O Alfabeto do Velho Oeste – Letra I

Wilson Vieira:

Desenhador e Argumentista Brasileiro de Banda Desenhada, com mais de 36 anos de experiência, dos quais 7 deles (1973/80), participando como colaborador do estúdio Staff di IF em Génova/Itália, ilustrando também alguns episódios de Il Piccolo Ranger para a Sergio Bonelli Editore, Diabolik, Tarzan e o Homem-Aranha (Octopus desafia o Homem-Aranha). É também o autor da saga Nordestina: Cangaceiros – Homens de Couro e da série western – Gringo, assim como autor de vários outros roteiros. E escreve, escreve…
É também autor do seguinte blogue na Internet:

http://brawvhqs.blogspot.com/.

Caros LeitoresGeograficamente falando, como sabem o território dos Estados Unidos da América pode ser dividido em três zonas:
1 O Leste, ou seja, a faixa costeira Atlântica delimitada a ocidente pelas cadeias montanhosas de Allegheny e Apalaches.
2 O Oeste, ou seja, o planalto central ocupado inteiramente pela bacia hidrográfica do Mississipi-Missouri e caracterizado, principalmente em sua parte ocidental, pela imensa vastidão de planícies.
3 E o Far West, ou seja, a região que compreende as Montanhas Rochosas e suas vertentes ocidentais que deslizam para o Oceano Pacífico. Tais configurações geográficas são importantes, para compreendermos bem o desenvolvimento histórico da colonização da América do Norte; a faixa costeira Atlântica foi logicamente a primeira a ser dominada pelos Europeus e por ela surgiram os primeiros vilarejos e as primeiras cidades (1600 e 1700), depois, (início de 1800), o grande planalto central foi, não só atravessado, como colonizado, enquanto que os pioneiros erroneamente o consideraram inapto para a cultivação e preferiram seguir para o Far West, ou seja, o Oregon e a Califórnia. Na segunda metade do século, finalmente também foi retomado o imenso planalto, deixado por tanto tempo antes aos índios e bisontes, transformando-se em objectivo de emigrantes, que lá se estabeleceram e colonizaram. Isso deverá ser recordado, para estabelecer dois conceitos, geralmente confusos. 1 Aquele de “fronteira”. 2 Aquele de “conquista” do West. De facto, desde que núcleos de colonizadores ingleses estabeleceram-se na Virgínia em 1620, a vida dura de fronteira, foi para os predecessores brancos uma realidade quotidiana, com todos os percalços e perigos que ela representava; principalmente a hostilidade natural dos índios nativos diante dos cruéis invasores. Ao contrário, com a expressão “conquista” do West, entende-se somente aquele movimento de massa humana, que teve início nos primeiros anos de 1800 e avançou além das fronteiras, pelas cadeias de montanhas, até o vale do Mississipi e depois, foi até à costa do Pacífico; nesse sentido a “conquista” do West não é mais que, o último período da história da fronteira americana. Sendo assim, para esmiuçar o passado americano, que tanto nos fascina, apresento com imensa satisfação O ALFABETO DO VELHO OESTE propondo esse database western básico, narrado a verbetes, em ordem alfabética, os pormenores sobre tal época. Projecto online penso, pioneiro tanto em Portugal, quanto no Brasil, estimulado a publicá-lo, através do amigo entusiasta José Carlos Francisco (Zeca), o qual me ofereceu generosamente o espaço, neste já renomado Blogue e aceitei. Será um trabalho longo e árduo admito, porém prazeroso, onde a cada letra específica, o amigo leitor encontrará uma variedade de descrições relativas a ela, num período onde homens, mulheres, animais, geografia e clima, entrelaçavam-se na batalha árdua do quotidiano em busca da sonhada sobrevivência o Velho Oeste. Espero que aprovem o conteúdo sugerido e me acompanhem, nessa aventura extraordinária, agora com a letra…

I


