TEX AO REDOR DO MUNDO

Por José Carlos Francisco

A longa cavalgada de Tex, à volta do mundo, levou-o nos últimos anos aos Estados Unidos, Portugal e Rússia. A popularidade da mítica personagem da Casa Bonelli, a maior editora transalpina de fumetti (nome dado à BD em Itália) não parece assim conhecer fronteiras.

The four killersEm Dezembro de 2003, numa etapa importante e almejada há muito pela Sergio Bonelli Editore, a Venture editou o primeiro dos quatro volumes previstos, da história que na Itália foi publicada no “Albo Speciale” nº 15, série mais conhecida entre nós como Tex Gigante, com o título “The Four Killers” (Os quatro assassinos). A história escrita por Claudio Nizzi e desenhada pelo consagrado desenhador americano Joe Kubert, foi publicada numa prestigiosa edição cartonada e a cores, confirmando a modalidade editorial realizada antes na Holanda, Alemanha e França. Só que devido a um conflito entre a Dark Horse e a Venture, a edição existe fisicamente, mas nunca foi posta à venda, tornando-se por isso mesmo, uma edição raríssima que somente alguns poucos editores, como por exemplo Dorival Vitor Lopes, da Mythos Editora no Brasil, e Pedro Silva, da Vitamina BD em Portugal, possuem.

Mas Tex chegou a ver a luz do dia na sua “terra natal”, quando finalmente em 2005 a própria SAF Comics, detentora dos direitos internacionais do ranger bonelliano, publicou “Tex: The Lonesome Rider” (O Cavaleiro Solitário), numa edição impressa na Eslovénia, com 240 páginas a preto e branco, capa em brochado e com o custo de $15,95 dólares.

Tex português, russo e americano
2005, mais precisamente no dia 14 de Agosto, foi também o ano em que Tex “nasceu” em Portugal, depois de mais de 30 anos a ser distribuído no nosso país com o selo de editoras do Brasil. A honra coube à aventura “Tex contra Mefisto”, da dupla Gian Luigi Bonelli e Aurelio Galleppinni, publicada no volume 8 da 2ª Série dos Clássicos da BD, rebaptizada com o nome “Colecção BD Série Ouro” numa iniciativa do jornal “Correio da Manhã” que quis oferecer ao seu público uma versão “falada” no mais clássico idioma lusitano.

Uma tarde quente...Em 2008 por ocasião do sexagésimo aniversário de Tex, o BDJornal # 24, uma publicação Pedranocharco, dedicou um dossier especial ao Western, onde incluiu aquela que é a segunda história de Tex editada em Portugal, a banda desenhada de 14 páginas da autoria da dupla Guido Nolitta e Giovanni Ticci, intitulada “Uma Tarde Quente…”, gentilmente cedida pela SBE e que para já encerra o ciclo português de Tex.

Provando que a popularidade de Tex Willer parece não ter limites, em 2007, a mais popular personagem da Casa Bonelli começou também a ser editada na Rússia, através da editora “Green Cat“, para satisfação dos apreciadores da banda desenhada daquele longínquo país de Leste. A chegada de Tex à Rússia é a enésima aposta que a Bonelli joga fora dos confins italianos: um desafio que data desde os primórdios e cuja história – marcada por diversos sucessos e algumas desilusões – é útil percorrer para compreender as dimensões da popularidade de Águia da Noite, que se pode encontrar em língua hebraica, no doce idioma grego e até em tamil, sem esquecer países como Turquia, Espanha ou Argentina…

Striscias internacionais
Pode datar-se de 1948, a estreia de Tex num país estrangeiro, mais precisamente em França, no dia 29 de Novembro, apenas dois meses depois da sua estreia na pátria italiana, com o nome “Texas Boy” e no formato apelidado de striscia (tira, em italiano), semelhante a uma caderneta de cheques. Com o decorrer dos anos, Tex foi publicado em variados formatos e em diversas séries, destacando-se cinco Tex Gigantes no formato habitual italiano, entre 2000 e 2003 e sobretudo o Tex Gigante “O Cavaleiro Solitário“, publicado em 4 luxuosos álbuns coloridos. Tex também dividiu o espaço com outras personagens dedicadas à aventura, como aconteceu por exemplo nas revistas Mustang ou Rodeo, para retornar em grande estilo em 2008, depois de uma ausência de alguns anos dos quiosques franceses, numa aposta das Editions Clair de Lune, com venda exclusiva em livrarias.

