Tex Série Normal: Os Sete Assassinos

Tex italiano 463Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Carlo Raffaele Marcello e capas de Claudio Villa. Com o título original I sette assassini, a história foi publicada em Itália nos nº 463 a 465 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 378 a 381.

Um bando de sete criminosos chefiados por Jack Thunder, um cego louco, anda de cidade em cidade a saquear bancos e a deixar atrás de si um rasto de sangue e destruição, cometendo assassinatos frios e impiedosos. Enquanto isso, Tex, Carson, Kit e Tigre, que estão no encalço de um ladrão de cavalos, chegam a Heaven, uma pequena cidade onde Lenna Parker e a sua filha Donna abriram uma estalagem, graças a parte do dinheiro roubado outrora pelo bando dos Inocentes, do qual fazia parte Ray Clemmons, o pai de Donna. Dinheiro esse que Jack Thunder também pretende saquear.
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Tex italiano 464Esta é uma aventura violenta nos variados sentidos que a queiramos interpretar. Violenta no rasto de destruição que vai deixando ao longo das suas mais de trezentas páginas, violenta também na forma abusiva como Jack Thunder guia a sua conduta, marcada por uma certa religiosidade, porquanto para este psicopata toda a sua acção acaba por ser justificada por preceitos religiosos e a que não é alheio o facto de apelidar o seu bando de família.
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Violenta ainda nas contradições surgidas da própria aventura, primeiro com o elemento fogo sempre presente na acção destrutiva de Thunder, mas que aqui surge mais identificado a limpeza e purificação das almas, depois o inferno onde tudo acaba por acontecer (Heaven), que tem tudo menos de paraíso. Finalmente, e apesar de toda esta violência, a aventura não renega a sua veia romântica, patente não só no romance entre Donna e Kit e mais tarde com Kid Rodelo, também na atracção sentida entre Carson e Lenna, porque não ainda no comportamento dos irmãos Lane, mas sobretudo em toda a atmosfera em redor da estalagem.
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Tex italiano 465Toda a estrutura de Boselli é notável, onde desenho e diálogo aliam-se numa acção narrativa verdadeiramente cinematográfica. Boselli consegue sempre alternar cenários e situações sem que a estrutura narrativa se ressinta. Porque se trata de um autor habituado a apresentar os elementos da trama, desenvolvendo-os sempre sucessivamente com o auxílio de construções psicológicas, que o autor privilegia, logrando construir personagens ricas, densas e poucas vezes maniqueístas.
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Cada elemento do bando dos sete assassinos tem o seu próprio perfil, moldado por um passado determinante na sua conduta e é curiosa a forma como Boselli coloca em cada um dos assassinos uma característica particular: Jack Thunder é cego mas possui ouvidos extremamente acutilantes, Monk utiliza uma metralhadora, Kid Rodelo esconde por trás da sua cara de anjo um verdadeiro pistoleiro, Firewolf é um índio pirómano, Lizard treinou dois cães para atacar qualquer presa, Hammer é um negro gigante que usa um martelo para os seus fins, enquanto que No-Face apenas emite grunhidos e usa o punhal como poucos. Mas a aventura também é feita de outras personagens como o padre Sheridan, Higgins, o atormentado Latimer, a senhora Philips ou ainda os simpáticos Jim Lane e o seu irmão Bronco, construções “bosellianas” que denotam uma real aptidão do autor que nunca nos cansamos de elogiar.
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Arte de MarcelloO desenho de Marcello começa a sentir a erosão dos tempos (sabemos que entretanto uma incapacidade física já o afastou do desenho), mas ainda mantém aqui muito da auréola romântica que sempre o caracterizou. A sua composição dos quatro pards é das mais conseguidas, mas merece especial destaque a forma como o autor consegue também construir uma galeria de psicopatas frios e loucos, desprovidos de qualquer sentimento como o bando dos sete assassinos.
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A figura de Jack Thunder parece ter sido estudada afincadamente pelo autor, tão sinistra nos surge em páginas latentes de destruição e loucura, mas a verdade é que qualquer outro dos elementos dificilmente seria composto de modo tão eficaz.
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Os sete assassinosO desenho de Marcello já não surge tão fino de pormenor como em anteriores aventuras, de que destacamos forçosamente aquela da qual esta surge intimamente ligada, “O Passado de Kit Carson” (Boselli alude ainda a “O Homem Sem Passado”, quando Donna refere a relação que Kit manteve com Flor de Lua), onde o autor compôs páginas caracterizadas por um traço mais preciso, parecendo agora ausente em várias passagens.
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Uma aventura memorável, digna de permanecer na galeria texiana das mais apreciadas e que poderá ter lançado mais um grande adversário para Tex, uma vez que a morte de Jack Thunder nunca foi verificada pelo ranger, deixando uma abertura para um eventual regresso.