Índios –  Índios –   A História Humana é uma história de movimentos, de conquistas, de adaptações a novos ambientes, de mistura sanguínea e de fusões de civilizações, de contínuas, e incessantes aspirações, tendo como objectivo maior “algo melhor”. Quando os Espanhóis e os Portugueses descobriram o Novo Mundo, extraindo do imenso desconhecido, novos Impérios para os seus Soberanos, entraram em contacto com uma Raça Humana, até agora desconhecida; os Índios, cujas variadas culturas: de caçadores nómadas das planícies do Norte, até às civilizações avançadas dos Astecas e dos Incas, dominavam o Continente Americano. Com uma agressividade e uma barbárie sem precedentes, eles conseguiram cancelar essas civilizações que se reduziram em pequenas tribos dos EUA. Os Índios muito provavelmente vieram da Ásia, mas não estamos capacitados em estabelecermos, a época na qual teriam atravessado a “Língua de Terra”, que então deveria existir entre a Sibéria e o Alasca. Partindo do facto, que eles chegaram há 11.000 anos, no México, conclui-se que, de 15.000 a 30.000 anos atrás, atravessaram o Estreito de Bering, por terra ou por mar. No curso de uma migração através dos séculos, espalharam-se através das planícies norte americanas, México e nas regiões Tropicais ao oeste dos Andes. Em base a mistura da quantidade de carbono radioactivo, resulta que algumas tribos, chegaram à extrema ponta meridional da América, 8.000 anos atrás. A invasão dos Europeus na América Central e Meridional, levou a uma crescente mistura entre os Índios e os Conquistadores Espanhóis e finalmente o surgimento de uma Civilização “Creoula”, que por vários aspectos fundamentais, se diferenciaram do Continente Norte-americano, totalmente branco. Muitas tribos da América do Norte, após receberem armas de fogo dos mercadores brancos, começaram a emigrar para o Oeste para conquistarem as mais ricas zonas de caça das tribos vizinhas. Outras dominaram os cavalos, deixados pelos Espanhóis durante as suas Expedições, e que nesse ínterim cresceram consideravelmente de número e tomaram posse de locais até então desabitados. Todavia, na maioria dos casos, essa mudança para o Oeste não foram espontâneas, mas sim por necessidade; foi o retroceder de uma Raça Inferior diante das grandes ondas das Emigrações Transatlânticas dos Povos brancos, jamais vistas antes. A História dos Indígenas foi simplesmente, uma tragédia. Eram diferentes pela língua, cultura e grau de desenvolvimento, como os demais Povos do Mundo, entre as 400 tribos do extremo Oeste, existiam mais de 120 famílias linguísticas com mais de 370 dialectos. Os Índios da América do Norte ofereciam para a chegada dos Conquistadores, o quadro original e fascinante de uma Raça, na qual em seu interior, se obtinham quase todas as fases do Desenvolvimento da Humanidade, da Pré-História até à perfeita Civilização Democrática, passando através da Civilização Espiritualmente desenvolvidas. Os séculos e os milénios que separavam o branco do Ocidente, de seu passado concluído, transformaram-se em contacto com os Índios que viviam entre os dois Oceanos, num imediato presente, empurrando os Conquistadores, ao passo que adentravam no Continente, reviverem muitos milhares de anos da História Humana, geralmente no espaço de uma só geração. Todavia por mais diversas que pudessem ser a Civilização e a Cultura dos Índios da América do Norte, um elemento era comum tanto aos seculares habitantes das planícies, aos cidadãos dos vilarejos do sudoeste como às democracias parlamentares sobre os Apalaches: uma relação com o tempo, mais espontâneo e feliz do que aquele que possuímos hoje. O nosso total sincronismo com o tempo linear do relógio, que marca os minutos, as horas, engolindo anos após anos, cansa-nos, internamente. E enquanto que em nossos subconscientes, nos angustiamos, com o marcar do tempo, somos já velhos, sem nunca estarmos jovens. Certo que na solidão das Instituições Místicas, muitos de nós experimentamos diversas dimensões temporais, mas sob as rugas do tempo marcado pelos relógios, tais momentos desaparecem numa eternidade que estão atrás dos anos e das estrelas. Não é, todavia dessa solidão que possa derivar as diversas dimensões temporais, nem sua relação com a Eternidade imóvel, mas sim dos ritmos do organismo e da alma da Comunidade Social. O tempo é instinto e sociabilidade. O realizá-lo ou não, constitui sim uma diferença decisiva. Os Índios realizaram o tempo, mas numa dimensão