WELCOME TO SPRINGVILLE

Por Carlos Gonçalves

Ao olharmos para estes 11 episódios que Giancarlo Berardi e Renzo Calegari/Ivo Milazzo criaram, no intervalo do lançamento de algumas aventuras de “Ken Parker”, não duvidamos que esta é uma pequena série infelizmente, mas fabulosa na sua concepção. Digamos que os três autores, independentemente da ligação que já havia entre eles para a continuidade de escrever um, os textos e os outros dois artistas, desenhar, teremos que concluir que jamais três pessoas ligadas à banda desenhada se completaram tão bem entre si, como na produção desta série. O mesmo já tinha sido detectado no “Ken Parker”, pois Berardi é um portento nos argumentos, como Milazzo é nos desenhos daquele “herói” e como Calegari seria também nesta série. Em qualquer das duas séries as paisagens são fabulosas e nos detalhes de cada cena, não foram esquecidos os pormenores e os cenários adequados a um “western” bem documentado. Esta série seria inicialmente publicada em Itália na revista “Skorpio” em 1977/79.

Sete dos seus episódios foram desenhados por Calegari e quatro por Ivo Milazzo. O velho Oeste é muito bem retratado no viver quotidiano de uma pequena cidade, unicamente com um aglomerado de casas, tal como os antigos filmes de “cow-boys” em que um hotel, um bar, um bordel, o escritório do xerife, um armazém que vende tudo e poucos prédios mais, povoavam a pequena rua mais central da cidade. A série nem possui personagens fixas e aparece um ou outro assalto e muito poucos tiroteios. Não faltarão as mulheres do salão, os batoteiros, os párias, os pistoleiros com contas a ajustar e os caçadores de recompensas. Os índios aparecem unicamente em dois dos episódios…
As personagens vão rodando e aparece-nos uma jovem noiva chamada “Esther”, que tenta enganar o noivo, ao pensar roubar as suas economias, depois será um barbeiro chamado “John Eberhart”, que possui o “hobby” da fotografia e também o xerife “Bryan Walker”, um homem de grande integridade moral e que desempenha o seu papel de forma diplomática.


Outras personagens serão o ”Lenny”, empregado de balcão, cujo passado o persegue, depois é o médico “Elija Scot” que é aparentemente um homem tranquilo, mas que sabe usar a arma quando se torna necessário, um anarquista que tenta matar o presidente, viverá o seu momento de glória morrendo a seguir e temos ainda “Mike Donovan”, um “cow-boy” que tinha um passado turbulento. Temos igualmente “Hatfield”, um batoteiro cujo fim se avizinha ser breve e ainda nos restam mais as personagens, “Virgil” e “Quanah”, um caçador de peles e um índio…
Os episódios são pequenos, com doze páginas apenas cada um, com excepção do último com duas partes de doze páginas cada. As personagens desempenham o seu papel, como de um filme se tratasse, tal é postura de cada uma, no modo como é apresentada. Vamos ainda a ter acesso a um investigador ligado à Agência Pinkerton, célebre na sua época por perseguir e apanhar sempre o seu criminoso. Finalmente temos o último episódio, cujo enredo é dividido em duas partes e que marca o destino do tal “cow-boy”, os que o perseguem no início e o duelo final, num ajuste de contas sempre agradável de se assistir, ao mesmo tempo que a situação de uma criança refém dos opositores do nosso “cow-boy”, acaba por ter um final feliz, quando a esta é salva e se verifica a aceitação desta última personagem, no seio da sociedade da pequena cidade de Springville. Só temos pena de não termos o privilégio de ter acesso a novos episódios desta excepcional série, cuja qualidade ultrapassa o que de uma maneira geral tem sido criado por outros autores sobre este tema.

No Brasil a série “Welcome to Springville” seria publicada na revista “Histórias do Faroeste” a partir do seu nº. 12 (Novembro de 1980) e terminaria no nº. 22 (Setembro de 1981). Infelizmente as dimensões da publicação eram muito pequenas, pelo que a mesma não beneficiaria em nada o seu aspecto gráfico, antes pelo contrário.

