Tex Série Normal: A Mina do Fantasma

Tex 394 - A Mina do FantasmaArgumento de Mauro Boselli, desenhos de José Ortiz e capas de Claudio Villa. Com o título original La miniera del fantasma, a história foi publicada em Itália nos nº 478 e 479 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 394 a 396.
 
Dois alemães, Kurt Weiser e Jacob Stolz conseguiram descobrir uma rica mina de ouro perdida algures nos montes da superstição, a lendária montanha sagrada dos Apaches. Anos mais tarde, quando se encontram a negociar cavalos em Phoenix no Arizona, Tex e Carson cruzam-se com Weiser, agora um velho homem que vive com Maria, uma apache, e Andres o filho desta. Weiser regressou sozinho dos montes e, apesar de rico, vive atormentado com o seu próprio passado. É corrente entre os habitantes da cidade que Weiser terá afastado o seu ex-sócio Stolz, sendo mesmo o único a regressar de quando em vez aos montes sem que nada lhe aconteça, ao contrário de todas as expedições levadas a cabo. Por isso, o rancheiro Jeff Sutton, que cobiça o ouro, vai engendrar um plano para poder chegar até à lendária mina, mas Tex e Carson acabam por se ver envolvidos nesta disputa de homens dispostos a tudo pela obtenção do ouro.
 
A Mina do FantasmaDepois de Charlier e Giraud com o excelente díptico dos montes da superstição escrito para Blueberry, Boselli revive a lendária aventura de uma mina de ouro perdida algures nos lendários montes sagrados dos apaches. Algo que a saga texiana já tinha focado em anteriores aventuras, se nos lembrarmos, por exemplo, de Nizzi e Ticci em “O Pueblo Perdido” ou mesmo Nizzi e Alessandrini no recente “O Desfiladeiro da Cobiça”. Baseado numa história verídica, Boselli revive esta lenda do velho oeste caracterizada por maldições, fantasmas, crenças, superstições, mas acima de tudo, caracterizadora da corrida ávida pelo ouro ou da cobiça de homens dispostos a tudo pela sua obtenção. Toda a envolvência da aventura parece colher algumas influências com a de Blueberry, mas se aquela foca a avidez de um homem que vai iludindo tudo e todos para poder chegar ao ouro, Boselli avança com o tempo da acção e da aventura, decorrendo esta já quando Weiser é um homem rico depois de ter descoberto a mina, contrapondo-o com o seu passado algo nebuloso e atormentado.

Tex 395 - Montanhas MalditasO verdadeiro motor da aventura é a avidez humana que acaba por reflectir-se na construção das principais personagens: Weiser, que Boselli caracteriza sobretudo como um homem áspero, mas denotando uma certa sensibilidade, Sutton e o médico Manning. Sutton é uma figura clássica do velho oeste e das aventuras texianas, um rancheiro que apenas almeja o lucro e a riqueza. Já Manning é um médico que actua na sombra, porquanto por detrás de um homem sensível e simpático esconde-se uma outra personalidade, revelada quando, aliado a Sutton, também entra nos planos deste para chegar ao ouro. E é esta disputa pelo ouro que funcionará como uma certa redenção para Weiser, porque vai permitir-lhe fazer justiça e saldar as contas com o seu passado, residindo aqui outra diferença das demais aventuras que focaram este tema: Weiser descobriu a mina, mas vai ser sempre alguém sensível a seu modo e que nunca usou a sua riqueza para mudar radicalmente a sua vida.

TexBoselli deixa para Tex e Carson um papel bastante activo, sobretudo quando os dados estão lançados e Sutton parte em direcção aos montes da superstição. Os rangers actuam na sombra, estrategicamente de modo a conseguirem enganar e lograr os planos de Sutton. A aventura afasta-se assim levemente dos cânones bosellianos neste papel mais activo do ranger e sobretudo porque o autor constrói um argumento que não depende tanto da espessura das personagens. Esta é mesmo uma aventura onde Boselli investe menos nas personagens e mais nas situações, privilegiando a acção.

Carson e TexApesar de um trabalho de qualidade, a verdade é que Ortiz  já nos habituou a melhor. O seu traço porco e carregado de escuros adapta-se eficazmente à aventura, com realce para as inúmeras cenas nocturnas que têm os montes da superstição como cenário. Eficaz também e como habitualmente no autor, a sua composição de personagens, mas as nossas reticências advêm do facto de que algumas passagens parecem-nos falhadas na composição texiana (por exemplo, a cena do celeiro) e de um certo cansaço no traço, denotando aqui e ali alguma falta de rigor.

Texto de Mário João Marques

4 Comentários

  1. Pelos comentários que faz sobre suas histórias, fica claro que gostas muito do Boselli, Mário. Já leu alguma história dele para Zagor?

  2. Yudae,
    Falando francamente, acho que todos os autores que escreveram para Tex têm a seu crédito histórias boas e histórias menos boas. Tenho para mim que cada qual trouxe algo de novo para a saga texiana.
    G.L. Bonelli idealizou e criou o Tex que nos habituámos a apreciar, fazendo dele o célebre herói que perdura decorridas quase seis décadas. O seu filho, Sergio Bonelli, perdão Guido Nolitta adaptou as mesmas características, mas trouxe um Tex que duvida e que reflecte mais. Nizzi é para mim e também para muitos o verdadeiro seguidor de G.L. Bonelli, no sentido em que o seu Tex é o que melhor colhe as características do seu criador. Mas Nizzi soube adaptar Tex aos novos tempos, o que para alguns conservadores tratou-se de desvirtuar a personagem. Boselli realça mais o aspecto psicológico, com aventuras e personagens onde nem tudo é preto de um lado e branco do outro.
    Talvez nesta superior construção de personagens esteja uma qualidade que me leve a apreciar Boselli, sem com isso esquecer os outros.
    E por falar nos outros, não me esqueço de Medda, Ruju, etc, mas a verdade é que os que falei são mesmo os mais representativos.
    Para terminar Yudae, nunca li Zagor e de Boselli, para além de Tex, atrevi-me a ler um ou outro Dampyr.
    Mas Tex é Tex!
    Um abraço

  3. Ora, bem que poderia experimentar ler algum Zagor dele. Eu recomendo logo aquela que o próprio Boselli considera seu melhor trabalho zagoriano, “O Explorador Desaparecido”, publicado nos Zagor Extra 11, 12, 13 e 14 da Mythos.

    De fato, Tex é Tex!

  4. Revisitando o blog, devo dizer que foi uma alegria encontrá-lo. Só pessoas sensíveis seriam capazes de criá-lo e de mantê-lo, não só para satisfação pessoal, mas, para satisfação de tantos que apreciam o gênero. A leitura me remete à infância quando, escondido lia com voracidade o gênero. Agradou-me a leitura. Farei novas visitas, para meu encantamento.

Responder a Geraldo Reis Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *