Tex Gigante 25 – Na Trilha do Oregon

Por Sílvio Raimundo

Série – Tex Gigante
Título – Na Trilha do Oregon
Argumentista – Gianfranco Manfredi
Desenhador – Carlos Gomez
Tradução e Adaptação – Dorival Vitor Lopes
Letras – Caio Lopes

Sinopse: Bonham, Texas, Eddie Morton recebe um tiro no centro da sua recém-conquistada Estrela do Corpo dos Rangers, no exacto momento em que está para adentrar ao Saloon, a fim de comemorar. O seu assassino é Kevin Fletcher, um jovem e nervoso empresário do ramo de cavalos de corrida, e dono de um magnifico garanhão branco. O Capitão Bracken, do Comando dos Rangers de Austin, convoca então os seus melhores, Tex e Carson, para capturarem Kevin.

Considerações – Desenhos

Esta é a primeira vez do “hermano” Carlos Gomez no universo de Tex Willer e, posso dizer que o desenhador deu o seu melhor.
Dono de um estilo clássico, inerente à escola argentina, o seu desenho rebuscado e detalhista é de encher os olhos. Nas cenas de acção as personagens realmente movem-se e, em alguns momentos as hachuras substituem com maestria o traço, dando volume e tridimensialismo ao desenho. Esse esmero todo, segundo o próprio artista, dá-se pelo facto de ele ter visto neste “Texone” a chance de se fazer chegar a um público que ainda não conhece o seu trabalho e, sabendo ele do nível de exigência desse público, esforçou-se para que tudo saísse na perfeição. Da minha parte posso afirmar que ele passou no teste com louvor, este é um álbum para se ler e depois reler, apenas “olhando as figuras”.

O seu Tex é marcante e lembra um pouco aquele do Brindisi, que lembra o do Villa, que se inspirou no Ticci. Carson é sempre mais comum de caracterizar, mas, o artista conseguiu empregar-lhe sarcasmo, rabugice e galanteio na medida exacta. Os cavalos são desenhados à magnificência, a ambientação das paisagens é soberba, as cidades exalam poeira, os índios são belos e credíveis e suas mulheres, nossa, são lindas! O Carlos Gomez demonstra estar bem à vontade nesse ambiente, mas, não é para menos, pois ele mesmo diz ser de uma geração que cresceu vendo western na TV. Na diagramação das suas pranchas, apesar de quase sempre se manter fiel ao modelo Bonelli das três tiras, ele consegue criar algumas bem dinâmicas e condizentes com a situação mostrada.

Dica: Reparem no como o artista “desenha” a chuva e faz o efeito de poeira.

Considerações – Roteiro

Gianfranco Manfredi, pai de Mágico Vento, dispensa comentários, mas, em mais uma incursão sua pelo mundo Texiano brinda-nos com um roteiro óbvio, onde um jovem rico, que age de modo estranho, comete um crime por motivo torpe e foge em direcção ao Oregon. Tex e Carson ao perseguir-lhe dão ajuda a uma caravana de mulheres e, ao que tudo indica só ao final do álbum é que saberemos qual é a “doença” que faz dele um assassino e, claro, esse será o clímax do álbum.

Num primeiro momento, este Tex parece com a mini-série O Veneno do Cobra, escrito pelo Nizzi e desenhado (parcialmente) pelo Letteri. Falando assim parece que não gostei dessa mini-série, mas, não é isso, eu acho-a soberba, pois, apesar de desde o inicio sabermos quem é o Cobra, a forma como história se desenrola até nos mostrar o seu apogeu, é maravilhosa e, afinal, é a despedida de um Mestre. Mas, voltando ao Manfredi, será mesmo que ele já nos mostrou tudo desta história?

– Os Rangers não parecem gostar muito quando Tex e Carson são convocados pelo Capitão Bracken para assumir as investigações, depois de terem passado um mês correndo atrás de pistas. Seria essa a forma subtil de Manfredi mostrar-nos como os quatro da Ave Maria são mostrados como super-humanos em relação às demais personagens, que nunca se ferem e sempre resolvem tudo, apesar de não utilizarem trajes colantes e capas? Tex resolve isso convocando os parceiros para ajudar a ele e ao Carson no decorrer da investigação.

O Kevin aparece no inicio e, durante todo o resto da história ele só aparece em flashes backs, quando as personagens que o viram, conversam com a dupla de Rangers.

Em Idaho a dupla depara-se com a caravana de mulheres, às voltas com a família mau carácter dos Glover. Em um total de seis, sendo, Emma, Brenda, Dorothy, Constance, Muriel e Gloria, elas estão indo do Kansas para o Oregon, onde através de uma agência matrimonial, a viúva Emma, firmou compromisso de casamento para as suas protegidas com lenhadores. Aqui um dos principais dogmas Texiano é quebrado, pois comummente é Tex quem traz para si a responsabilidade sobre os oprimidos, mas, ao salvar a caravana, é Carson quem o convence de escoltá-las até o Posto de Troca, quando este tenta aconselhar Emma a voltar. O segundo dogma quebrado é quando Tex reclama da chuva, enquanto Carson, que é sempre o reclamão, se aproveita para ironizar.

