Festival Guia dos Quadrinhos 2017 – E aí?!

Joana Rosa Russo

Por Joana Rosa Russo (Advogada de profissão, gamer por paixão) [1]

Olá amigos e leitores do blogue português do Tex!

Sábado, dia 8, estive presente no Festival Guia de Quadrinhos, em sua edição 2017, aqui em São Paulo, Brasil. O evento aconteceu no final de semana de 8 e 0 deste mês de Abril, no coração de Sampa: Avenida Paulista, nº 735, Bela Vista.
E para variar fui atrás de nosso amado Ranger: TEX!

O QUE É O FESTIVAL GUIA DOS QUADRINHOS?

Sim, eu também não sabia! Mas o Projecto nasceu nos idos de 2007, mais precisamente em 5 de Março daquele ano, como consta do próprio informativo do evento. Edson Diogo foi o criador desta ideia que, em pouco tempo, tornou-se fonte de pesquisa e catálogo para coleccionadores, editoras e curiosos. Hoje o site (www.guiadosquadrinhos.com), conta com quase 200 mil edições cadastradas, mais de 100 mil capas e 250 mil histórias em seu banco de dados, com abrangência internacional.

O Guia dos Quadrinhos é um acervo muito importante que, por meio de um sistema colaborativo, mantém viva a história sobre edições raras do mundo das BDs. Os próprios internautas ajudam a manter o banco de dados actualizado. A partir de 2009 os eventos começaram, sempre buscando aproximar editores, autores, desenhadores e leitores que ao mesmo tempo são admirados e admiráveis, já que na feira, todos são leitores e coleccionadores, antes de mais nada.

O evento também promove um agradável concurso de cosplays extremamente democrático, que premeia todo o pessoal! O concurso é organizado pelo pessoal da Comics Cosplay BR, e acontece sempre no domingo. Para aquecer a brincadeira demos de cara com o pessoal da #HJ.

A ENTRADA

Mas vamos falar do evento em si! Para quem chegou com ingressos em compra antecipada (e pegou um lote mais em conta, claro), foi só apresentar a confirmação de pagamento. Mas fique tranquilo: para aqueles atrasados de última hora ou cépticos do e-commerce, havia venda de ingressos na portaria :-).

Não houve problemas para entrar. O movimento naquele horário (14h00 – 17h00), foi bem baixo. O forte, segundo os próprios organizadores, foi no pico da abertura do evento, às 10h00. Para todos eram ofertadas sacolinhas com kit de boas vindas: um jornalzinho do evento para o visitante se situar, uma revista DC aleatória e os cards promocionais do evento.

Há que se dizer que o espaço, relativamente pequeno, ajuda a boa organização. Mas o evento em si foi muito bem montado, proporcionando facilidade para o visitante e imprensa tanto na circulação quanto na localização das mesas e stands.

LÁ DENTRO…

Nada de outras cerimónias para entrada. Uma vez colocada a pulseira de identificação e entregue o ingresso, você estava livre, leve e solto para ver de tudo.

Assim que você entrava já dava de cara com o salão dividido em corredores para abrigar expositores. Do lado esquerdo havia uma pequena cantina, embora o espaço Térreo do Clube conte com dois restaurantes (bem caros, é verdade!). São 50 stands para se divertir: o forte são as BDs, mas em decorrência delas, também haviam muitos desenhadores que participaram da confecção do livro tributo a Jack Kirby e outros tantos independentes que desenhavam de super-heróis a personagens de mangás, em todos os estilos de traço possíveis.

Dentre os stands de “comércio” notamos a participação de muitas produções independentes e genuinamente brasileiras, como a curiosa IHQ, com o título “Pátria Armada”. O Autor, Klebs Junior, ressaltou que é importante termos referências brasileiras num mercado tão rico e ao mesmo tempo tão carente de ícones. Se você quer saber mais, não perca tempo em acessar o site e se familiarizar com o teor da BD que promete uma mistura interessante e totalmente paralela a uma história real brasileira.

Muitos NERDS correndo, muitos NERDS comprando, muitos NERDS tirando fotos…


E eu atrás de nosso Ranger! É verdade que já tinha em mente que, em sendo o evento direccionado ao mundo Marvel, não seria uma das tarefas mais fáceis localizar Bonellis por lá. Mas havia tanta diversidade, que não hesitei em começar as buscas logo que cheguei. Até porque, o festival é de QUADRINHOS, oras!

Porém a resposta a minha busca foi rápida e certeira: achar Tex ou qualquer outro quadrinho “normal” seria um pouco mais complicado do que estava imaginando. Quando digo aqui normal, refiro-me ao conteúdo: não temos um herói com super-poderes ou com uma super-mutação que salva o mundo de um asteróide ou invasão alienígena. Temos uma pessoa normal, como eu e você, que luta para ver justiça feita. Mas não se engane se o enredo parece monótono: o bang bang e a dose de diversão são garantidas nas folhas deste ícone.

