Tex Gigante: Os Assassinos

Tex Gigante - Os AssassinosArgumento de Mauro Boselli, desenhos e capa de Alfonso Font. Com o título original Gli assassini, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 12 em 1998 e no Brasil pela Mythos Editora em 2001.

Era grande a minha curiosidade na leitura deste Tex Gigante, uma vez que, se por um lado os meus conhecimentos sobre Alfonso Font eram relativos e distantes no tempo, por outro lado, Boselli, sobre o qual tenho ouvido falar bem, apresentava-se-me aqui pela primeira vez.

Após a leitura deste Os Assassinos, acabei por me situar numa espécie de meio termo, acabei por experimentar uma certa sensação de frustração, uma vez que a aventura promete muito no seu início, mas acaba por terminar num registo por demais visto. Naturalmente que, na esteira de outras aventuras do ranger, assistimos a trepidantes cenas de acção, a diálogos deliciosos entre Tex e Carson, mas Boselli como que nos tira o rebuçado da boca, quando o estávamos a saborear tão bem.

Os Assassinos - Prancha 1Os Assassinos é uma história de vingança, mas sobretudo de justiça. O enredo assume-se em dois pólos, com Tex e Carson, por um lado,  em busca de justiça, e por outro lado, a personagem de Mitch, que procura acima de tudo vingança, ambos em perseguição de um grupo de assassinos mercenários. Nesta ideia de Boselli ir encontrar um grupo de reguladores que matam por encomenda, reside muito da qualidade e força da trama, uma vez que esta credibilidade e esta realidade histórica vem emprestar a tal aura de western profundo que sempre temos visto nas aventuras de Tex.

No entanto, o argumento não é constante, sofrendo um corte a partir do momento em que a acção (ou se quisermos o teatro das operações) se desloca para S. Francisco. Os Assassinos podem, assim, dividir-se no antes e no após a entrada dos protagonistas na grande metrópole americana. Até aí tudo é bem ritmado, constante e coerente, o desenvolvimento do argumento não sofre cortes e tudo o que Boselli transmite ao leitor é, por assim dizer, apaixonante e capaz de prender a atenção.

Os Assassinos - Prancha 2Já em S. Francisco, o autor opta por entrar por caminhos menos credíveis, entregando a acção e os seus protagonistas a um conjunto de clichés que não se encontram ao mesmo nível da primeira parte do argumento. Revelador desta nossa ideia está o facto de Boselli acabar por cair em algumas contradições, naturalmente reveladoras de uma certa confusão, ao pretender juntar muitas personagens e ao querer preparar o pano para as cenas finais. Vejamos:
Primeira questão:quando é preparada a armadilha a Mitch, como é que Lisa descobriu previamente a identidade deste? Se a descobriu apenas quando abriu o medalhão, então como se explica a armadilha anteriormente preparada?…

Segunda questão: os dois marinheiros que vão buscar Mitch, após receberem o sinal de Lisa, não chegam a ver o rosto desta, uma vez que se encontra de costas para a porta. Então, como explicar que um dos marinheiros (por sinal, o mesmo que tinha preparado a armadilha com Lisa) diga para o outro que gostaria de ter visto o rosto da viúva? Se tudo fôra preparado em conjunto, este marinheiro já tinha tido oportunidade para isso, no cais, tendo até esbofeteado Lisa.

Os Assassinos - Prancha 3Finalmente, uma terceira questão: numa das cenas, após ter sobrevivido a um tiroteio, Tex, Carson e Lofty correm para o porto para assim poderem chegar a Mitch o quanto antes. No entanto, como se explica que, posteriormente, os vamos encontrar os três calmamamente diante de um balcão de um bar?

Relativamente ao espanhol Alfonso Font, desenhar esta aventura de Tex foi um retorno às suas origens, porquanto a sua carreira começou com a ilustração de contos de western. Font tem sido rotulado como senhor de um estilo latino, mas, sem deixar de concordar com esta sua característica, a verdade é que o identificamos mais com um traço tipicamente espanhol, uma vez que são notórias as semelhanças  com alguns outros grandes nomes como Bernet e sobretudo Carlos Gimenez.

