Bonelli, o outro nome da BD popular

Por Pedro Cleto*

Durante décadas – cuja produção é hoje apreciada e elogiada – a banda desenhada – para o bem e para o mal – foi eminentemente popular. Sendo que ‘popular’, neste contexto, significa tanto o seu fácil acesso – nos jornais, no início – quanto a capacidade de proporcionar distracção e divertimento.

O selo Bonelli é, hoje, um dos últimos bastiões desta banda desenhada ‘popular’. Porque as suas edições – a maioria delas – continua a ser de baixo preço, leitura acessível e resposta directa às exigências dos seus leitores. Em edições de formato moderado e papel razoável – maiores e melhor, respectivamente – do que aquele a que nos habituaram os ‘formatinhos’ brasileiros – de preço (também) moderado e boa distribuição. E, com uma qualidade média – no que a argumentos e desenhos diz respeito – muito interessante, ainda mais assinalável quando se sabe que falamos de revistas mensais com mais de uma centena de páginas, em que os autores se sucedem para garantir esse ritmo.

Identificada comummente com Tex – que este ano festeja 70 anos de publicação ininterrupta – a banda desenhada Bonelli baseou-se, primeiramente, em heróis recorrentes e infalíveis, ao gosto dos leitores. Identificou-os graficamente com os actores de cinema que as pessoas (re)conheciam, inspirou-se em muitos filmes dos quais fez variações desenhadas, ao longo dos tempos moldou-se a modas e gostos, acompanhou temáticas em alta – dinossauros, extraterrestres, conspirações em grande escala… – numa evolução lenta e gradual que nunca colocou em causa a essência dos protagonistas, a sua imagem de marca, as suas características distintivas. Esta assertiva opção editorial garantiu durante décadas – continua a garantir – vendas muito interessantes, fidelizou leitores – o quase fanatismo (no bom sentido) de alguns é surpreendente, para mais nos dias de hoje – e foi dessa forma capaz de atrair para as suas páginas, para projectos pontuais ou para as edições regulares, autores de nomeada, de créditos firmados e reconhecidos, como Toppi, Bernet, Breccia, Kubert, Font ou Ortiz.


Alguns heróis – e no caso da Bonelli, o termo é mesmo este, ‘heróis’ – viram passar o seu tempo, outros vieram ocupar o seu lugar, alguns – Ken Parker, Julia… -‘atreveram-se’ a deixar o pedestal da infalibilidade e a identificar-se – completa e humanamente – com os seus humanos leitores. Por tudo isso, falar de banda desenhada Bonelli – os ‘fumetti’ (quase) por excelência – significa abrir uma porta para uma realidade vasta e diversificada, onde todos poderão encontrar propostas ‘à sua medida’, como a colecção que a Levoir disponibiliza em parceira com o jornal Público desde ontem, se encarregará de mostrar àqueles que a queiram espreitar.

O western puro e duro de Tex, o cowboy lendário, justo e infalível, fez a abertura da colecção. Dylan Dog, o único que chegou a suplantar o ranger em vendas e popularidade – cá está ela outra vez! – e Dampyr, percorrem os caminhos do fantástico e do terror. As aventuras deste último, tal como a de Martin Mystère, investigador dos grandes enigmas da humanidade, decorrem mesmo no nosso país, as do primeiro na zona vinhateira do Douro, o segundo nos Açores, na pista da Atlântida. Le Storie (muito bem referenciada) e Dragonero, são novidades para mim. Mister No, criação de Sergio Bonelli, combina aventura, ecologia e os OVNI em plena Amazónia, no período da Guerra Fria. Para o fim deixei Julia, , a criminóloga de Garden City, presença regular e incontornável neste blogue, numa edição desenhada pelo grande Sergio Toppi.

Voltarei semanalmente – voltarei? De boas intenções… – a cada título, de forma mais específica.

Antes da listagem completa, fecho com um paradoxo. Sendo as edições originais Bonelli eminentemente populares, teria sido mais coerente que a edição da Levoir acompanhasse mais de perto esse modelo. Nomeadamente no que ao formato diz respeito, até porque temo que algumas edições – em especial as mais antigas, como é o caso de Martin Mystère e Mister No – sejam prejudicadas pelo maior formato…

Entendo, no entanto, perfeitamente a opção, uma vez que esta colecção – como as restantes que a Levoir – e também a ASA – têm disponibilizado com o jornal Público, se dirigem a um público mais específico e maioritariamente exigente. Sem esquecer que estamos num tempo em que a própria Bonelli – sem olvidar a sua essência – tem procurado outros públicos – com edições mais cuidadas, em melhor papel, coloridas, de grande formato… e que a fidelidade dos leitores mais acérrimos – mas não só… – motivados pela qualidade da edição e pelas duas capas inéditas, fez já multiplicar as consultas à editora sobre as condições de vendas desta colecção para o estrangeiro, nomeadamente Brasil e Itália.

A colecção

1. Tex: A lenda de Tex

(Colectânea de histórias curtas)
Argumentos: Manfredi, Burattini, Rauch e Ruju
Desenhos: Biglia, Rubini, Bocci e Tisselli
12 de Abril
136 págs. Cores.
Capa exclusiva e inédita de Stefano Biglia

2. Dampyr: Aventuras em Portugal

19 de Abril
200 págs. Preto e branco.
Argumento: Mauro Boselli e Giovanni Eccher
Desenhos: Alessandro Bocci e Maurizio Dotti

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3. Dylan Dog: A Saga de Johnny Freak

Argumento: Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi
Desenhos: Andrea Venturi e Giampiero Casertano
26 de Abril
200 págs. Preto e branco.

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4. Julia: O Eterno Repouso

Argumento: Giancarlo Berardi
Desenhos: Sergio Toppi
3 de Maio
136 págs. Preto e branco.

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5. Le Storie: Sangue e Gelo

Argumento: Tito Faraci
Desenhos: Pasquale Frisenda
10 de Maio
120 págs. Cores.

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6. Tex: A pista dos fora-da-lei

Argumento: Mauro Boselli e Claudio Nizzi
Desenhos: Carlos Gomez e Andrea Venturi
17 de Maio
216 págs. Preto e branco.

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7. Martin Mystére: O destino da Atlântida

Seguida de Assunto de família
Argumentos: Alfredo Castelli
Desenhos: Cardinale, Orlandi e Toppi
24 de Maio
184 págs. Preto e branco.

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8. Dragonero: A primeira Missão

Argumento: Luca Enoch e Stefano Vietti
Desenhos: Manuel Morrone e Cristiano Cucina
31 de Maio
136 págs. Cores.

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9. Mister No: OVNIS na Amazónia

Seguida de Garimpeiros
Argumentos: Tiziano Sclavi e Guido Nolitta
Desenhos: Fabio Civitelli e Roberto Diso
7 de Junho
136 págs. Preto e branco.
Capa exclusiva e inédita de Fabio Civitelli.

10. Dylan Dog: Os Inquilinos Arcanos

(Colectânea de histórias curtas)
Argumento: Sclavi
Desenhos: Roi, Breccia e Manara
14 de Junho
120 págs. Cores.


Livros de capa dura
Dimensões: 190 x 260
PVP: 10,90 €

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro (http://asleiturasdopedro.blogspot.com/).

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Quando se pensa em fumetti se pensa em Bonelli, mesmo tendo outras editoras ativas. Uma pena que o mercado americano não publica na forma correta. Quem sabe uma parceria com a Marvel ou DC Comics.

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