Foi quando, timidamente, localizei a primeira esperança: O Herói e a Lenda!

Ele não estava entre muitos. Na verdade era o único ao lado, do também único, exemplar de Frontera!. Acabei achando algumas coisas perdidas na banca da edição Tex em Cores e alguns exemplares da luxuosa Tex Gigante em Cores. O expositor, a COMIX Book Shop, no entanto, garantiu que em sua loja havia muitas mais opções do Ranger para compra, mas que não focava em levar por conta da baixa procura nos eventos. Ele relatou que era um item mais específico, e por isso não ocupava espaço com isso.

Aqui já acendeu uma luz amarela confirmando uma suspeita que já tinha desde que comecei a ler Tex.

Não contente com a primeira negativa, sai garimpando pelos outros stands, quando parei na POP ART’s House: foi uma surpresa muita grata achar edições à venda de Ken Parker (que também estavam à venda na COMIX Book Shop), principalmente in loco. E nesta banca, em particular, eu abri o maior sorriso do mundo, até porque não conhecia essa obra (fiquem calmos, faz pouco tempo que me converti à causa texiana!):

Não preciso dizer o quanto eu parecia criança com esta belezinha na mão. O formato diferenciado, os textos escritos com esmero, o cheiro das folhas, os desenhos… Ah Civitelli, como eu sou apaixonada por sua obra! Se pudesse colocar os meus preferidos num pedestal, ao alto estaria você, com o Villa e o Ticci. Colados no lendário Galep, que não só por ser pai de Tex, mas porque tem um traço muito peculiar que me remete bem aos mocinhos de caubói das fábulas românticas. O que dizer de Rotundo, Leomacs, Jesus Blasco (oh… meu… Deus….) e o próprio Serpieri… Cada um com uma individualidade impecável, que chega a ser covardia e uma tremenda injustiça mencionar apenas alguns. Mas confesso declaradamente meu amor pelos seus desenhos e SEU Tex (aliás, já vi e revi cada imagem como se fosse a última que vejo em minha vida). E, se você é admirador de Tex, este item definitivamente não pode faltar na sua colecção. Na feira ainda tive um desconto e o item saiu por R$60,00.


.

A POP ART’s dispunha de alguns poucos exemplares de Tex Gigante em Cores e apenas um único tomo desta pérola, que sim, É MINHA. Conversando com o vendedor, ele relatou o mesmo problema do pessoal da COMIX: acaba tomando muito espaço e quase não tem saída.

Na saída desta última banca, acabei encontrando uma figura muito peculiar, que se identificou como Marquinhos, que me relatou a grande dificuldade em localizar exemplares à venda de Ken Parker (seu preferido no momento), que sentia falta de uma maior adesão do público a uma leitura tão peculiar. Ele já foi leitor de Tex, mas pelo pouco que entendi de nossa breve conversa, ele já não gostava tanto do estilo “bang-bang” e da linearidade do personagem. Conversamos também a respeito de Mágico Vento e Dylan Dog os quais ele também adora, e sua brevidade de publicações no Brasil (brevidade em termos porque sabemos que a Editora Lorenz está voltando com Dylan – que seja para ficar, por favor…).

Embora Tex se destaque pela forte campanha da Mythos Editora, há que se ponderar que, considerando o aquecimento do mercado mundial de comics e nossa extensão territorial, TEX, principalmente aqui no Brasil, deveria ter uma maior aderência. Mas voltaremos no assunto mais adiante :). Aos curiosos de plantão, aviso que meu amigo Marquinhos é realmente uma pessoa muito reservada e não quis dar maiores detalhes sobre si mesmo. Mas sem dúvidas foi mais uma enorme chance de aprender mais sobre o mundo dos fumettis.

Minha decepção só não foi maior porque achei no Empório HQ (um stand grande e recheado), MUITAS edições à venda de TEX (coleção e mensal), ZAGOR e até mesmo Martin Mystere, Dylan Dog, Nathan Never e Mágico Vento (estas em menor número):


O que também me causou muita surpresa é que, nestas quase quatro horas que passei por ali, entre observar o comportamento do público, a busca por determinados títulos e, claro, o olho colado nas bancas que tinham Bonelli, pude notar que realmente poucos se interessavam ou buscavam pelas revistinhas, ao menos a título de curiosidade, coisa que já não acontecia com os exemplares ou revistinhas mirradas que tinham capas surreais de heróis impossíveis.

Paralelo ao mercado de pulgas, no auditório do evento, ocorriam as palestras (que também aconteceram no domingo, dia 9 de Abril). O foco, como já mencionamos, foi a comemoração dos 50 anos de Marvel no Brasil (o que incluiu uma discussão sobre o mito Jack Kirby), além da homenagem à quadrinhista Lilian Mitsunaga. Nas rodas de conversa o pessoal da Editora Abril iniciou um bate bola sobre a publicação dos quadradinhos Disney e seu sucesso no Brasil.

