Morreu Sergio Zaniboni, histórico desenhador de Diabolik e responsável pela arte de um Tex Gigante

Por José Carlos Francisco e Mário João Marques

(4 Agosto 1937 – 18 Agosto 2017)

* Morreu no passado dia 18 de Agosto, com 80 anos

.
Na passada sexta-feira, dia 18 de Agosto faleceu, com 80 anos, o desenhador Sergio Zaniboni. Natural de Turim, cidade que o viu nascer a 4 de Agosto de 1937, Sergio Zaniboni foi um dos mais conceituados e importantes desenhadores de banda desenhada que trabalharam em Diabolik, uma das grandes personagens dos fumetti italianos.

Tex e Diabolik na Arte de Sergio Zaniboni

Mas Sergio Zaniboni também se destacou por ter desenhado Tex Willer, o icónico Ranger criado, em 1948, por Gianluigi Bonelli. Tratou-se da aventura publicada no Albo Speciale #4, série popularmente conhecida por Texone, cujo título foi Piombo rovente (Chumbo Ardente) com argumento e roteiro de Claudio Nizzi, naquela que era a mais prestigiada colecção do Ranger e que foi concebida para desenhadores externos à personagem, como aconteceu com Guido Buzzelli,  Jordi Bernet, Aldo Capitanio, Alberto Giolitti, Goran Parlov, Alfonso Font, Ivo Milazzo, Joe Kubert, Colin Wilson, Bruno Brindisi, Manfred Sommer, Magnus, Roberto de Angelis, Carlo Ambrosini, José Ortiz, Giancarlo Alessandrini, Victor de La Fuente, Corrado Mastantuono, Lucio Fillipucci e Pasquale Frisenda, entre outros.

O Tex de Sergio Zaniboni

O Tex de Sergio Zaniboni

A sua arte era fantástica e admirada por muitos dos grandes Mestres dos fumetti, como nos recorda Giancarlo Malagutti, que chegou a trabalhar com Zaniboni: “Os traços a lápis de Facciolo e Bozzoli eram muito bonitos, limpos e fáceis de arte-finalizar mas (não me queiram mal) quando chegavam os de Zaniboni era um espectáculo. Entre muitas cenas eu me recordo de um acidente automobilístico que Zaniboni fez em sequência após fotografar automóveis em miniatura e uma Eva Kant vestida de freira de uma beleza de tirar o fôlego.

Tex Willer na magnífica arte de Sergio Zaniboni

Nesta hora de dor, a recordação de que uma das maiores preciosidades da minha colecção, foi um fantástico desenho de Tex que o Mestre Sergio Zaniboni fez para a minha galeria de originais, dedicando-me inclusive a sua magnífica arte:

Tex original de Sergio Zaniboni dedicado a José Carlos Francisco

Biografia

Sergio Zaniboni

Ex- profissional da rádio, inicia a sua carreira de desenhador de banda desenhada em 1967 depois de ter sido desenhador gráfico publicitário (o histórico logótipo dos cromos da Panini é uma criação sua) e ilustrador. O seu primeiro trabalho é uma reprodução em banda desenhada de Os três Mosqueteiros desenhada para o editor de Alè Toro mas que nunca chegou a ser publicada. Após ter desenhado I Promessi Sposi para Gino Sansoni (marido de Angela Giussani), começa a colaborar com a revista Horror e em 1969 entra para o staff de Diabolik, estreando-se com a aventura Delitto su commissione. Desde esse dia até ao momento da sua morte, desenhou o lápis de mais de 300 aventuras, actividade que ainda realizava aquando da sua morte no passado dia 18 de Agosto.

Desde 1972 que colaborava também com Il Giornalino, onde entre os vários trabalhos realizados deu vida à série de ambientação pugilista Il campione, com textos de Alberto Ongaro, e à série policial Tenente Marlo, com textos de Claudio Nizzi. Para a Orient Express desenhou a série I Reporters, escrita por Giancarlo Malagutti.