Tex francêsDepois da França, foi a Espanha o segundo país a abrir as suas fronteiras a Tex, que também teve no país das touradas um novo baptismo: “Texas Bill”, estreando-se em 1949 com a aventura “El Totem Misterioso”. Na terra de nuestros hermanos esteve igualmente presente em várias editoras e com diversos formatos, despedindo-se em Novembro de 2004, com a história “Los asesinos”, escrita por Mauro Boselli para um Tex Gigante e desenhada pelo Mestre espanhol Alfonso Font, publicada pela Planeta DeAgostini.

Igualmente a Dinamarca, iniciou em 1949 a publicação da personagem italiana no interior da revista semanal “Serie bladet”, onde dispunha de duas páginas, acompanhada por outras ilustres personagens. Entre 1954 e 1956 foi publicada a colecção “Tex Willer” no formato de tiras. Com a mesma denominação e já no formato álbum, Tex retornou em 1971, editado pela Williams, encerrando o seu ciclo dinamarquês em 1976.

Em 10 de Outubro de 1949, cerca de um ano após o seu nascimento na Itália, foi na Argentina, que apareceu pela primeira vez em toda a América, no número 1 da revista semanal “Rayo Rojo” da editora Abril de Buenos Aires, rebaptizado de Colt Miller ou também de Colt, o Justiceiro. Obtém rapidamente notável sucesso, tanto que os editores argentinos foram constrangidos a recorrer a histórias apócrifas da personagem, realizadas por profissionais que não tinham nada a ver com a produção italiana. Tratava-se de Julio Almada (pseudónimo de Julio Portas), nos argumentos e Carlos Cruz, espanhol, nos desenhos. Foram realizados na Argentina, sem conhecimento da matriz italiana, um total de oito episódios de Colt Miller (cinco para Super Rayo Rojo e três para Super Misterix), todos eles creditados aos seus autores argentinos, ao contrário do acontecido com as histórias oriundas da Itália, mas entretanto Tex começou a perder admiradores até que o fim anunciado chegou em 1963.

Tex argentino
Versões gigantes internacionaisO Brasil, o país que deu seguramente mais satisfações à Casa Bonelli, deu vida a Tex em 1951, através da Rio Gráfica Editora, tendo o Ranger tido a sua primeira aparição na revista Júnior nº 28, com o nome de “Texas Kid” e tinha o mesmo formato da edição original italiana. “Texas Kid” despede-se dos leitores brasileiros em Julho de 1957. Durante toda a década seguinte ninguém mais ouviu falar de Tex no Brasil, até que em Fevereiro de 1971 a Editora Vecchi relançou o Ranger em revista própria, sendo também distribuída em Portugal. Em 1977 devido ao grande sucesso comprovado por vendas superiores a 150.000 exemplares, a Vecchi lança a 2ª edição de Tex e em 1980 publica aquela que ainda hoje é considerada a mais sofisticada edição brasileira, o luxuoso álbum “O Ídolo de Cristal”. Em 1983, Tex muda-se para a Rio Gráfica Editora, mantendo a numeração e formato. Em Janeiro de 1987, Tex passa a ser apresentado aos leitores pela Editora Globo, na verdade a mesma Editora Rio Gráfica, porém com outro nome, para em finais de 1988 ser a Editora Mythos quem assume a publicação de Tex, tendo no presente várias séries (entre inéditas e reedições, almanaques e especiais) dedicadas a Águia da Noite, todas elas enviadas também para o nosso país, para deleite dos Texianos portugueses.

