“Tex, o pistoleiro” – o filme de Tex Willer em Portugal (com fotografias da cassete VHS da Mundial Video – 1989)

* A ideia de levar Tex ao cinema ou à televisão vinha periodicamente à tona desde os anos 60 do século passado.

* TEX WILLER: O PISTOLEIRO, foi o título adoptado em Portugal, do filme do Ranger, “Tex e il Signore degli Abissi”, dirigido por Duccio Tessari e produzido conjuntamente pela RaiTre e pela produtora Cinecittà em 1985.

* Nos CINEMAS PORTUGUESES teve a sua estreia nos cinemas Éden e Fonte Nova 2 em 14 de Outubro de 1988.

* Em VHS FOI LANÇADO EM PORTUGAL pela Mundial Video no decorrer do ano de 1989, no idioma inglês e com legendas em português.

Por José Carlos Francisco (texto) e Nuno Colection (fotos)

Capa da caixa VHS do filme Tex, o Pistoleiro,

Modelado sob o físico e o rosto de Gary Cooper, um dos mais populares actores de cinema no género western, Tex é desde o seu início uma personagem cinematográfica, não só pelo seu ritmo alucinante, mas também pelas súbitas mudanças de cena, de surpresas e de sequências emocionantes imprimidas pelas histórias escritas por Gian Luigi Bonelli, assim como pelos desenhos de Aurelio Galleppini.

Cartaz do filme “Tex, o Pistoleiro”, em exibição nos cinemas Éden e Fonte Nova 2

O cinema, porém, só descobriu Tex com grande atraso, ainda que, no decurso dos anos setenta do século passado, estivesse quase a ser produzido um filme dirigido por Enzo G. Castellari, com Charlton Heston no papel do célebre Ranger, mas como por vezes acontece, a ideia não passou disso mesmo e Tex somente chegou aos grandes ecrãs em 1985 no filme “Tex e il signore degli abissi(em Portugal: “Tex, o Pistoleiro”, com estreia nos cinemas Éden e Fonte Nova 2 a 14 de Outubro de 1988), dirigido por Duccio Tessari e produzido conjuntamente pela RaiTre e pela produtora Cinecittà.

Num primeiro momento, para o papel de protagonista, já oferecido a Giuliano Gemma (02-09-1938 – 01-10-2013), que tinha renunciado devido a outros compromissos, fora contactado o filho de John Wayne, Patrick, mas afinal Gemma, já intérprete de muitos “western-spaghetti”, mostrou-se disponível e a escolha recaiu de novo sobre ele, e deste modo deu vida a um dos últimos westerns da sua carreira. A acompanhá-lo no elenco do filme estavam o austríaco William Berger (um Kit Carson muito bem afinado) e o italiano Carlo Mucari (um competente Jack Tigre, apesar do actor ser praticamente desconhecido na época). Complementando o elenco principal, a fascinante italiana Isabel Russinova interpretava a princesa Tulac, outro italiano, Flavio Bucci, representava o sacerdote Kanas, o espanhol Aldo Sambrell, o “vilão” de tantos outros westerns, desempenhava o papel do bandido El Dorado, o alemão Peter Berling fazia de El Morisco, e Gian Luigi Bonelli com uma participação especial no início (e no final) do filme, onde encarnava um velho feiticeiro indígena, apresentava o herói do seguinte modo:

Capa VHS do filme “Tex, o Pistoleiro”

Dizem que vinha do norte, como o vento gelado que varre a pradaria durante o grande Inverno. Das longínquas montanhas prateadas até à nascente do rio azul das longas canoas, o nome de Tex Willer era proferido com respeito. A morte caminhava ao seu lado, pronta para atingir qualquer um que violasse a lei do homem branco. O seu espírito corria livre, sem fronteiras, e mesmo os índios aprenderam a respeitá-lo e deram-lhe o nome de Águia da Noite. Então, chegou o dia em que ele uniu o seu sangue ao dos Navajos e, após alguns meses, firmou na testa o símbolo da liderança: o sagrado wampum. A história logo se confundiria com a lenda, num tempo perdido entre a magia e a realidade. Deixem-me, então, contar a sua história e os dias de aventuras que o imortalizaram.”.

Depois de cerca de dez anos de inactividade, Tessari, devido a Tex, retornou então ao western verdadeiro e próprio, tentando recriar a afortunada sociedade com Giuliano Gemma, que tão bons frutos rendera no passado, mas o seu “Tex e os Senhores do Abismo” (título brasileiro) é mais parecido com as fantásticas aventuras de “Indiana Jones” do que com as de “Ringo”, que o tinham tornado célebre, e por essa razão o filme acabou por desagradar um pouco a quantos esperavam por um retorno em grande estilo de Tessari às clássicas pradarias do Oeste.

“Tex, o Pistoleiro” – Resumo do argumento

Indagando sobre um bando que fornece ilegalmente armas aos índios, Tex Willer e os seus pards Kit Carson e Jack Tigre (o seu filho Kit Willer, um pouco inexplicavelmente não participa no filme) encontram-se às voltas com alguns misteriosos homicídios em que as vítimas ficam inexplicavelmente mumificadas em poucos segundos, quando atingidas por uma substância desconhecida.