No final dos anos 80 renova o seu estilo empenhando-se em dois trabalhos que misturavam elementos humorísticos e temáticas aventureiras: Speedy Car, série escrita por Paola Ferrarini e realizada para Il Giornalino, e Pam&Peter, episódio auto-conclusivo com textos de Luigi Mignacco, publicado com o selo da Comic Art.

Em 1990 vence o prémio ANAFI como melhor desenhador italiano e em 1991 desenha uma longa aventura de Tex Willer escrita por Claudio Nizzi para o Albo Speciale Tex nº 4, com o título Piombo rovente.

Nos anos 90 prossegue a sua colaboração com “Il Giornalino” desenhando séries como “Reporter Blues” e “Maj Lin” e em 2000 recebe o prémio Yellow Kid pela sua longa e produtiva militância nas páginas de Diabolik.

Sobre a história do Tex Gigante em si, que será republicada a cores pela Editora Salvat, no Brasil, no volume nº 21 de Tex Gold, a publicar em 2018, damos a palavra ao especialista Mário Marques:

Tex Gigante - Chumbo ArdenteArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Sergio Zaniboni. Com o título original Piombo Rovente, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 4 em 1991 e no Brasil pela Mythos Editora em 2001.

Chumbo Ardente é uma homenagem de Claudio Nizzi à cidade do velho oeste. Pensar em western sempre nos levou a evocar grandes planícies, extensas pradarias, montanhas, natureza, enfim a liberdade que sempre  nos permitiu sonhar e galopar longe da civilização.
Mas o velho oeste também é feito das suas míticas cidades, com a sua habitual artéria principal, com tudo a crescer em seu redor, onde todos se encontravam no velho saloon, não sem antes deixarem a sua montada na estrebaria e de tomarem um retemperado banho no hotel, muitas vezes também associadas a bandos mais ou menos organizados ou a senhores que a dominavam a seu bel-prazer.

O que Nizzi nos vem invocar em Chumbo Ardente é uma velha cidade (Serenidade) e toda uma comunidade dominada por um senhor (Morgan Slattery), contra quem Tex e os seus companheiros vão ter que lutar. Mais uma vez, Nizzi soube escolher a linha mestre do seu argumento, tocando num tema muito recorrente no género e que, por exemplo, Hollywood soube muito bem explorar.

Mas se Chumbo Ardente tinha os ingredientes necessários para poder ser (mais) uma aventura ímpar do nosso ranger, pelo seu classicismo, pelo círculo fechado que a cidade sempre encerra, pelo ambiente omnipresente e sempre constante da luta entre o bem e o mal, a verdade é que o resultado final surge-nos muito fraco, desigual mesmo. Não por culpa do argumento, já focámos a sua riqueza, mas mais pelo desenho do italiano Sergio Zaniboni, um pouco na esteira da linha clara, tão do agrado de vários artistas franco-belgas.

Arte de Sergio Zaniboni

O traço de Zaniboni não é cativante, pois limita-se a reproduzir pouco de cada cena, não vai mais além do que é estritamente necessário à reprodução do argumento, falta sempre um detalhe, um traço, algo que saiba transpor o mero retrato. O estilo adoptado não se enquadra bem nas aventuras de Tex, um western e, para mais, sempre duro, rude, cínico, afinal as características que nunca estão presentes ao longo da trama.

Para os aficionados, onde nós nos incluímos, é sempre bom poder ler este tipo de aventuras para podermos efectuar as necessárias comparações, realçando sempre a sensibilidade e a coerência de cada autor, mas no fundo, Chumbo Ardente é uma oportunidade seguramente perdida, uma obra que, com outro traço, poderia ter ido muito mais além.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Uma grande perda para todos… Mas não é isso que por aqui me trás, mas o valor deve ser dado a quem na verdade o merece…

