Tex Gigante: Os Predadores do Deserto

Tex Gigante - Os Predadores do DesertoArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Bruno Brindisi. Com o título original I predoni del deserto, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 16 em 2002 e no Brasil pela Mythos Editora em 2003.

Nizzi é um digno sucessor de Bonelli, mas se o Mestre bebeu algumas das suas influências no que se fazia na própria época do nascimento de TEX (séries e folhetins do velho oeste), Nizzi procura apresentar argumentos mais sólidos e construídos à maneira clássica da BD europeia, nomeadamente franco-belga, onde os fumetti tentam implantar-se.
Sem deixar de hipotecar as grandes características que o saudoso Bonelli legou em Tex, deixa, no entanto, bem patente nos seus argumentos toda uma estrutura que nos habituámos a ver, por exemplo, no francês J.M. Charlier em Blueberry.

Tex de Bruno BrindisiTrata-se mesmo de um verdadeiro artesão de histórias, estando à vontade a escrevê-las, apresentando, ora argumentos puros de velho oeste, como também refreia e contem-se em tramas de ritmo mais lento.
Trata-se do caso deste Predadores do Deserto, onde Nizzi nos descreve um argumento que só atinge grande intensidade quando Tex, Carson e Tigre  invadem o covil do Pregador, já em final de aventura. Até lá, tudo se limita a um conjunto de diálogos que contribuem em maior ou menor grau para o desenlace, mas Nizzi nunca nos contrapõe a densidade psicológica de Tex ou de qualquer outra personagem. Aliás, todas estas chegam e vão com o desenrolar do argumento, apenas servem de ponte para melhor percepção, desde o Comandante do Forte, passando pelo Shériff até terminar na figura pouco simpática de Brady. Mesmo a relação antagónica mantida entre Kirby e Monkey nunca é explorada ao extremo. E que dizer da figura do próprio Pregador que só nos é dada a conhecer apenas ao fim de muitas páginas  e cujas origens e razões dos seus constantes pesadelos apenas nos são explicados nas últimas páginas?

Tex Willer por Bruno BrindisiO argumento nunca atinge um verdadeiro climax, nunca nos apresenta um golpe de asa, capaz de surpreender o leitor. Nizzi como que acaba por concordar com esta nossa ideia e apresenta-nos uma relação entre Liza e o Pregador algo forçada, com muitas coincidências, esperando, com isso, poder criar no leitor uma sensação de revelação e surpresa.

Pelo contrário, o desenho de Brindisi é servido por um traço muito elegante e detalhado, presenteando o leitor com um sem número de planos inferiores. A figura de Tex é correcta, a personagem surge-nos vigorosa, mas, por vezes, falta-lhe o charme e a densidade que outros autores lhe deram.

Sem deixar de ser um agradável momento de leitura, quanto mais não seja pelos excelentes diálogos mantidos entre Carson e Tex, acabamos, no final, por ficar com uma leve sensação de que o argumento, com outro desenvolvimento e ritmo, poderia ter ido mais além.

Texto de Mário João Marques

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