Não é um desenhador de grandes detalhes, preferindo sim o essencial, que a caracterização das personagens e grandes planos nos oferecem. O seu Tex não engana, vem do modelo ticciano, mas sem a imponência e a determinação que Ticci confere à personagem. Há medida que caminhamos para o final da aventura, mais a figura do ranger se assemelha ao modelo de Ticci, o que acaba por revelar ao leitor um certo amadurecimento na composição da personagem, que o ritmo das páginas naturalmente proporcionou.

Enfim, em jeito de conclusão, acabando por ser sempre um prazer delicioso a leitura de cada página das aventuras do ranger, a verdade é que esperamos por mais e outras oportunidades para podermos ter uma ideia mais concreta sobre a real valia dos argumentos de Boselli. Engenho não lhe falta, o que faltou foi uma certa arte em prender o leitor insistentemente.

Texto de Mário João Marques

3 Comentários

  1. Mário João Marques aponta dois erros na resenha de “Os Assassinos”, o Tex Gigante desenhado por Font. Primeiro: como é que a Viúva prepara a armadilha a Mitch, se só descobriu a sua identidade depois? É evidente que a Viúva recebeu a missão de matá-lo porque é uma assassina; não é ela que decide quem sejam as vítimas: o chefe é Boydon. Quanto ao segundo erro apontado, os dois marinheiros que colaboram com Lisa não sabem que ela é a Viúva, por isso acham que não a viram antes.

    Ciao,
    Mauro Boselli

  2. Acho que consigo esclarecer as questões 1 e 3:

    1) Creio que, até a hora em que abre o pendente de Mitch, Lisa sabia apenas que ele era o assassino desconhecido que vinha causando problemas para os Reguladores.

    Com os Reguladores em alerta pelas recentes baixas na gangue, alguém deve ter suspeitado de Mitch quando começou a frequentar a casa de ópio ou quando seguiu Dude. Ou talvez já tivessem a descrição do rapaz ou o nome de seu cavalo (“Lenny”), obtidos de alguma testemunha do Colorado ou mesmo da polícia de Frisco. Assim, armou-se a encenação com a casa de Dude e a briga de namorados no porto.

    Reparem que, na taverna, já após a intervenção de Mitch na falsa briga, a viúva retira o chapéu do rapaz para checar se ele tinha cabelos longos, como se o comparasse com o que lhe descreveram. Depois de dopá-lo, no entanto, ela vê a foto do pai dele no pendente e descobre que Mitch é o filho que Ivan Gromek/Clive Anderson mencionara no dia de sua morte.

  3. 3) A taverna é o local de onde Ângelo enviou a mensagem a Lefty, dizendo ter encontrado Mitch. Lefty vai avisar Tex da descoberta, e avisa que Bingo já partiu para o porto para encontrar Ângelo.

    A partir daí é que se desfaz o nó: enquanto Tex e companhia escapam do atentado, vemos Bingo já em companhia de Ângelo, preocupado por este ter deixado de vigiar a pousada (para onde tinham ido Mitch e a viúva). Ângelo explica que teve que “voltar para avisar…”. Em seguida vemos Tex, Lefty e Carson na taverna, mencionando um bilhete de Ângelo.

    Ou seja, um SEGUNDO bilhete! Recapitulando as cronologias: Ângelo enviou a mensagem ao ginásio, saiu para seguir Mitch e viu-o entrando na pousada; voltou à taverna, encontrou Bingo,e deixou outro bilhete avisando Tex sobre a pousada; saem para voltar à tocaia e chegam a tempo de salvar o rapaz. Assim que Mitch se recupera do narcótico, os três escutam os tiros do segundo atentado a Tex, no porto, e partem para intervir.

    Tex, por seu lado, havia sido avisado por Lefty de que Mitch aparecera na taverna; enquanto ambos seguem para lá com Carson, sofrem o primeiro atentado. Chegam na taverna, encontram o segundo bilhete de Ângelo e saem na direção da pousada; é quando sofrem o segundo atentado.

    Quanto à questão 2… Só reparei depois que li este post, mas também não consegui entender.

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