Tex, os diferenciais e Dorival

Por Ezequiel Guimarães (texto) e José Carlos Francisco (fotos)

O editor mais ´texiano´ que Tex já teve no Brasil e em Portugal, Dorival Vitor Lopes, oficializa diferenciais nas séries Tex Edição Histórica e Tex Edição de Férias

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A grande maioria das personagens de banda desenhada tem o seu começo em edições dita “normais”, ou seja, somente com as histórias, sem nada de adicional. Ou, em muitos casos, nem são lançadas em título próprio, são lançadas em revistas de outras personagens ou em almanaques, até, se fizerem sucesso, um dia serem lançadas em título próprio. Essas situações ocorrem com a grande maioria das personagens de BDs pelo mundo afora (e também há a situação da personagem fazer parte de uma publicação, onde o título não é o nome de nenhuma personagem, como é o caso do próprio Tex nas revistas francesas Rodeo e Mustang).

Aqueles que, afortunadamente conseguem sucesso, depois de um tempo passam a ter outras séries, mas de reedições, já que os editores não perderão a oportunidade de explorar um novo filão, que é o de apresentar a sua personagem rentável às novas gerações que chegam ao mercado da “leitura”, após aquela geração que conheceu a personagem em seus primeiros anos. E essa acção acaba atingindo também outro grupo, o de coleccionadores fanáticos, ávidos; que compram tudo o que sai da personagem.

Em alguns casos, essas reedições são apenas isso: reedições; sem nada de diferente. Em outros casos, elas têm algo adicional, “diferente”, os chamados “diferenciais”. Como o próprio nome diz, algo que é diferente da série anteriormente lançada. Lógico que a história republicada é a mesma da série anterior, mas a lista de diferenciais que pode ocorrer na nova série é grande: capas inéditas, formato novo, quantidade de páginas diferentes (por exemplo, dois ou mais volumes da série anteriormente lançada, mas agora num só volume na nova série), histórias coloridas (quando a série anterior era em preto e branco), capas coloridas por computador, brindes (pósteres, por exemplo),etc., etc. E não há limite, pois dependerá da criatividade do editor e/ou das ideias do seu círculo de assessores e colaboradores.

Além de permitir que, quem não teve a oportunidade de ter a colecção anterior possa fazer uma nova colecção e com um “plus”, faz com que muitos que tinham a colecção anterior completa (ou ainda incompleta), desfaçam-se dela, para adquirirem a nova série mais “incrementada”.

Em outros casos, esses “diferenciais” alimentam ainda mais o mercado de coleccionadores, pois muitos não se desfazem da colecção anterior, ao contrário, agregam a nova série às suas estantes residenciais, fazendo com que fiquem abarrotadas.

Exemplos do citado acima temos vários, mas atendo-nos apenas ao campo da banda desenhada, e mais precisamente o texiano, cito o detalhamento de um exemplo prático: Tex Edição Histórica. Muitos o coleccionam por ser volumoso (o popular “tijolão”), e não fininho como o é Tex Coleção (já que, normalmente reúne alguns números de Tex Coleção em cada volume lançado). Outros coleccionam Tex Edição Histórica por trazer capas inéditas, nunca antes publicadas em outras séries. Outros coleccionam pelos dois motivos. Outros pararam com Tex Coleção para ficar só com o Histórica, já que essa é republicação do Tex Coleção; outros não pararam nada, coleccionam é tudo!

Outros tantos vão ainda mais longe no quesito “diferenciais”: até começam a coleccionar de outros países, exactamente por causa de diferenciais que o outro país tem e o seu não.

Temos texianos que exemplificam bem o citado acima: por exemplo, compram o Tex italiano Nuova Ristampa por trazer pósteres em todas as suas edições (exactamente as imagens inéditas das capas brasileiras de Tex Edição Histórica). Muitos (no Brasil mesmo) coleccionam Tex italiano Collezione Storica a Colori,  pois é a reedição das histórias texianas, mas agora em versão ´technicolor´, ou seja, colorida, e por não ter continuado a série similar em língua portuguesa (no Brasil chegou a sair como Tex Edição em Cores, mas não teve vida longa, infelizmente: foram só 12 edições).

Enfim, os exemplos são vários. Os diferenciais realmente fazem a diferença (os diferenciais causam tanto impacto que, não só os texianos brasileiros buscam edições com diferenciais em outros países, mas muitos texianos de outros países buscam até edições no Brasil que tenham algum diferencial, mesmo que sejam em poucas edições. Como, por exemplo, nos conta o renomado articulista e tradutor, Júlio Schneider, no seu belo texto ´Capas Inéditas: Procuram-se!´  que foi publicado no magnífico livreto ´Uma saga em 500 capas´ que acompanhou a histórica 500a. edição da série regular de Tex no Brasil – Mythos Editora, Junho 2011. No texto Júlio conta das capas brasileiras da série regular, nunca usadas em edições italianas e que despertaram o interesse de coleccionadores italianos –  as capas das edições 300, 351, 352, 377, 383, 390, e 397).