IVO MILAZZO, UM DOS DESENHADORES DA SÉRIE


Ivo Milazzo nasceu em Tortona a 20 de Junho de 1947. Seria na década de 70 que juntamente com o argumentista Giancarlo Berardi criou a personagem “Ken Parker”, cujo sucesso passaria fronteiras. Outras séries seriam igualmente desenhadas por si, nomeadamente “L’Uomo delle Filippine”, “Welcome to Springville”, “Marvin, il Detective”, “Tom’s Bar”, “Giuli Bai & Co.” e “Magico Vento”. Mas o seu primeiro trabalho seria “Il Cieco” publicado na revista “Horror” italiana, cujo texto era de Berardi. Em 1974 os dois ofereceram a série “Ken Parker” à Sergio Bonelli Editore que seria aceite. Durante três anos recriaram a personagem baseada na figura do artista de Cinema Robert Redford e de uma forma em que a personagem tentaria ser autêntica, quase sem violência, apesar de na época em que a acção se passa, a vida ser rude no Oeste. E o nosso“herói” seria lançado. Em qualquer trabalho de banda desenhada sabemos que uma pesquisa terá que ser feita, para que o trabalho seja coerente e fidedigno. Quer este desenhador quer o autor dos argumentos, estudavam as situações antes de as criar. Ainda que autor de um traço mais simples, Ivo Milazzo tenta passar uma imagem visual directa para o leitor. Como prova de que o estilo do desenhador foi bem aceite, não há dúvida, já que o sucesso verificou-se e o “Ken Parker” foi editado na Turquia, Espanha, Grécia, Holanda, nos países eslavos, França e Brasil.

GIANCARLO BERARDI, UM ARGUMENTISTA DE PESO


Giancarlo Berardi nasceu a 15 de Novembro de 1949 em Génova, Itália e quando novo, possuía uma grande paixão pelo teatro e pela música. A sua estreia como argumentista dá-se no princípio dos anos setenta, quando escreve o texto de “El Cieco”, que Ivo Milazzo desenha. Segue-se “Il Palafita” também com Milazzo, “Tarzan”, “Gato Silvestro” e “Topolino” ainda nesse ano de 1970. No ano seguinte será a vez de escrever textos para a série “Diabolik”. Em 1974 é então que resolve oferecer o “Ken Parker” que Sergio Bonelli aceita e será publicado em 1977. Textos para “Wyatt Doyle” e “Terra Maledetta”, serão dois trabalhos seus que Gianni Forgiarini e Antonio Canale desenham respectivamente. Depois a série “Tiki” terá igualmente texto seus, o que acontece igualmente na série “Il Piccolo Ranger” com desenhos de Lina Buffolente. Em 1977 aparece então “Welcome to Springville”. A série retrata uma pequena cidade da fronteira, em finais dos anos 1800, com personagens quotidianas e felizes com as suas vidas simples. Em 1980 é a vez de criar a história ”L’Uomo delle Filippine”. Dois anos depois cria argumentos para“Marvin il Detective”.

Em 1985 é a vez de escrever argumentos para as séries “Ken Parker”, “Tom’s Bar”, “Giuli Bai & Co.”, “Tommy Stele” e “Sherlock Holmes”. Em 1989 e com a sua editora, ocupa-se a lançar de novo a sua série “Ken Parker”, o que o ocupará alguns anos. Em 1998 está de volta com a série “Nick Raider” e uma história de “Tex”. Será também neste ano que cria a sua nova série “Julia”, que irá igualmente atingir o sucesso merecido. Ao mesmo tempo o nosso autor é distinguido com vários prémios: Anafi, Oesterheld, Haxtur e Yellow Kid.

RENZO CALEGARI, O PRINCIPAL DESENHADOR DA SÉRIE


Renzo Calegari nasceu também em Génova a 5 de Setembro de 1933. Desde muito novo dedica-se ao estudo do desenho. Em 1955 dá os seus primeiros passos nas séries “El Kid” e “I Tre Bill”, seguindo-se a “Big Davy”. Mas uma das suas vastas produções irão estar ligadas à “Storia del West” em 1964, na criação de várias pranchas e de capas para essa série que seria publicada em Portugal e no Brasil. Em 1969 abandona temporariamente a banda desenhada, voltando unicamente em 1977 precisamente a desenhar a série “Welcome to Springville”. Segue a sua vida artística com algumas produções para as revistas italianas “Orient Express” e “Il Giornalino”. Ocupa-se a seguir de uma história de “Tex”, já em 1994. Trabalhos esporádicos acompanham-no ao longo de mais duas décadas.

Em 2014 e numa homenagem a este desenhador, a Mondadori Editore resolveu publicar um volume com a série completa, mas desta vez com as cores de Maurizio Mantero. Calegari é um excelente pintor e a prova disso está bem patente nos trabalhos paralelos que executa sobre o Oeste onde sobressaem as cores quentes em que é mestre.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Nossa, essa série é maravilhosa!
    Eu a tenho completinha, num só volume, publicada no número 44 do KENPARKER COLLECTION PRESENTA, da Panini Italiana 🙂
    Inclusive, lendo essa matéria, fui correndo à minha estante e retirei o volume para reler.

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

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