Prosseguindo a ordem cronológica, Tex é publicado na Finlândia no Verão de 1953. Até ao ano de 1965, uma média de 26 edições eram publicadas anualmente. O formato era pequeno: uma edição continha 32 páginas e cada página compreendia somente uma tira de desenhos. Não obstante isso, Tex foi um sucesso instantâneo naquele país nórdico. Após um intervalo de seis anos, Tex estava de volta à Finlândia, desta vez com o nome correcto na capa. O tamanho da revista também mudou, era maior e agora cada edição possuía 128 páginas. Tex Willer atingiu imediatamente, e mais uma vez, um grande sucesso, que dura também até aos nossos dias.

Interior grego, indiano e israelita

À Turquia, Tex chega em 1961, sendo a editora Ceylan quem iniciou a sua publicação, passando depois o Ranger por diversas outras editoras, sendo publicado ainda hoje, pela editora Oglak, mostrando que continua bem vivo entre os leitores turcos.

Várias versões internacionais do Tex de Joe KubertTex também foi publicado na Jugoslávia entre 1967 e 1992, retornando em 1994 já na Eslovénia e na Croácia e em 1996 na Sérvia, Macedónia e Albânia. Em 1971, a Bonelli volta a apostar forte no mercado nórdico, expandindo Tex até à Noruega (onde ainda hoje continua a ser publicado) e à Suécia. Nesse mesmo ano Tex chega também à Bélgica e Holanda, onde é publicado por mais de um decénio, totalizando 128 edições, assim como na Inglaterra onde é cancelado após 13 números e na Alemanha depois de 8 álbuns, retornando somente em uma outra edição esporádica.

De 1972 a 1978 Tex é publicado também em Israel, num total de 45 números e em 1985 desembarca na Índia. Em 1988 é a vez da Grécia acolher Tex e em 2004 a República Checa, seguindo-se como escrevemos no início do texto, os Estados Unidos, Portugal e a Rússia, mas para além de todos estes países, é provável que tenham sido publicadas edições “piratas” em outros países, não tendo a editora italiana conhecimento.

Tex grego, israelita e indiano

Para concluir, pode-se afirmar convictamente que este herói da banda desenhada publicado em cerca de 30 países, marcou o imaginário colectivo de meio mundo, sendo portador de um diálogo entre culturas graças também ao empreendimento dos seus fãs espalhados pelo mundo.

Edições internacionais várias

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

9 Comentários

  1. Que melhor maneira para colocar o meu primeiro comentário no Blogue de Tex, senão num maravilhoso texto e uma fantástica pesquisa do grande Texiano e amigo José Carlos!!

    Está lindo!! Adorei ler o Texto…

    Obrigado pelo Blogue amigos.. Obrigado..

  2. Pards!
    Isto é que é uma verdadeira “reportagem”. Magnífico! Todas as informações, locais de nascimento da revista, encerramento, enfim tudo nota dez, isto é nota 9,5 pois falta a informação “correta” em quantos países Tex foi publicado.
    Lucílio Valério

  3. Muito boa pequisa, é uma satisfação saber que o nosso herói de papel tem tantos fãs pelo mundo.

  4. Pard Zeca, receba meus parabens pelo excelente texto e pela brilhante pesquisa sobre o maior ranger do mundo.

  5. Segundo comentário

    Apenas para dizer, já que ninguém ainda o fez:

    MAGNÍFICOS Exemplares.. Todos da colecção pessoal calculo eu!!!

  6. Obrigado pelos comentários positivos com relação a este meu texto sobre as edições internacionais de Tex, dilectos pards. Sem falsas modéstias, também penso que ficou um interessante e importante texto até porque mostra bem a grandiosidade do Ranger no mundo.

    Quanto à informação correcta sobre em quantos países Tex foi (ou é) publicado, bem, basta contar, pois todos os países em que há conhecimento, estão no texto 😉

    Relativamente a vendas de Tex nos Estados Unidos, infelizmente não tenho nenhuns dados que possam avaliar a performance do Ranger no “seu” próprio país…

    E quanto às edições internacionais que ilustram o texto, de facto são todas da minha colecção (possuo edições de 22 países diferentes), excepto o álbum da Dark Horse “The Four Killers”…

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