Graças à ajuda de El Morisco, especialista em artes ocultas, Tex viaja rumo à Sierra Encantada, onde descobre que um utópico Senhor dos Abismos, um homem misterioso que vive numa enorme caverna com vários poços vulcânicos, de onde extrai as pedras esverdeadas letais, abastece de pó mumificante uma tribo índia liderada pelo maligno sacerdote Kanas, com o auxílio da bela princesa Tulac: os fanáticos Yaquis descendentes dos Aztecas, com o objectivo de organizar a reconquista do povo índio e edificar um novo Reino dos Filhos do Sol. Para obter armas de fogo, Kanas aliou-se ao ávido El Dorado, líder de bandoleiros envolvidos no caso que Tex investigara inicialmente. Sem recorrer à ajuda dos Rurales, os pards farão de tudo para impedir os propósitos dos fanáticos e seus aliados e, desse modo, evitar uma guerra sangrenta em terras mexicanas. Obviamente, Tex e companheiros sairão vitoriosos da aventura.

Fita VHS do filme “Tex, o Pistoleiro”

O filme inspira-se muito fielmente num episódio da saga de Tex (“O Bruxo Mouro” – Tex 40 a 42, Editora Vecchi, escrito por Gian Luigi Bonelli e desenhado por Guglielmo Lettèri no final dos anos sessenta, se bem que o início do filme seja baseado na aventura “Mesa dos Esqueletos” – Tex 124, Editora Vecchi, escrita por Gian Luigi Bonelli e desenhada por A. Giolitti e G. Ticci) e é um curioso híbrido entre o western e o fantástico, pois a estrutura da história é a mesma da história aos quadradinhos, na qual comparece o popular El Morisco, também conhecido como Bruxo Mouro, curandeiro, cientista e dedicado à “magia branca”, mas desenvolve-se por caminhos diversos, sobretudo na segunda parte.

Os pards com El Morisco

Algumas cenas goticamente sugestivas (todas as sequências ambientadas na gruta do Senhor dos Abismos, com efeitos de luzes e de cores, recordam alguns clássicos do cinema de terror) alternam com sequências que remetem para o clássico western à italiana. Entre estas, o ataque à aldeia mexicana que servia de refúgio ao bando de El Dorado.

Giuliano Gemma no papel de Tex, o Pistoleiro

As cenas exteriores foram filmadas em Espanha, mais precisamente em Tecisa, uma localidade a poucos quilómetros de Almeria. Escolha essa motivada, por um lado, pela paisagem bastante similar às dos confins texano-mexicanos, algo que não existia na Itália, e por outro porque em Tecisa permanecia, na época, a tradição dos “western-spaghetti”, com a participação de cavalos e respectivos cavaleiros especializados em quedas.

O filme não obteve, todavia, o sucesso esperado e não obstante os bons enquadramentos e o ritmo frenético de algumas sequências que logram sintetizar muito bem as situações desenvolvidas por Gian Luigi Bonelli em diversas páginas, os diálogos não conseguem igualar minimamente o valor das histórias bonellianas.

A escolha de levar ao cinema esta aventura tão diversa de um típico western, não foi das mais felizes; pelo contrário, contribuiu decisivamente para desiludir o grande público, que certamente teria preferido que a história fosse menos distante do mundo da “fronteira”.

Kit Carson, Tex e Tiger Jack em “Tex, o Pistoleiro”

Não era, em suma, o Tex clássico, mas sim a outra face de uma personagem de mil aventuras, que, entre tiroteios, perseguições e cavalos lançados a galope, recordava mais uma história de mistério pouco condizente com a sugestiva realidade do Oeste. Os únicos conhecedores do filme são praticamente os fãs do Ranger.

Os três pards

Um projecto, portanto, decisivamente falhado e que desiludiu uma vez mais o apaixonado da banda desenhada, várias vezes frustrado por não encontrar no grande ecrã as sugestões que brotam das vinhetas. Nota final para a boa trilha sonora, da autoria de Gianni Ferrio, de acordo com o estilo da aventura e encaixando-se bem no filme.

“Tex, o Pistoleiro”

Para finalizar e a título de curiosidade, eis os título adoptados nos países onde o filme foi lançado:
Tex e il signore degli abissi – Itália
Tex, o pistoleiro – Portugal
 Tex et le Seigneur Des Abysses – França
Tex und das Geheimnis der Todesgrotten – Alemanha
Tex y el senor de los abismos – Espanha
Tex and the Lord of the Deep – Inglaterra
El hombre marcado – Argentina
Tex e os Senhores do Abismo – Brasil
Tex & Dybets Herre – Dinamarca

Capa VHS do filme “Tex et le Seigneur Des Abysses”

Cartaz italiano do filme “Tex e il signore degli abissi”

Capa VHS do filme “Tex und das Geheimnis der Todesgrotten”

Cartaz dinamarquês do filme “Tex & Dybets Herre”

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Eu também aluguei várias vezes a cassete VHS que estava disponível em um dos clubes de vídeo de Portalegre. Assim que vi o filme fiquei fascinado. Anos mais tarde até consegui fazer uma cópia do filme para mim. Ainda hoje é um dos meus filmes favoritos.
    Acho que é um western que só agradará a quem é fã dos fumetti. Aqueles que desconhecem os livros, acho que não irão gostar do filme.
    Há que salientar que a versão VHS em inglês é alguns minutos mais curta do que a versão original italiana. E alguns diálogos em inglês também não correspondem ao original italiano.

  2. Para quem quiser ler a história original em formato gigante, a cores e em italiano, aconselho “Le Grandi Storie di Tex” (n.º 11, El Morisco), ou então a mais recente publicação “Tex 70 anni di un mito” (Il totem di Ossidiana; Lo stregone di Pilares; La valle dei giganti).

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