    Ao Zeca

    Não vou usar a palavra que adoras usar sempre que falas com um de nós, já o disse e repito, não sou pard de ninguém, e não quero ser… Meus pards infelizmente já descansam ou caçam nas pradarias… não sei se verdejantes ou não, mas tenho por experiência medo de chamar pard/amigo a quem quer que seja, quando chegas no meio século e teus amigos já se foram, o melhor é não chamar mesmo a ninguém de amigo…
    Mas tudo isso são tretas e mais tretas, escrevo hoje aqui, e desculpem não procurar nada sobre o meu tema! Mas sou preguiçoso, e teimoso. Choro e berro muito, umas vezes quase com razão, na maioria sem razão quase nenhuma. A última vez que aqui me dirigi, chorava, uma vez mais pela falta, pela seca, pela ausência de nosso amado Tex, nas bancas!!!
    Se vives em Portugal, e acompanhas tudo de nosso herói, sabes que é o Sr. José Carlos Francisco que… é o culpado de tudo, o homem dá a cara, ele é o blogue, ele é o clube, ele é o representante de tudo que é Tex. Como bom juízes que somos, todos! É ele o culpado, bora matar o homem!
    Mas ele até que nem é assim tão peste, tirando aquela faceta vermelha, arraçada de moura… Ahahahahaha! Esta eu tinha que dizer!
    Em frente, Zeca respondeu a meu choro desenfreado, dizendo que a Mythos quase nada poderia fazer, eu até quedava uma ideia, eles colocam as revistas contigo e tu, conforme os pedidos e todos sabemos daquilo que são portes de correio… Em Portugal! Uma ideia, é sempre uma ideia…
    Mas até que nem era nada disso que queria falar, mas sim da excelente informação, que mais uma vez obtive neste blogue. E sobre isso, só posso dizer como sempre obrigado!
    Ontem minha mulher precisava de resolver uma treta, como tinha visto aqui… Ahahahahaha! O melhor lugar era em Braga, neste caso preciso, BragaParque… Ahahahaha! Ela foi resolver o seu assunto e eu feito nabo fui para à FNAC! Nada! Nem um livrinho do Tex! Perguntei, nada, só por encomenda! Saí muito, mesmo muito desanimado… Naquele momento o Zeca deve ter ficado com suas orelhas da cor de seu clube… Ahahahahaha! Então comecei pensando para mim, o gajo disse, quiosques… Quiosques, olho e vejo o gajo, o quiosque! Olho de fora para as estantes, Marias, TV… a merda do costume… Mas, entrei, olho para de baixo de uma mesa, repleta de jornais… E, vejo, Ouro Negro!!! Peguei, comprei e vim para casa… Ahahahahaha! Feliz, grato uma vez mas… Assim fica difícil dizer mal dos lampiões! Ahahahahaha!
    Hoje fui à praia com minha dama, levei meu livro e sinto-me orgulhoso, e acreditem vou comprar todos os outros!!! Sem querer ofender ninguém, nem menosprezar quem até hoje publicou estas maravilhas, mas este está no “nosso” Português, obrigado a todos, ao editor, mas principalmente ao “ZECA”, ao qual hoje está associado a meu grupo de amigos… Ahahahahaha! Eu fiz um pacto com o Demónio, e amigo meu só morrerá depois de mim, e como eu sou como o Carson… Está a salvo!

    Obrigado e parabéns pela obra, sei que não é tua, mas tem teu dedo… Obrigado!

    Bernardino

    • Caro pard (sou teimoso) Bernardino,
      Estou mesmo de partida para umas férias no Alentejo (já tenho as chaves do carro na mão) mas não resisti a comentar esta euforia verdadeiramente contagiante… tanta que até compreendo que sejas avesso aos vermelhos (…risos…).
      Que bom que encontraste o livro “Ouro Negro” e agora possas degustar uma bela edição portuguesa… não deixes de adquirir os outros três exemplares… se for preciso entra em contacto com o editor Rui Brito… são obras magníficas. Diverte-te! E obrigado pelas tuas palavras…

      No meu regresso, dia 3 de Setembro falamos mais e melhor…

      P.S. – Este ano futebolístico vai ser competitivo… a “luta” vermelha, azul e verde está para durar 😉

      P.S. 2 – Transcrevi o teu comentário assim como esta minha resposta no tópico adequado. Vê indo a http://texwillerblog.com/?p=73505

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