Tex Série Normal: Alma Envenenada

Tex 425Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Vincenzo Monti e Bruno Brindisi; capas de Claudio Villa.
Com o título original Muddy Creek, a história foi publicada em Itália nos nº 519 e 520 e no Brasil, pela Mythos Editora nos nº 425 e 426.

De passagem no Texas, Tex e Carson aproveitam para visitar Harry Macomber, um velho amigo e ex-xerife que agora se encontra instalado num rancho adquirido com uma herança de família. Harry enfrenta algumas dificuldades, nomeadamente pelo facto de que os técnicos de uma mina de cobre instalada nas redondezas descobriram um rico filão de ouro precisamente no subsolo das terras de Harry. Os donos da mina começam a engendrar um plano capaz de aniquilar Harry e entregar o rancho nas mãos do seu filho mais velho que sente ciúmes pelo facto do pai dar sempre mais atenção ao seu irmão mais novo. Aquilo que era apenas uma visita de passagem, torna-se para Tex e Carson mais um caso para resolver.

Personagens secundáriasMuitos acusam Nizzi de escrever aventuras para uma personagem que não é Tex, seja porque o ranger age pouco, seja porque ele já não demonstra a dureza e justiça de outrora, no fundo uma perfeita ilusão do velho herói bonelliano. São críticas que podem conter alguma verdade, mas são críticas na maior parte das vezes severas e que guardam algum preconceito para com Nizzi. A verdade é que muitas vezes os argumentos são bem escritos, guardam razões de interesse, prendem a atenção do leitor, renascem elementos clássicos e, mesmo assim, são alvo de acérrimas críticas.

Tex ameaçadorMuddy Creek é um perfeito exemplo de uma aventura interessante, mas que parece não ter colhido os favores de alguma crítica. Muitos insistem em ver hoje o mesmo herói decalcado das décadas passadas quando os tempos são outros, com diferentes percepções, anseios e sensibilidades dos leitores. Esta aventura apresenta elementos de alguma originalidade, como a inveja e ciúme entre os dois irmãos, uma história de amor que parte de bases pouco sustentáveis entre um jovem incompreendido e a rapariga do saloon, a relação assumida de modo diferente entre o pai e os seus dois filhos, ou seja, parece-nos estar em presença de algo diferente que, mesmo assim, não evitou as críticas.

Tex 426O Tex bonelliano era um Tex capaz de enfrentar foras-da-lei, bandidos da pior espécie, um sem número de párias da justiça, mas era também um Tex que não guardava muito espaço para outros elementos ou temas. Aqui, Nizzi coloca Tex numa aventura clássica (onde não falta o xerife corrupto), sem descurar muitas características bonellianas no seu mais puro sentido maniqueísta e de homem de decisão, conferindo-lhe ainda este toque novelesco, esta estratégia entre sentimentos e emoções. Não se trata de debilidades de Nizzi ou alteração no código das personagens, trata-se antes de mais de uma modernidade, sublinhando-se todo o desenvolvimento da aventura com a acção a guiar coerentemente em redor das personagens.

Tex e CarsonO desenho merece-nos duas apreciações distintas, em virtude das diferenças existentes entre os estilos de Monti e Brindisi. Muddy Creek (no original) representa o último trabalho de Monti, aliás inacabado, sendo que Brindisi, chamado a continuar a aventura, acabou por assumir o seu estilo sem se preocupar em moldar ou adaptar algo, assumindo antes a sua própria personalidade. Monti foi sempre um desenhador honesto, um daqueles trabalhadores que qualquer editor gosta, sem grandes rasgos, mas também sem comprometer e sempre ciente do objectivo final. Inicialmente influenciado pelo traço de Ticci, gradualmente foi assumindo o seu próprio estilo, algo estanque certamente, mas sempre eficaz.

Kit Carson em acçãoPelo contrário, Bruno Brindisi afirma-se com um estilo de notável modernidade, um traço capaz de retratar cabalmente a poeira, o suor, todo o cheiro do velho oeste. Tex e Carson são por demais convincentes, mas o ranger é merecedor de rasgados elogios, sempre de olhar penetrante e incisivo, lembrando o mesmo olhar do saudoso John Wayne. Depois do seu primeiro trabalho em “I Predatori del Deserto”, Brindisi vai aqui mais longe, aliando evolução com equilíbrio, segurança com eficácia e não esquece de homenagear Monti, através do chefe da estação de comboio presente na penúltima página da aventura.

Texto de Mário João Marques

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