totalmente diferente da nossa, ou seja, do mais puro linear das máquinas, dos relógios, dos calendários, onde o futuro, em seu mecânico repetir-se, é repelido sem piedade, além do frágil presente, num passado irrevogável, no qual tudo é imóvel e privado de maturação. O tempo, para os Índios, não era um instante linear na qual cada realidade procedia, em passos iguais, de um nada para outro nada, mas a contínua persistência do passado, presente e futuro, a experiência de um sonho vivido, como realidade, e o sentimento da realidade como um sonho. O Homem Moderno Ocidental conserva o Espírito do passado na estéril certeza, garantida pelos livros de História. O Índio não conhecia as bibliotecas; seus livros consistiam na comunicação oral e dramas ritualísticos, repassados pela memória, na educação, nos cantos e nos símbolos mágicos, em nomes e seus significados, elementos esses que interligam o homem com a terra e o céu. No curso de sua História, o Continente Norte-Americano, jamais conheceu outro Império que pudesse enfrentar com a Civilização Maia, dos Astecas e dos Incas da América Central. Se aquelas regiões, do ponto de vista geográfico e climático, dificilmente apresentavam diferenças radicais, o extremo Oeste, a respeito daquelas diferenças, dividia-se em 5 grandes regiões culturalmente diferentes: o seco e desértico Sudoeste, as zonas planas e privas de árvores; as elevações das Montanhas Rochosas, as Costas Setentrionais e aquelas Meridionais do Pacífico. Quando há mais de 300 anos, Coronado atravessou o Sudoeste Americano, encontrou espalhada por todos os lados as Cidades Estados dos “Pueblos”, cujas casas feitas com argila (adobe), eram constituídas de 5 ou 6 andares, dispostos como “caixas”, um sobre o outro e que diminuíam ao subir para o seu vértice. Sendo somente aproximados, por meio de escadas. Tais habitações representavam diante de qualquer inimigo, uma fortaleza praticamente inatingível. Cada uma dessas Cidades Estados possuía a sua estrutura social e a sua própria soberania, do ponto de vista económico e comunitário, era ligada a aquelas cidades que se estendiam por um longo percurso para o México, Utah, Colorado Meridional e que ocupavam quase que inteiramente o Arizona e o Novo México. A União Comunitária, entre os “Pueblos”, tinha suas raízes na Agricultura, cujas regras, com o passar dos tempos, se transformaram numa Arte. A relação com o local e sua terra, com a água e a vegetação, não era caracterizado por um espírito de simples aproveitamento, mas sim por uma cooperação recíproca. O carácter Religioso, a terra e o homem constituíam a premissa da vida dos “Pueblos”. Sua filosofia da Felicidade limitava-se na Harmonia com um ambiente natural sacro e inviolável, e era governada por um complexo sistema nervoso central. Eles foram então, bem próximos à produtividade Humana, entendida como um factor peculiar no quadro da História da Sociedade Humana, de quanto não é o homem da Era Tecnológica. A agricultura era também o princípio vital dos “Papagos” semi-nómadas e das tribos “Yuma” do Arizona Ocidental e Nevada Meridional, mas seu sistema agrícola, já se baseava no aproveitamento da terra. Portanto os campos não davam mais frutos suficientes, daí emigravam rapidamente. A fase de transformação desses agricultores para cavaleiros nómadas, como os “Kiowas” e os “Comanches”, podemos constatar exemplificada nas numerosas tribos dos “Apaches”. Ao centro desse Povo, o arco de desenvolvimento Cultural, estendeu-se, por muitos milhares de anos, dos fabricantes de redes “Jicarillas”, “Chiricahuas”, as tribos de pastoreios “Navajos, Tontos”, até aos primitivos caçadores do deserto “Mescaleros”, “Mimbrenjos”, “Lipans”, “Tonkawas”. Suas civilizações desenvolveram-se com suas tendas, que estavam sempre prontas para serem desmontadas, feitas com peles ou arbustos, enquanto que seu nome, derivado do termo Espanhol “Apachureros de Huesos”, remetia a aquela ferocidade maior que as demais tribos da América do Norte, em torturas inimagináveis. O aparecimento do cavalo, surgido entre o Canadá e o México, pelas Populações