Por João Miguel Lameiras (texto e fotos) *[1]
No dia em que termina a 6ª edição do Festival de Banda Desenhada de Beja, pareceu-me interessante recuperar aqui algumas imagens do primeiro fim-de-semana do Festival, aquele em que estiveram presentes a maioria dos autores. Cada vez mais importante, até em termos da edição nacional (basta ver a quantidade de títulos que foram apresentados durante o Festival) Beja continua com uma programação que concilia autores consagrados com nomes mais alternativos, dando grande destaque à produção nacional.
Além disso, é o Festival nacional que possibilita um contacto mais próximo entre os autores e o público, um pouco na linha do que acontece em Espanha, com Festivais como Gijon e a Corunha, contando com a simpatia natural das gentes do Alentejo e a excelente comida (e melhor bebida) da região.
Apesar da zona histórica da cidade convidar a um passeio a pé, continuo a achar que a aposta em descentralizar as exposições não resulta inteiramente, seja porque algumas estavam em locais difíceis de encontrar (The Lisbon Studio), seja porque estavam fechadas (Kingpin Books – no Conservatório Regional do Baixo Alentejo, onde, tal como no ano anterior, bati com o nariz da porta…).
Dos autores presentes, a grande surpresa foi Hippolyte, autor francês que desconhecia, mas cuja qualidade e versatilidade do trabalho me surpreendeu. Um autor a descobrir urgentemente. Também Hermann, que só foi pena não ter exposição, contrariou a fama de autor com mau feitio, revelando-se muito simpático e disponível durante todo o fim de semana, para além de ter protagonizado um divertidíssimo encontro com o público. Curioso foi também ver a sua empatia com Civitelli que, graças à incansável persistência de José Carlos Francisco deu origem a uma cross over entre Red Dust e Tex, num desenho feito a meias pelos autores belga e italiano.
Quanto a Civitelli, que com a ida a Beja, fez o pleno dos Festivais nacionais, voltou a arrastar consigo um legião de fãs do Tex, que não quiseram perder a oportunidade de ver os originais da história que está a desenhar para o próximo “Texone“.
Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, cujo trabalho admiro há anos, foram também um dos merecidos destaques do Festival, com uma excelente exposição e um animado encontro com o público. e como trouxeram com eles algumas edições brasileiras que não tiveram distribuição em Portugal, tive também oportunidade de adquirir a adaptação que eles fizeram de “O Aleanista”, de Machado de Assis, um dos meus escritores brasileiros favoritos.
Dos restantes autores estrangeiros, Dame Darcy confirmou que é melhor a fazer BD do que como cantora…, Rufus Dayglo, além de um excelente desenhador, revelou ter a BD (literalmente) à flor da pele, Niko Henrichon, desenhador do magnífico “Fábula de Bagdad” fez-me o melhor desenho da minha colheita de autógrafos de Beja 2010 e Igor Hofbauer confirmou que o seus estilo funciona melhor nas ilustrações soltas (tinha alguns excelentes posters para venda) do que na BD.
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Dos portugueses, foi pena que João Fazenda não tenha acompanhado a sua exposição e que Jorge Coelho não tenha ainda um álbum editado em Portugal, pois é um dos melhores desenhadores nacionais, cujo estilo evoluiu bastante, como se pode ver na exposição que lhe foi dedicada. Excelente também a exposição do Lisbon Sutudio e os trabalhos de Regina Pessoa e João Vaz de Carvalho. Já as mostras de Jorge Miguel e Miguel Rocha, sofrem do problema de não haver originais para expôr, apenas reproduções digitais…
Acima de tudo, foi um fim-de-semana muito bem passado, que me deu oportunidade de rever alguns amigos da “tribo da BD”, como bem lhe chamou o Machado-Dias e conhecer pessoalmente alguns autores cujo trabalho admiro.
*João Miguel Lameiras, crítico e especialista de BD e também autor do blogue Por um punhado de imagens.
[1] (Texto publicado originalmente no Blogue “Por um punhado de imagens“, em 13 de Junho de 2010)
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