E falando no belo texto do Júlio, esse é outro diferencial muito interessante: os textos. Os textos que acompanham a história podem ser analíticos e/ou informativos, trazendo-nos diversas informações. As mais variadas possíveis: pode ser sobre a carreira do argumentista/roteirista, sobre a carreira do desenhador, sobre como foi concebida a história, graficamente falando; sobre o fundo histórico real onde a aventura é baseada, sobre a concepção da capa, sobre a editora, sobre alguma curiosidade, enfim, muita informação que permite aprofundar-se na técnica de trabalho ou na vida dos autores,  e/ou  também no mundo da personagem (há casos até de textos sobre eventos onde a personagem esteve sendo divulgada). Normalmente esse tipo de diferencial é explorado em edições especiais ou livros especiais ou comemorativos.

E muitos apreciam esse diferencial. Esse sentimento foi sintetizado no ´O correio de Poe´ de Mágico Vento 53 (´O correio de Poe´ é uma “secção de cartas comentada” criativamente comandada pelo prolífico e multi-funcional Júlio Schneider com a inserção também de muitas curiosidades e informações). No referido exemplar, o leitor Wallace da Cruz, da cidade de Valença, no estado do Rio de Janeiro, coleccionador de Mágico Vento e Tex, comentou: “Achei para lá de boa a matéria de MV 41, com fotos do Dorival, do Júlio e do criador da obra Manfredi. É isso que nós, coleccionadores e leitores, queremos ver nas nossas revistas sagradas em que investimos o nosso dinheiro: matérias desse universo maravilhoso da Bonelli Comics”. E muitos pelo vasto Brasil (e até em Portugal) pensam como ele.

Há alguns casos que esse tipo de diferencial (textos) já nasce junto com novas séries, mas normalmente respeitando a regra de ocorrer quando a personagem já é um sucesso. É o caso dos textos analíticos e/ou informativos que estão presentes nas séries Tex Gigante e estiveram na saudosa série Os Grandes Clássicos de Tex. Essa última é especial para os brasileiros, pois ao que sabemos é uma série sem paralelo no mundo, e nasceu das acaloradas conversas texianas travadas entre o editor Dorival e o tradutor Júlio Schneider na aconchegante e fantástica biblioteca do tradutor/articulista em Curitiba, no Estado do Paraná, Brasil.

Obviamente nada no mundo tem unanimidade, então muitos não se interessam por textos adicionais (nem chegam a lê-los) ou outros diferenciais, só querem saber da história em si. Mas para muitos outros, os diferenciais importam sim, e muito. E muito mais quando é o caso de textos. Prova disso é o sucesso da inclusão definitiva de textos em todas as edições da série Ouro (que ocorreu a partir do número 53, conforme foi anunciado AQUI no blogue).

O sucesso e importância desse diferencial (textos) são visíveis, pois chegou até em séries onde ele não é padrão para todas as edições, mas ocorre eventualmente. E faz sucesso! Quem não gostou, por exemplo, de ler a bela matéria “Pistoleiros reais na ´outra´ Las Vegas”, do competente Júlio Schneider (publicada numa série onde esse diferencial não é padrão, a série regular de Tex – nº 502)?

Com esse quadro, Dorival Vítor Lopes, o mais texiano dos editores que Tex já teve em solo brasileiro, confirma que daqui para frente, outras duas séries de Tex terão sempre textos analíticos e/ou informativos: as séries Tex Edição Histórica e a série Tex Edição de Férias. Ambas não nasceram com esse diferencial, mas agora os têm em definitivo.

Poderão ser do maior articulista sobre fumetti em língua portuguesa (falo do renomado advogado e tradutor Júlio Schneider), ou algum outro articulista, inclusive italianos (como já ocorreu no passado).

Tex Edição Histórica já teve alguns textos em algumas edições, mas eram inserções esporádicas. Agora, a partir da edição nº 82, e que contém o belo texto “Na sombra do pai”, de Júlio Schneider, e que chegou às bancas brasileiras em Fevereiro deste ano, sempre virá com material analítico e/ou informativo (na edição nº 81, de Novembro de 2011, já haviam vindo dois belos textos de Sergio Bonelli e Júlio Schneider, mas na época, ainda não havia sido tomada a decisão de se colocar textos em todas as edições).

Tex Edição de Férias experimentalmente inseriu na edição nº 5, o belo texto ´Páginas de Fabio Civitelli´, de Júlio Schneider, e nas edições seguintes também teve esse tipo de material, mas não era regra que sempre teria. Agora o editor Dorival oficializa que sempre terá, e já a partir da próxima edição nº 11, de Junho de 2012: “O melhor Tex de Muzzi“,  por Júlio Schneider.

Todos os fãs de quadradinhos e de Tex que se interessam por algo a mais sobre o universo do herói (além de suas histórias), agradecem muito essa decisão do editor.