Texto de Mário João Marques

6 Comentários

  1. Mais uma excelente crítica. Parabéns Mário, mas para atiçar um pouco o debate, oficialmente o pai de Donna é o “velho” Kit Carson… e quando digo oficialmente é pelo que está escrito no site da Sergio Bonelli Editore:

    “È il caso, per esempio, di Lena e di sua figlia Donna. Lena era stata la compagna dello sceriffo di Bannock, Ray Clemmons, che poi un giovane Kit Carson scoprì essere il capo occulto della temibile Banda degli Innocenti, un gruppo di razziatori che terrorizzava il Montana con le sue scorrerie. Lena, scoperta l’attività criminale del suo uomo, non esita a schierarsi dalla parte di Carson, del quale nel frattempo si è invaghita, e che poi scopriremo essere, nel corso di un’avventura successiva, il padre di Donna.”

    E agora como ficamos?

  2. Ah, mas isso é óbvio! Porque Lena tem umas reações tão típicas de quem esconde a verdade!… Donna é filha de Carson, por todo direito e justiça! Só falta ele saber, claro.

  3. Essa é outra das histórias de Tex das mais marcantes e está entre as minhas preferidas(Oklahoma e Vale do terror)… gosto muito desses bandos formados com cada membro especialista em alguma coisa… lembro muito daquela aventura de Zagor “O anjo vingador”, que é uma das minhas preferidas do Espírito da Machadinha, que também tem esse lado de religiosidade e fogo, purificação da alma, etc…
    E também a resenha está excelente, parabéns!

    Um abraço e contnuem assim…

    Edinan Motta

  4. Os desenhos de Marcello são lindos. A história é maravilhosa.
    Tem todos os ingredientes de um filme de faroeste de muito longa duração, com um enredo ímpar, muito diferente do “normal” das histórias de Tex. Sem dúvida é uma das melhores aventuras do mocinho mais longevo dos quadrinhos.
    Kit Willer namorando a filha de Kit Carson é demais! Assim como é demais ver celerados tão terríveis como os Sete Assassinos! Pra mim, esse septeto consegue ser ainda muito mais cruel que El Muerto e seus quatro capangas! Os Sete Assassinos ainda me parecem piores que Mefisto, que o Mestre, que Proteus, e também piores que os Filhos da Noite! São cruéis, fortes, ágeis, cheios de truques e totalmente destituídos de qualquer regra de princípios naturais humanos!
    A meu ver, essa história merece um grande DEZ por vários motivos! Mas o que mais acho que faz essa história ser diferenciada de todas as demais histórias do ranger, ao longo de toda sua carreira, é que os Sete Assassinos são, sem dúvida alguma, os piores celerados que Tex Willer e seus pards enfrentaram até hoje! Mais violentos que esses sete homens ainda não surgiu igual, em toda a grande saga de Águia da Noite! Jack Thunder era realmente um cara dotado de uma inteligência incrível, além de tudo o mais… e soube formar o pior bando de delinquentes que o Velho Oeste já viu aparecer! Não existe outra história de faroeste, seja em HQ, seja em filmes, que tenha tido bandidos tão violentos assim!
    Realmente um deleite pra quem gosta de um faroeste autêntico, com direito a muita violência, e violência de todo tipo que se possa imaginar!
    Essa história é um clássico da saga do Águia da Noite, e talvez seja a melhor aventura de Tex já escrita!

  5. Raffaele Marcello também é um dos melhores desenhistas de Tex de todos os tempos! Isso tem que ser ressaltado também! Que lindos desenhos! Incomparáveis!

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