das planícies, ocuparam e dominaram os novos e vastos territórios, não emergindo assim entre os “Apaches”, nenhum progresso de relevância. As tribos de caçadores utilizavam sim os cavalos, como animal de sela e transporte, aumentando ainda mais a sua penetração ao interior das regiões áridas e desérticas, mas seu modo de combate continuava mesmo assim a emboscada, e lutas a pé, preferindo o cavalo como sua carne saborosa e nutritiva. Somente os “Kiowas” foram a excepção; através do cavalo superaram as “Staked Plains”, atravessadas pelos bisontes e aquela condição ambiental de um deserto, que consumava cada gota de energia, foi somente um detalhe por poucos decénios. Por mais de um século, todas as tentativas Espanholas de colonizar aquelas terras faliram diante à resistência dos “Kiowas” e quando, em 1800, os Espanhóis reuniram novas forças para combatê-los, encontraram-se diante de outro Povo também a cavalo. Se os astutos “Kiowas”, que operavam com uma grande habilidade estratégica, fossem apenas limitados à defesa e de ocasionais ataques, as defesas dos Espanhóis não conseguiriam, ao fim, conterem o impetuoso ataque dos “Comanches”. Audazes até à temeridade, perfeitamente harmonizados com seus animais, como tantos Centauros, os “Comanches”, provenientes da família linguística dos “Shoshones”, tinham submetido, e aniquilado, no curso de suas andanças para o extremo Norte para o Sul, inúmeras tribos. Para eles, nobres cavaleiros, uma acção puramente defensiva, constituía já numa vergonha; somente o ataque era o modo de combater, com honra. Levando consigo, uma imensa quantidade de escravos Indígenas e brancos como serviçais e portadores de armas, também como diversão. O cacique “Osolo” manteve consigo de 1855 até 1858, o geólogo Nelson Lee. Os “Comanches” usaram, em confronto dos Espanhóis, a estratégia da destruição total e da terra queimada, enquanto que mantinham relações quase que cordiais com os primeiros colonos Anglo-Americanos. Hoje nos EUA é esparsa a opinião segundo a qual a guerra contra os “Comanches”, teria indirectamente favorecido as sucessivas possibilidades de vitória, por parte dos Americanos, no confronto das reivindicações territoriais Mexicanas. O assim chamado “Território Indígena” (depois Estado Federal) do Oklahoma representou um caso de todo particular no âmbito da História do Sudoeste. Nesse território, até 1830 totalmente selvagem e inabitado, estabeleceram-se as democracias, perfeitamente funcionais, dos Índios do Sudeste, núcleos estatais politicamente ordenados, desde 1817, segundo o modelo do Parlamentarismo Presidencial Americano, que constituíam as Nações Soberanas, altamente civilizadas das assim chamadas “Tribos Civis” – “Cherokees”, “Chickasaws”, “Choctaws”, “Creeks” e “Seminoles”. Os “Anos Dourados do Progresso Democrático” dessa Confederação de Estados Indígenas do Oklahoma, antes do surgimento da febre do ouro em Califórnia, antes do início da Migração branca para o Oeste e antes ainda da anexação, por obra dos EUA, do Texas, do Novo México, do Arizona e da Califórnia; foram sem precedentes na História da América, ou algo semelhante a eles. Antes da introdução do cavalo, pelos Espanhóis, a imensidão do mar de grama, entre o Mississippi-Missouri ao leste, e as Montanhas Rochosas ao oeste, o Canadá ao norte e o México ao sul, apesar de sua imensa riqueza de bisontes e aves selvagens, oferecia um espectáculo de grande solidão, sem traços humanos. Certas tribos, como os “Mandans” e os “Arikaras”, acomodaram-se às margens de alguns grandes rios e as grandes tribos dos “Sioux” e dos “Black-Feet”, percorriam as planícies com seus cachorros, que eram o seu único meio de transporte, mas os cursos de água eram separados entre eles por uma distância tal, que penetrar nela ou atravessá-la, resultava humanamente impossível. Somente o cavalo permitiu seguir os bisontes e tomar posse das planícies. A História das grandes tribos a cavalo, é aquela de uma guerra contínua de todos contra todos, de conquistas e de fugas, até à vitória inevitável dos “Sioux” ao Norte e dos “Comanches” ao Sul. A