrer como um guerreiro de verdade!” Mas Tex chega na hora “h” e liberta o menino, varrendo os assassinos de Arkansas Joe definitivamente da face da terra.

Tendo como tutor o fiel Jack Tigre quando Tex estava resolvendo alguma missão, o mestiço Kit Willer cresceu aprendendo todos os truques e sabedoria dos índios, sendo por estes conhecido como Pequeno Falcão, o filho de Águia da Noite. Atendendo a um desejo de Lilyth, já falecida, Tex manda o filho para a Missão de Santa Anita, onde o mesmo recebe a instrução escolar necessária.

O desejo de Tex era que Kit seguisse a carreira militar porque desde muito jovem provava ter coragem e uma inteligência ágil, mas demonstrando ter o instinto aventureiro do pai, Kit preferiu a vida selvagem das amplas pradarias à monotonia das cidades, facto que fez com que Tex ensinasse pessoalmente ao filho o manuseio do Colt 45 (TXC-021).

Nesse episódio, Kit aprende a atirar de alçada, em movimento ascencional, o que lhe dá vantagem de fracções de segundo para sacar mais rápido que qualquer adversário, fracção de segundos que num tiroteio, duelo ou confronto pode significar a vida ou… a morte.

Representado hoje como um rapaz audaz de cabelos negros, em algumas aventuras Kit precisou vestir-se de mulher para ludibriar bandidos astutos e assim, conseguir fazer triunfar a justiça, como na aventura Morte em Pecos City, a primeira vez que esse artifício é utilizado (TXC-025). Como o seu pai, também utiliza métodos não convencionais para arrancar uma confissão ou obter vantagens frente a assassinos e ladrões.

E também como o seu pai entrou para o corpo dos Rangers, recebendo o distintivo e prestando solenemente o juramento diante do Senhor Hovendal, deixando o seu pai emocionado, assim como Carson, que na época já era major (veja TXC-031, pág. 80). Esta história foi repetida em Tex Edição Histórica 12. Também temos indícios de que Kit Willer é mesmo um Ranger em TEX-011, quando Tex afirma no diálogo que ambos, Carson e Kit são guardas-rurais (pág. 7, 2ª edição). Mais indícios em TEX-111, quando ele, num saloon, apresenta-se como Ranger em missão especial (pág. 86, 1ªedição).

Ao que sabemos, pelo menos duas são as paixões de Kit Willer. A primeira é Flor da Lua, uma índia da tribo dos Utes que, da mesma forma que Lírio Branco – a mulher de Tex, acabou morrendo tragicamente. Podemos dizer que foi uma morte talvez até mais dramática, já que esta doce squaw jogou-se à frente do seu homem para salvá-lo da morte certa.

A segunda paixão de Falcão Pequeno é Donna, filha de Lena Parker. Sempre que se encontram, há mais do que um affair entre ambos, que envolve passeios ao luar, conversas animadas e um namoro jovial e encantador.

Kit Willer herdou em muito as características do pai, a astúcia de Jack Tigre e também parte da sabedoria do velho Carson, a quem chama de tio, mesmo sem ter laços sanguíneos com o velho rabugento, que na realidade é seu padrinho (ver TXC-022). Ágil no gatilho, o jovem Kit por muitas vezes salvou o próprio pai da morte certa.

Jack Tigre – Por ser um índio de poucas palavras, Jack Tigre é o pard mais sério de Tex. No decorrer das aventuras, o seu monossilábico “ugh” assume os mais diversos significados, entendido na hora por Tex, por Carson e pelo jovem Kit.

Irmão de sangue de Águia da Noite e representado nos quadradinhos com cerca de 40 anos, com olhos e cabelos negros, Tigre é também um exímio explorador, capaz de descobrir a pista mais remota, deixada por quem quer que seja. Grande caçador e profundo conhecedor das tradições de seu povo, foi Jack Tigre o instrutor do jovem Pequeno Falcão, ensinando a este com maestria o uso do arco e flecha, as primeiras lições no uso do Colt e todos os truques utilizados pelos índios na hora do perigo.

Um índio que “fala pouco, mas age muito”. Assim Tex o definiu na sua primeira aparição, na épica história “A Quadrilha dos Dalton” (TXC-015). Esperto, rápido e certeiro com o arco e flecha, Tigre manuseia com maestria seu Winchester e também sabe todos os truques dos índios, recorrendo a eles nas ocasiões mais inusitadas, quer seja para derrotar um facínora ou mesmo para salvar os companheiros da sombra da morte.

Nas primeiras aventuras que Jack Tigre acompanha Tex, seguidamente o vemos sentado num canto do quarto do hotel fumando um longo cachimbo indígena, enquanto que o Ranger conversa com alguém ou fuma um cigarro (veja TXC-019, pág. .82).


Companheiro de verdade, o silencioso Tigre esteve sempre presente nos momentos difíceis da vida de Tex, como naquele em que os assassinos de Arkansas Joe sequestraram Kit Willer, ainda um menino de cerca de 7 anos, e o levaram para o Canadá (TXC-019); ou no momento em que o Ranger soube da morte de sua doce e adorada Lírio Branco e deflagrou o juramento de vingança (TEX-043, TEX-044 e TEX-045).

Ao contrário do que muitos pensam, Jack Tigre e Tex não se conheceram na reserva navajo e sim em Santa Fé, pouco tempo depois do pacto de sangue de Tex com Lilyth, numa aventura trágica em que Tigre perdeu o grande amor de sua vida, uma jovem squaw Navajo de nome Taniah, revelações que vieram à tona na história Orgulho Navajo (TEX-294, TEX-295, TEX-296 e TEX-297). Para quem não sabe, foi a partir desse momento que o Tigre alegre, sonhador e brincalhão deu espaço ao homem reservado, sério e contemplativo que conhecemos hoje.

Tem uma cena em TEX-088 (página 176, primeira vinheta, primeira edição) na qual os leitores brasileiros têm a impressão de ver um pontinho preto na camisa de Tigre, de tal forma que poderia ser aquele pontinho uma pataca de Ranger. Este descuido ocorreu também na edição italiana original de TEX, primeira edição de TEX-047 italiano, na qual Tigre aparece de facto com a estrela de Ranger ao peito. Mas isso foi corrigido (desenho alterado) nas reedições italianas seguintes do Tex italiano, já que efectivamente foi um descuido dos autores, porque Jack Tigre não era, nunca foi e nem é um Ranger. Na segunda edição de TEX-088, edição nacional, o erro já foi consertado e Tigre já aparece sem o pontinho preto no peito.

Por conta deste erro, o editor de Tex brasileiro afirmou tempos depois no Secção de Cartas de TEX-265 que Jack Tigre é um Ranger (na resposta ao leitor Airton Geraldo Coelho Santiago, de Cantagalo de Peçanha / MG), mas fontes da SBE confirmam que na verdade o índio Navajo não é e nem nunca foi um Ranger. Tigre não participa de todas as aventuras de Tex, mas isto porque, junto com Kit Willer, ajuda a coordenar os destinos da reserva Navajo quando Tex e Carson estão fora da reserva.

[1] (Texto publicado originalmente no Blogue “Paulo Nailson, em Setembro de 2018)

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Sempre BOM lermos algo sobre os 4pards…
    E escrito pelo Texiano-Devocional…
    Zenaldo Nunes(Tex-Nordestinado)!Brasil!

  2. Sendo parabenizado e motivado por amigos “deste naipe”, incluindo o Zeca, fazem o caminho a percorrer ficar mais suave.
    Grato pelas considerações.
    Abraços.

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