Muito obrigado Dorival ! E longa vida às séries texianas com “diferenciais” (e não podemos nos esquecer que a paixão pelo Ranger, por parte do editor, é que fez com que Tex continuasse nas bancas brasileiras quando a Editora Globo tirou-o da grade de publicações por considerar que não estava à altura da rentabilidade desejada… Dorival correu atrás, e não deixou Tex partir das terras tupiniquins…)!

Post-scriptum: Com a bimensalidade (quinzenalização) da série Tex Coleção em Janeiro deste ano, muitos esperavam também a diminuição da periodicidade da série Tex Edição Histórica, já que essa republica Tex Coleção, mas, o editor Dorival informa que, nos próximos dois anos, pelo menos, Tex Edição Histórica continua com periodicidade semestral.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

11 Comentários

  1. Legal saber disso. O Júlio manda bem e agora em mais 2 séries, melhor ainda. Vou começar a comprar. Não sabia que tinha os textos no Férias, vou começar a comprar, gosto dos textos do Júlio. Esse material a mais é bem legal.

  2. Caramba y carambita! Júlio em todos os Tex Edição Histórica? Vou correndo comprar. Muito boa notícia no meu domingo de manhã.

  3. Muito boa notícia, e achei a matéria muito bem feita, gosto quando os gibis têm partes com detalhes e explicaçoes e curiosidades. O Edição Histórica eu comprava esporadicamente de histórias que eu não tinha. Mas se agora vai ter o Júlio Schneider em todas as edições vou começar a comprar todas daqui para frente. Decisão acertada da Mythos de fazer isso. E esse blog deve ser o oficial da editora pois eu não tinha visto isso em nenhum lugar.

  4. Sem dúvida nenhuma uma excelente notícia, pois os textos do Júlio são perfeitos. Eu sou daqueles colecionadores que compram tudo do mundo Bonelli e se as edições puderem ter sempre esses diferenciais, melhor ainda.

  5. Quem é que não aprecia os excelentes textos de Júlio Schneider? Acredito que haja alguns leitores, como diz o Ezequiel, que se limitam a ler as histórias, deixando de lado as matérias complementares, por só terem o hábito de ler quadrinhos, mas esses não sabem o que perdem.
    A exemplo de outros texianos, eu só adquiria a Edição Histórica muito esporadicamente, quando trazia artigos ou episódios que me interessavam, pois compro com regularidade o Tex Coleção. Agora, com matérias em todos os números, é obrigatório procurá-la sempre nas bancas.
    Creio que a decisão da Mythos comprova que há muitos leitores que se interessam pelos textos e que isso incrementa a venda das revistas. Assim sendo, numa oportuna estratégia editorial, resolveu aproveitar ainda mais assiduamente o precioso filão que representam os trabalhos desse talentoso articulista que é Júlio Schneider. E todos nós, leitores, só lhe podemos ficar gratos!

  6. Também concordo que é uma excelente notícia. Também gosto dos textos do Schneider, e gostos de gibis com mais informações além das histórias. Só comprava esporadicamente essas séries, de histórias que eu não tinha, ou não tinha o fim ou começo delas na série normal, agora tendo o material a mais em todas as edições vou começar a comprar. Ainda bem que aqui divulgam pois no site da Mythos não diz nada. A Mythos é muito falha em divulgação. Depois a editora reclama que não vende e tem que encerrar algumas séries, lógico ela não divulga bem o que vende, não dá para o leitor adivinhar.

  7. A Mythos tem e teve tudo nas mãos para lançar uma coleção decente do Tex, no entanto,optou intencionalmente em babelizar o personagem com edições nada interessantes e coleções repetecos que irritaram os grandes colecionadores, não vejo nada de positivo, as capas repetidas ou genéricas, coleções infundadas, que nada acrescentaram à vida editorial do Tex.
    Espero que meus filhos possam ter um dia uma coleção correta do Tex, como têm os italianos.
    Como pessoa o Dorival é excelente, mas, como editor me fez perder o prazer de colecionador e até de leitor.
    Outrora, o Tex não teve tratamento à altura mas, vale lembrar que as editoras da época não tinham os recursos atuais.
    Somado tudo isso a morte de Sergio Bonelli, são um golpe forte na cabeça dos grandes colecionadores, entretanto Tex é fundamental para leitores do Brasil, país em que prevalece a injustiça, e o mau exemplo das autoridades.

  8. Acho que a Mythos faz um bom trabalho e não precisa tudo ser igual a Itália. A história sendo igual já esta de bom tamanho, não precisa até as series serem iguais. O problema da Mythos é que não investe em divulgação. Espera leitores novos caírem do céu. Nesse ponto sim Dorival faz um péssimo trabalho. Os fãs fazem muito mais para divulgar do que a própria editora que é quem lucra com Tex. Ela precisa melhorar urgente nisso.
    Outro ponto que a Mythos falha feio é produzir nesse formatinho ridículo. Já deveria estar em formato italiano há tempos.

  9. Concordo a Mythos parece não querer investir. Não vejo nem mais cartazes em bancas de jornais, antes tinha, eu cheguei a ver vários, mas agora faz tempo que não vejo. A Mythos não faz mais?

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