característica mais relevante das tribos que habitavam os pontos elevados e montanhas, indubitavelmente foi o seu isolamento, relativamente rígido, em confronto aos Povos vizinhos. Raramente abandonavam os seus postos, abundantemente ricos em caças. Contrastando com a vida dos vizinhos do Norte, os “Utes” em “Pueblos”, organizada num sistema comunitário. Eles eram caçadores nómadas do Colorado, cuja estrutura social baseava-se no clã familiar. Pacíficos e curiosos, eles foram ao encontro dos brancos, que os chamavam de “Índios Negros”, por causa da cor escura de sua pele. Invés disso os seus companheiros de tribo, os “Paiutes”, localizados entre o Colorado e a Sierra Nevada, acolheram com desconfiança os brancos e se opuseram a ela. Os “Shoshones”, em isolamento quase que total, de caça e pesca, sofreram. Em pequenos grupos, sem coesão, em companhia de seus cachorros, utilizados como animais de carga permaneceram longe de seus vizinhos, superiores em números. A natureza do País, que para o Norte, tornava-se cada vez mais fértil, em contraste com a zona setentrional e a meridional, influenciou por intermédio de sua maior ou menor riqueza de bosques e animais selvagens, o estilo de vida da família linguística dos “Chinooks”, os quais, diferentes dos nómadas “Shoshones”, “Paiutes” e “Utes”, habitavam em sólidas cabanas feitas com troncos. Os “Wishan”, “Walla-Walla” e os “Umatillas”, eram já um exemplo daquela Civilização Comunitária que tinham como base no Matriarcado e no Conselho de Anciões; similar aquele Parlamentar, do cacique, e que se transformou, junto aos vizinhos do Norte, os “Nez Percé”, perto do rio Columbia, uma vasta Civilização Agrária. Inteligentes e de índole pacífica, os “Nez Percé”, ocupavam, como agricultores, fabricantes de cestos, pescadores e caçadores, grande parte dos territórios entre o triângulo: Washington, Idaho e Oregon. Mais ao Norte, tanto no interior das montanhas quanto aos lados orientais e ocidentais, apresentava-se novamente um quadro complexo: os Índios “Piegans”, fazendo uma migração que durou decénios, desde o Pequeno Lago dos Escravos até aos pés das Montanhas Rochosas em Alberta e Montana, encontraram nessa zona, condições péssimas de vida e no giro de pouco tempo, foram desencorajados pela fome e epidemias, não procurando assim melhores reservas de caça. Sobreviveram miseravelmente como assaltantes nómadas, que rapidamente obtiveram o apelido de “Bandidos das Planícies”, pelo terror de seus vizinhos mais fracos. O temperamento dos “Yakimas”, “Spokanes”, “Kutenaks” e dos “Flatheads”, que habitavam do lado oriental das quedas de água, acabou numa resistência passiva, indo à pesca e recolhendo favas, e quando os caçadores de peles trouxeram a varíola, a catapora, a cólera, tais epidemias exterminaram mais de 70% dos homens. A bebida da Sociedade para o comércio de peles fez o restante. Os Índios venderam para os caçadores de peles, suas mulheres e filhas, e continuaram a beber, até à morte. A única excepção foi feita pelos “Flatheads” que sobreviveram a este cruel destino, tornando-se escalpeladores, pois um grupo interessado na caça de peles oferecia prémios, por um escalpe de cada concorrente morto. Os Índios das Costas norte ocidentais, da foz do rio Columbia até o Alasca, foram tribos tipicamente marítimas que com o a aproveitamento da imensa quantidade de bosques, sempre verdes, criaram uma óptima condição de vida. Seus diques construídos faziam com que tivessem grandes quantidades de salmões, juntamente com a produção agrícola, o bastante para sustentá-los. Suas canoas velozes de alto mar circundavam as costas, alternando ora como pescadores, ora como comerciantes e ora também como piratas. A diferença de quase todas as demais tribos Indígenas da América do Norte, entre as quais dominava o Matriarcado, baseava-se sobre uma Ordem Comunitária do tipo Patriarcal e sua Estrutura Social regia-se sobre um Feudalismo Capitalístico, perfeitamente e extremamente organizado. Uma casta nobre, privilegiada e hereditária, detinha nas próprias mãos o absoluto e inviolável direito a