As Leituras do Pedro: Primavera del 68

As Leituras do Pedro*

Primavera del 68
Gianfranco Manfredi (argumento)
Luca Casalanguida (desenho)
Panini Comics
Espanha, 25 de Outubro de 2018
195 x 259 mm, 144 p., cor, capa mole

25,00 €

Desdobramentos

Se há algo que se tem de reconhecer à actual direcção da Sergio Bonelli Editore, é a capacidade de diversificar a sua linha editorial, sem trair os seus princípios e as suas linhas mestras.

Os resultados, estão à vista de todos.
[E o crossover com a DC Comics, anunciado há dias em Lucca, cujas hostilidades abrirão em 2019 com a parceria entre Zagor e Flash, é apenas mais um passo.]

O predomínio de Tex mantém-se, seguro nas bancas – tanto quanto é possível nos dias que correm -, omnipresente em sucessivas colecções com jornais e invadindo paulatinamente as livrarias em edições cuidadas que, se de alguma forma renegam as origens e o espírito populares do ranger, por outro fazem jus à arte – escrita e desenhada – que o suporta e satisfazem o gosto de leitores que (outr)os hábitos de leitura tornaram mais exigentes.

Ao mesmo tempo, há uma aposta concreta e definida numa diversificação temática, quer em publicações regulares de banca, quer em edições soltas.


Desta forma – desdobrando-se na forma, no estilo e no(s) conteúdo(s) – a Bonelli tem chegado a outros públicos e, também a outros países. A colecção que a Levoir editou este ano em Portugal – fora dos parâmetros ‘tradicionais’ da casa italiana – é um exemplo; as diferentes editoras que no Brasil vão editando os seus heróis é outro; a recém-criação de um ‘selo’ Bonelli pela Panini espanhola pode ser um terceiro modelo.

Este último acaba de se estrear, em edições (muito) cuidadas, com fartos extras, de formato similar à colecção da Levoir, em capa (mais) dura e papel de boa (e melhor) gramagem (que aquela) – apontando claramente às livrarias e a leitores com outras exigências quanto ao ‘objecto’ de leitura. E desdobra-se numa temática dual, apresentando por um lado o mais ‘popular’ Dragonero – a que voltarei em breve – e por outro um one-shot que parte de uma base histórica – como o muito interessante Le Storie: Sangue e Gelo – como sustentáculo da ficção que o preenche.

Primavera del 68 – com edição original italiana de Maio deste ano – tem a assinatura – na ideia base, na concepção e no argumento – de Gianfranco Manfredi – a quem volto mais cedo do que esperava – e está segmentada em duas partes distintas. Na primeira, passada na tal Primavera de 1968, acompanha a participação, mais ou menos empenhada, por razões díspares, de seis jovens – Lina, Margherita, Paolo, Armando, Milo y Turi  – nas manifestações e movimentos que tiveram lugar em Milão, a exemplo do modelo que chegava de França.

Na segunda, vinte anos mais tarde, um fotógrafo que os retratara numa das manifestações, tenta descobrir o que foi feito deles, no que se tornaram, como os sonhos e expectativas de então se concretizaram – ou não – nas suas vivências actuais.


Estimulante na sua ideia base, Primavera del 68 sofre pelo facto de ter sido confinado apenas a um volume único e não ter originado, por exemplo, uma mini-série – (mais ou menos extensa) a exemplo de Face Oculta, outra criação de Manfredi – pois no final da quase centena e meia de pranchas deste volume fica a sensação de que ficou por narrar muito dos percursos – com opções, incidentes e acidentes – que levaram cada um deles a ser o que são no presente (do relato).

Os condicionalismos do início, a força de vontade de cada um, a sua condição social e financeira, os ideais – ou a falta deles -, as relações, o oportunismo, a dedicação, a entrega, a capacidade de reagir às derrotas, a vontade de impor – e de se impor -, os encontros e desencontros ficam maioritariamente à imaginação do leitor, com a certeza que ‘nada ficou como dantes’ depois da vivência daquelas semanas intensas, vistas aqui sob uma outra óptica, mais humana, à margem de condicionalismos sociais e políticos.

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. É mais fácil ser publicada em Portugal, do que no Brasil. Talvez numa nova coleção Bonelli em 2019.

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