Dois acontecimentos fazem Tex repensar as suas decisões em relação à Caravana de Emma. O primeiro é quando no Posto de Troca ele descobre que a agência matrimonial é mantida pelo Reverendo Charles, cujo sobrenome é o mesmo do bandido perseguido, Fletcher. O segundo é o sentimento de culpa quando acontece um acidente na travessia do rio, que está acima do nível, em decorrência da chuva do dia anterior.

Um roteiro atípico, um Tex atípico? Não, o Manfredi já conhece os lugares comuns das sagas Texianas e, acreditem, elas aparecem quase que na totalidade neste álbum: O assassino perseguido, Austin convocando os pards, a caravana precisando de um guia, flechas incendiárias, rios em cheia, travessia em balsa, missão, posto de troca, o forte, o exército que só chega quando já não se precisa mais. O interessante é como Manfredi se aproveita deles para enriquecer o roteiro. Por exemplo, a personagem do Capitão Trent é um burocrata que não se dispõe a ajudar e quando o faz, além de já não ser necessário, ainda afirma ter usado a caravana como isca para atrair o bando rebelde de Bisonte Branco a uma emboscada. Claro que ele toma um forte soco na cara, mas, a combinação de faces desenhadas pelo Carlos Gomez e as tiradas dos diálogos do Carson, são impagáveis.

Todo o arco onde são mostrados os índios rebeldes é muito bem construído e pleno de golpes de cenas, com direito a Tex nas vestes de Águia da Noite surpreendido em armadilha do Chefe Bisonte Branco. O destaque todo vai para a jovem Dorothy, no embate final. Continuem prestando atenção a ela.

A caravana também é cenário para as “ronhas” entre Tex e a também viúva Emma. Coisa que só se vê entre casais maduros e que se conhecem bem, é muito engraçado. O Carson, como sempre, porta-se como um galanteador, claro, que com muito respeito, mas, a mim parece que a jovem Brenda gosta dos olhos claros da velha raposa.

A cidade corrupta, outro lugar-comum, está lá também com o seu dono, o vilão da vez, Mosley, que mancomunado com o Reverendo Fletcher, que se revela tio do assassino de Eddie Morton e nem tão Reverendo assim, dão uma reviravolta no roteiro. Confesso a vocês, nesse momento inicia-se outra história, que nos apanha de surpresa.

Chega-se ao último acto do álbum. Os porquês de Kevin Fletcher ter-se tornado um assassino vêm à tona, o reverendo Charles Fletcher, seu tio, mostra a sua verdadeira face para a viúva Emma e suas protegidas e para o seu sobrinho, Tex e Carson não se surpreendem.

O Kevin, mais uma vítima do que de facto um vilão, é redimido dos seus actos, pois, apesar de ser feita a justiça, ela não vem pelas mãos humanas. E a Dorothy, vocês lembraram-se de prestar atenção a ela? Ela é o meio que o autor usa para nos mostrar que os fracos nem sempre são tão fracos e que os pards, nem sempre são absolutos e, de novo tem uma cena importante no desfecho final.

O mais interessante de tudo, é que o tempo todo o roteiro tratou de dois temas por demais contemporâneos, que estão em evidência nos telejornais brasileiros, portugueses, italianos e do mundo. Realmente, Manfredi jamais é óbvio e o sentimento que tive ao findar a leitura deste Tex Gigante, é da dúvida. O que ler depois de algo tão bom?

Todas as personagens, independente do seu tempo de “actuação”, são muito fortes e muito bem caracterizadas. Em uma escala de mensuração de um a cinco, caso houvesse uma, eu daria cinco winchesters a este álbum!

6 Comentários

  1. Muito bom gostei muito. Continuem colocando matérias como esta. Façam assim de outros Gigantes e também dos almanaques.

    • Já li. Adorei a cena que a Glória tira o Tex do sério! Ele vai pra cima e a faz entender quem de fato está no comando. kk
      Amei essa história. Tex percorre vários locais e sempre tirando alguém de situações difíceis. Afinal ele sempre será o Salvador Da Pátria.

  2. Gostei da matéria, muito bem feita. É muito bom termos análises/resenhas/críticas das obras texianas. Parabéns.

  3. Olá Amigos!

    Fico feliz que tenham gostado da resenha e, principalmente, que ela tenha atingido o bjetivo de levar um olhar crítico sobre uma obra a ser posta em nossas coleções.

    Forte abraço a todos, um Feliz e Iluminado Natal e até a próxima resenha!

    Sílvio Introvabili

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