governança e a sucessão das classes sociais, rigidamente distintas entre elas, descrevia uma ampla curva descendente; dos nobres, com deveres de vassalagem, aos comerciantes, artesãos e agricultores, até aos pobres escravos (prisioneiros de guerra ou devedores). A construção das barcas, a pesca e a pirataria, construíam no privilégio de uma casta muito segura de si; a prostituição era institucionalizada; mulheres, terras, casas, reservas de perca, até nomes e títulos, podiam ser obtidos por meio de aquisição, herança, adopção, ou mesmo por meio de armas. Todavia, mesmo que as grandes tribos dos “Nootkas”, “Kwakiutls”, “Klamaths”, “Chinooks”, “Modocs” e dos “Yuroks”, tivessem em comum, quem mais quem menos esse tipo de ordem social e económica, e quem habitasse ou entrasse em contacto, um com o outro, eram substancialmente diferentes, seja no aspecto, na língua, no modo de viver e na religião. Cavalos não existiam, as armas eram primitivas e os diversos sistemas políticos, em relação às concessões religiosas, geralmente opostas, tornaram tudo impossível, nos momentos de crise, uma união que fosse ela provisória. Essa fraqueza abateu-os diante dos assaltantes bem organizados. Os altíssimos “Totens”, artisticamente esculpidos, dessas tribos costeiras do Nordeste, com suas figuras simbólicas, fazem parte dos documentos genealógicos mais interessantes da Civilização Indígena da América do Norte. A exuberante fertilidade das terras costeiras meridionais e uma grande abundância de pesca e água doce e salgada resolveram inteiramente o problema das necessidades diárias para as tribos dos “Hupas”, “Karoks”, “Yosemites”, “Yocuts” e dos “Pomos”. Também possuíam uma sensibilidade desenvolvida para o luxo e a diversão, para os jogos sexuais e o cuidado com o corpo, eram similares à ordem social dos Índios das costas setentrionais. Certamente causa surpresa o facto que as tribos das costas ocidentais do sul, diferentes das do norte, atribuíam às obras de arte um valor bem inferior. O artesanato das armas era para eles estranho, resolviam os seus conflitos com doações e festas, ou com a imediata submissão. Nas alturas desérticas meridionais da Serra Nevada, que se prolongava até o México, por milénios separadas do resto do mundo das mortais zonas alcalinas, viviam tribos isoladas de Índios, com nível de desenvolvimento similar a aquelas da Idade da Pedra. Os “Monos”, na Califórnia centro oriental, usaram toda a força de seu instinto para caçarem pequenos animais do deserto e procurarem as cortiças de plantas espinhosas. Nada existia de que pudessem extrair algo para se vestirem. Os “Gahuilas”, na depressão salgada da Califórnia, vestiam, desde os tempos mais remotos, botas e saias de ráfia, os “Paviotsos”, do nordeste da Califórnia habitavam cavernas, cujas paredes se assemelhavam um pouco a aquelas descobertas na Europa, durante a Era Glacial. Em qualquer lugar que o Americano ficasse em sua migração para o Oeste, sempre teria confronto com os Índios, com uma Caleidoscópica História da Humanidade, que no resto do mundo não era mais que uma recordação petrificada pelos séculos. Quando ingressavam pelo Grande Deserto Americano, os primeiros caçadores de peles, como se fossem as tradições e a Civilização do Ocidente, que deixavam para trás, tiveram a experiência de um caminho regressivo, através dos vários estados de suas adaptações à natureza e ao homem; um processo lento, que, ao fim, fizeram com que se tornassem seres selvagens como não foram nunca antes então. Dos tempos do capitão John Smith, os Índios da América do Norte, foram objectos de contínuas especulações no campo da informação. Os etnólogos estudaram-nos, os pintores fizeram retratos e fotografias, fixando-os para sempre. Alguns escritores os retrataram sob uma áurea romântica e sentimental, chamando-os de os “Nobres Selvagens”, enquanto outros sustentavam que “Um Índio morto, era um Índio bom”. Realisticamente falando, a América dos Conquistadores brancos, os Índios eram, foram e serão realmente, mesmo com o passar inexorável do tempo, os únicos e eternos Soberanos.

Índios a cavalo – Entre a “massa” dos garimpeiros, grandes pecuaristas e o objectivo de ocuparem o continente inteiro, enfrentariam os Índios das pradarias: Os Sioux, divididos em várias tribos; “Brulè”, “Crow”, “Dakota”, “Hunkappas”, “Lakota”, “Mandans”, “Oglala”, “Omaha”, “Osage”, “Sisseton”, “Teton”, “Whapeton”, “Yankton”, “Arapaho”, “Cheyenne”, “Comanche”, “Kiowa”, “Snake”, “Apache”, “Navajo” e outras. Montados em seus cavalos, esses nómadas das pradarias, constituíam a maior das dificuldades que os brancos enfrentariam, durante a sua Marcha para o Ocidente. A introdução e a difusão do cavalo na América do Norte iniciaram-se em 1500, quando os Conquistadores Espanhóis fizeram as suas primeiras explorações ao interior do continente e revolucionaram profundamente o modo de viver dos nativos Índios, transformando as tribos pobres, que viviam simplesmente de seus campos de cultivos de cereais, em grupos nómadas, orgulhosos e guerreiros. Para os Indígenas o cavalo constituía-se, portanto na única forma de riqueza possível, o principal meio de transporte, e em caso de necessidade extrema, uma fonte de alimentação. “Com excepção das armas e de outros objectos domésticos” – escreveu o capitão Randolph Marcy, da Cavalaria Americana, que viveu vários anos entre as tribos das pradarias – “As únicas propriedades dos Índios são as suas manadas de cavalos e mulas, e alguns possuem mais que 200 animais, segundo a sua habilidade de ladrão”. Entre os Índios, era facto, um ladrão de cavalos gozava de imenso prestígio, como igualmente goza em nossa sociedade civil, um homem capaz de grandes negócios.
Com os cavalos podiam-se caçar os bisontes, fazer guerras, movimentar-se rapidamente, sem eles, morria-se de fome ou eram dizimados pelos inimigos. A vigilância sobre as manadas e a aquisição de novos animais constituía em constantes preocupações das tribos. Dia e noite grupos de jovens eram sentinelas dos currais, e o feito mais honrado para um jovem era o roubo de cavalos de uma tribo inimiga, dos emigrantes ou do próprio Exército Americano. Se um jovem conseguia também conseguir um escalpe de seu inimigo, os anciões da tribo permitiam a ele de adicionar novas penas de águia como ornamento em sua cabeça, como testemunhas do seu valor de guerreiro. Na tribo, geralmente havia cavalos para todos, homens, mulheres e jovens. Em mudanças eles levavam tudo em seus “Travois”; que eram duas varas longas, amarradas em cada lado do cavalo, onde ao centro era fixada uma pele de bisonte, onde sobre ela colocavam-se os objectos para transporte. Quando à noite a tribo acampava, o “Travois” era desmontado e as varas constituíam como suportes para as suas tendas, novamente.