NO FIM…

Estou decepcionada? Depende. Se você me perguntar como sendo um feira de BDs, não. Foi bem legal e tinha muita coisa. Até mesmo action figures e pilhas e pilhas daqueles bonecos funko eram facilmente vistos em praticamente TODAS as mesas. Chaveiros, desenhos, artes exclusivas, almofadas, chocolates, livros, cartões, marcadores, quadradinhos, desenhos… de tudo que você imagine. Até mesmo havia um quiz interactivo no palco durante o evento, enquanto rolava no auditório as palestras direccionadas e focadas no 50 Anos de Marvel em terras tupiniquins, como já mencionamos.

Mas se você me questionar agora como leitora de TEX… de Bonelli Comics… bem, confesso que muito animada não fiquei mesmo.

Porém a experiência revelou muito: o mercado de BDs, embora ainda seja tratado como um hobby de cultura infanto-juvenil, NÃO é. Basta a rápida olhada pela feira: o publico alvo era pelo menos, acima de 30 anos, em média. Sim, muita molecada no evento, mas a maioria mais interessada na guerra de sabres de luz do que nas revistinhas propriamente ditas.

O foco das compras eram super-heróis. TODOS que puder imaginar. Inclusive você deve estar se perguntando: oras sendo o foco na Marvel, o que esta maluca esperava???

Pois é amigo, o foco DAS HOMENAGENS era na Marvel… Tanto que muitos stands eram totalmente focados em Star Wars, The Walking Dead… e assim por diante. Ver a participação do ranger reduzida a alguns poucos exemplares e uma caixa de edições regulares foi realmente uma decepção. Até mesmo para achar texianos foi algo um pouco difícil. Aos donos das bancas, que conhecem claro, era complicado apontar outros que estivessem por ali em maior número. Tomei conhecimento que o grande Adriano Rainho estaria lá e que o caricaturista Bira Dantas também, mas infelizmente (e factualmente, par meu azar), não nos cruzamos!

E ai comecei a pensar que de facto TEX, embora seja uma obra primorosa, PRECISA contar com outros mecanismos para renovar o seu público alvo. Não inovar o conteúdo, longe disso! Mas sim buscar em outros veículos mais modernos uma melhor aderência ao público até 30 anos. E quando digo isso remeto ao cerne de outras matérias que já produzi: jogos electrónicos e a entrada no mundo LEGO podem ser meios eficazes para injectar o personagem em lares mais amplos, fazendo com que a história permaneça viva, com novos coleccionadores, com novos itens, com uma nova geração de admiradores.

Nem sempre se pode esperar o mercado mudar sua tendência: a inovação tem que partir do mais forte para que os mais fracos possam segui-la. Não quero que Tex daqui a alguns anos acabe por fazer parte apenas de histórias e registos em museu. Não. Não podemos deixar isso acontecer. E mais do que “só” comprar (OK, eu sei! É o principal, mas não o essencial), temos que disseminar o legado texiano nas novas gerações, seja influenciando na tenra leitura, seja apresentando o ranger de outra forma, e aqui entra a Sergio Bonelli Editore: manter conservada suas tradições de publicações é incrível e memorável, mas se há interesse em expandir com força na nova geração, será que não é chegada a hora de sentar e rever certas manobras?

Tex não tem que perder sua essência. Não tem que ganhar super-poderes. Não precisa lutar contra mortos vivos ou empunhar um sabre de luz. Ele só precisa de mais espaço: e espaço do jeito certo.

VIDA LONGA AO TEX!

(Para aproveitar a extensão completa  das imagens acima, clique nas mesmas)

[1] (Texto publicado originalmente no Síte “Clube Tex & Zagor Brasil“, em 8 de Abril de 2017)

2 Comentários

  1. Parabéns pelo texto Joana, deu para ter a sensação de ter estado lá, muito bem escrito e boas opiniões.

  2. O pessoal do Rio de Janeiro da Confraria do Gibi, com os Fanzines (vários sobre TEX – escrito pelo Rainho inclusive, e lá presente no sábado dia 08/04) estavam lá, reencontrei o André do coletivo, que é fã de Tex e esteve conosco na Brasil Fumetti Con – Sampa 2015.

    Estando o Filipe Chamy, a Viviane (minha esposa) e eu identificados com colete Moto “Fã Clube Brasil” TEX e ZAGOR, o tempo todo o pessoal parava, conversava sobre Bonelli e claro, diversos artistas parceiros, simplesmente nos reconheciam e ao Fã Clube Tex Brasil.

    Apesar de nossa passada rápida no domingo, valeu a pena:
    http://zagorbr.blogspot.com.br/2017/04/zagor-brasil-no-festival-guia-dos.html

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *