Tex Anual 09: Forte Saara

Tex Anual 09 - Forte SaaraArgumento de Claudio Nizzi, desenhos de Roberto Diso e capa de Claudio Villa.
Com o título original Fort Sahara, a história foi publicada em Itália no Maxi Tex nº 11 em Outubro de 2007 e no Brasil pela Mythos Editora em Dezembro de 2007.

Confesso que as minhas expectativas para esta aventura eram bastante reduzidas. A meu ver, apesar de altos serviços prestados à série, Nizzi já não representa a garantia de qualidade que os texianos anseiam e, por outro lado, o desenho de Roberto Diso não discutindo eventuais qualidades, não está de modo algum fadado a uma série como Tex. Talvez por isso, tentei sempre dar um certo benefício da dúvida, ser condescendente aqui e ali, mas a verdade é que, decorrida a leitura das mais de trezentas páginas, pouco sobra.

Para início de conversa, e de certo modo indo ao encontro daquilo que o próprio Sergio Bonelli escreve na sua introdução, eu também guardo um certo afecto pela saga da famosa e lendária Legião Estrangeira, acho mesmo que um dos pontos positivos desta aventura reside na capacidade que Nizzi conseguiu em transpor para a realidade e para o universo texiano alguma da realidade daquele corpo militar, tornando a sua presença na aventura como algo de credível e coerente na sua vertente histórica.

Tex e Kit Willer na Legião EstrangeiraPorque o autor soube unir o seu argumento à presença histórica da Legião Estrangeira no auxílio prestado ao imperador Maximiliano no conflito que o opôs aos republicanos liderados por Benito Juarez entre 1864 e 1867. Depois da vitória deste, o contingente das tropas francesas acabou por abandonar o México e aqui termina a realidade dos factos históricos, começando a ficção engendrada por Nizzi.

Quando se preparava para regressar à pátria, o capitão Duchamp foi contactado por Chavez, um homem que representava os interesses dos ricos fazendeiros que pretendiam alguém que os protegesse dos bandidos face à impotência dos rurales. Mas Duchamp vai querer mais, nomeadamente o poder e o cargo de governador de Chiahuahua, actualmente ocupado por Montales, que devido a problemas políticos e burocráticos não pode intervir, chamando Tex e os seus pards que vão tentar infiltrar-se no corpo da Legião Estrangeira.

Arte de Roberto DisoForte Saara parte assim de uma realidade histórica rumo a uma ficção, que vai denotando aqui e ali alguns pontos interessantes, como por exemplo a tímida reflexão sobre a disciplina militar ou o suspense mantido até Tex e Kit conseguirem infiltrar-se na Legião Estrangeira, mas denota principalmente e, no que já se tornou num hábito em Nizzi, alguma ingenuidade e incoerência. Repare-se, por exemplo, que o objectivo inicial passa apenas por encontrar o local onde se encontra a Legião, para passar a ser posteriormente fazer explodir o depósito de munições e criar a confusão que permita a fuga de Tex e Kit.

Depois, é o próprio discurso de Montales que receia um incidente diplomático com a França, que no fundo seria provocado por “rebeldes” franceses. Que dizer também de toda a cena inicial, um autêntico hino à cobardia e que não se coaduna nem tão pouco se identifica com o Tex que sempre apreciámos.

E sem nos alongarmos mais, toda a cena explicativa entre Duchamp e Chavez parece gratuita, perfeitamente exemplar no modo e na forma como Nizzi escreve hoje para Tex. Forte Saara baseava-se num tema original, mas acaba por nunca fugir da realidade nizziana, uma realidade que vai descaracterizando o herói sem um ganho de qualidade ao nível dos argumentos.

Tex por Roberto DisoSobre o desenho de Roberto Diso já deixámos a ideia principal do seu trabalho. O seu traço pouco elaborado e impreciso nunca colhe. Diso nunca consegue criar um ambiente que envolva o leitor, nunca consegue identificar as personagens com a atmosfera do western e os seus pards estão sempre descaracterizados. De modo algum criticamos as qualidades do autor, Diso terá o seu estilo, mas a verdade é que para desenhar Tex é preciso algo mais, é preciso que o leitor, permitam a expressão, sinta e respire uma certa poeira, uma certa dureza, características que Diso nunca interpreta nem transmite.

Texto de Mário João Marques

8 Comentários

  1. Mais uma excelente resenha. Parabéns Mário.
    Quanto ao trabalho de Diso em Tex: Concordo plenamente. Sinceramente espero que seja o último.
    Como existem actualmente tantos desenhadores no Staff, penso que é possível ser-se mais selectivos e afastar da série aqueles que menos se adaptaram ou os menos preferidos dos leitores.
    Refiro no entanto que existem outros desenhadores, os quais, em minha opinião nunca deveriam ter passado do Texone. Casos de Ortiz e La Fuente, no entanto já participaram em inúmeras histórias, contribuindo assim para o sucesso da série.
    Assim, apesar de não gostar, aceito e compreendo perfeitamente que existam outros leitores que o considerem um dos melhores. O importante é aumentar o leque de leitores e garantir a continuidade.

    Sérgio Sousa

  2. Lamento desiludir-te Sérgio, mas o Roberto Diso já está a trabalhar num outro Maxi Tex (Tex Anual)…

    Mas para nem tudo ser mau, digo-te que o Miguel Angel Repetto está também a desenhar um futuro Maxi Tex… tal como o José Ortiz!

    Temos também já em produção um quarto Maxi Tex. Desenhado por Ugolino Cossu, cujas pranchas (2) estiveram expostas em Moura.

    Não sei é a ordem exacta de publicação, aliás isso decerto até deve depender de quem terminar primeiro a sua história…

  3. Sérgio,
    Obrigado pelas palavras. Sobre o trabalho do Diso, sem beliscar as suas qualidades de desenhador, achamos os dois (e não só) que ele não colhe em Tex. O seu desenho não está de modo algum fadado para uma série como Tex e acho que consegui dizer isso na resenha.
    Já o mesmo não acontece com esses dois nomes também focados, o Ortiz e o De La Fuente. Se leres outras resenhas podes concluir que não são de modo algum os meus desenhadores preferidos, mas isso não significa que não desenhem bem e que, nestes dois casos, até reunem qualidades para desenhar Tex. O caso de Ortiz, já o disse várias vezes, é desenhar depressa de mais, cerceando assim algum detalhe que acaba por faltar. De La Fuente é um grande nome da bd mundial, teve reconhecidos méritos numa série western como “Los Guerilleros” e portanto adaptou-se bem a Tex, com excepção de… Tex. A sua composição do ranger deixou algo a desejar, mas aqui penso estarmos em presença de um excelente desenhador.
    Mas é como tu dizes, há que agradar a todos e todos devem dar a sua opinião. No fundo, voltamos a Diso dizendo que, neste caso, as críticas são tantas que por vezes não se percebe porque é que Sergio Bonelli insiste com este autor. Na realidade, acho que todos nós sabemos porquê.
    Um abraço
    Mário João Marques

  4. Olá Amigos lusos, tudo bem convosco?

    Eu ainda não li esta aventura, apesar de já tê-la visto nas bancas brasileiras de cidades por onde passei. O fato é que a quero no original italiano, para manter completa a minha coleção, mas devo-lhes confessar, o comprarei para não deixar buraco na minha coleção, pois os desenhos do Diso são por demais desistimulantes. Eu sou muito detalhista, me detenho em uma página por um tempo bem maior do que a média dos leitores, pois gosto de ver o que cada desenhista retrata no ambiente do nosso irmão mais velho, o Tex, porém, nunca consegui achar nada de agradável aos olhos quando o desenhista é o Diso, se pelo menos tivéssemos um texto bom para nos suprir dos maus rabiscos, mas infelizmente nem isso… Eu sou um daqueles que não apreciaram o Tex do Nizzi, desde o início eu peguei no pé do cara, óbvio que ele tem algumas ótimas histórias, e confesso que com o passar do tempo, com a idade chegando e comparando o Tex nizziano com o bonelliano, admito que o Nizzi conseguiu deixar o Tex mais humano, porém, a essa humanidade agregou-se a falta de inteligência, a coragem, a falta de atitude, o nosso irmão mais velho está ficando óbvio demais, não mais nos surpreende nem tem mais inimigos elegantes e astutos.

    Abraços aos Amigos de além mar e parabéns pela forma como tratam o Tex por aí, vocês são ótimos!

    Sílvio o introvabili

  5. Faz-se um comentário inocente e jorra uma fonte de informações.Obrigado José. Quanto às preferências relativamente aos desenhadores, nada a dizer. Sempre ouvi dizer que gosto não se discute.

    Sérgio Sousa

  6. Ainda não tive oportunidade de ler este Tex Anual (nem sequer o mandei vir), mas assumo que o traço de Diso não me convence, mais ainda com um anual!

    Vou esperar para ver, mas não fico feliz.

    Quanto à resenha em si está 5 estrelas, como é habitual do Mário e a história/argumento até promete!

  7. Tudo ou nada… as pessoas não são iguais, os desenhistas tambem não.

    Ainda não o li mas espero que seja bom. Tenho todo o tempo do mundo para o adquirir.

    Tex para sempre!

    P.S. – Amigos, conheço Tex, Zagor, entre outros desde a minha infância. Havia pessoas que me deixavam ler as revistas, alguns já faleceram, outros não, mas já não ligam ao Tex. Gostaria de me corresponder com pessoas da zona de Braga, Viana, Ponte de Lima para falar sobre Tex e talvez fazer trocas… só tenho pena do Tex não chegar a todas as bancas de Portugal. Cheguei a ir muitas vezes a Braga comprar o Tex… perto de 30 Km.

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