Índios com olhos azuis – Um grupo importante dos Índios “Sioux”, é aquele dos “Mandans”, que em certo tempo viviam onde se encontra hoje a cidade de Bismark, capital do Norte Dakota. Os “Mandans” tiveram contacto com os primeiros descobridores da América: Os Vikings. Ainda hoje existem ainda descendentes daquela tribo que possuem os olhos azuis e cabelos loiros. Esses Índios receberam e ajudaram os exploradores Merrywether Lewis e William Clark, durante a sua primeira viagem através do Oeste, feita em 1804 e mais tarde, o pintor George Catlin, permaneceu entre eles e fez belíssimos quadros. Os Mandans viviam em tendas redondas reagrupadas às margens do Mississippi River; portavam cocares com penas de águia e possuíam tatuagens no peito e braços.
Raramente foram inimigos dos brancos, apesar deles um dia levarem um presente muito triste: a varíola. A epidemia em 1837 dizimou, de uma tribo com 1.600 homens, somente 31 escaparam da morte. Eles eram hábeis navegadores e utilizavam, para trajectos pequenos, embarcações arredondadas, de couro, chamadas “Bull-Boats”. Os “Southern Sioux” ou Sioux do Sul englobavam inúmeras tribos: os “Iowas” que, antes de cederem as suas terras, viviam às margens do Platte River, os “Otis”, seus vizinhos e parceiros, os “Kiowas”, também chamados de “Kaws”, que viviam perto do Kansas River e do Missouri River, os “Omahas” que habitavam na foz do Missouri River até que um dia, com os Índios “Poncas”, partiram para o Oeste. A migração levou os Missouris até Nebraska e os seus companheiros até as “Black Hills”. Pertenciam também aos Sioux, os “Osages” que viviam no sul do Missouri e era uma tribo muito rica: quando foi descoberto o petróleo em suas terras, o Grande Conselho dos Osages recebeu $8.500.000 de dólares depositados na “Casa do Tesouro Americano”. Naquela época, tratava-se de uma riqueza imensa.

Índios Gralhas – (Crows) – É a tradução do termo “Ap-as-ru-ke” ou “Ap-as-roke”, com os quais essas tribos se auto-denominavam, era em sua origem o nome de um pássaro similar à gralha que, que no momento que essas tribos tiveram o primeiro contacto com os brancos, já estava extinta. Gralha então é uma tradução não exacta. Esses índios formavam uma tribo da família linguística dos Sioux e era, durante o século XIX, uma das mais poderosas em Montana, depois dos “Black-Feet”. Travaram uma guerra constante e intensa com os “Sioux”, “Cheyennes”, “Araphoes” e os “Black-Feet”, por causa do seu sentimento pacífico em confronto aos brancos, facto que obrigou o Governador de Montana a pedir ao Governo Federal: “para que fornecesse armas de fogo para eles, pois esses Índios armados representavam uma segurança muito maior, para os colonos do que as próprias tropas do Exército, locados nos Fortes”. O Governo não adoptou oficialmente os “Gralhas” com armas, mas durante as Campanhas Militares contra os “Sioux”, “Black-Feet” e “Nez Percé”, utilizou-se de numerosos exploradores da tribo, que foram devidamente armados. Sob o comando do cacique “Plenty Coups” (Aleek-chea-shoosh) = “Muitas Empreitadas Heróicas”, eles serviram oficialmente no Exército Americano como exploradores “Scouts” e mantinham informados os generais sobre os passos dos “Sioux” e “Cheyennes”, como aconteceu antes da Batalha de Hayfield em 1867 e antes do Massacre de Rosebud e de Little Big Horn em 1876. Em 1891 eles informaram também o Exército sobre os movimentos da tribo “Sioux” que sob o comando do cacique Touro Sentado, retornavam para o Canadá, acontecendo assim o lendário massacre de “Wounded Knee River”.

Índios “Pecos” – Nome popular dado para os Índios “Jemez” que viviam em Pecos, um dos maiores ‘Pueblos” existentes, perto do rio Pecos, em Nuovo México, a 48 km. A sudoeste de Santa Fé. Em 1540, o Conquistador Espanhol Coronado mencionou 2.500 habitantes, em 1790 existiam somente 17 sobreviventes.

Iron Horn Tree – Forma primitiva de sela do estilo Texano. Munido com armação de ferro.

* Caricatura: Fred Macêdo
* Edição, revisão e adaptação portuguesa: José Carlos Francisco

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