Fanzine “A Conquista do Oeste” – Maio/Novembro 2001 – Páginas 39 e 40 – “Heróis” do Oeste: Matt Marriott

“HERÓIS” DO OESTE

MATT MARRIOTT”

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 39O tema do Western está hoje quase esquecido das novas gerações, não por culpa delas, mas porque nós, não soubemos legar-lhes esse manancial de imaginação, de aventura, de emoção e, porque não, de cultura. Pelo menos no que respeita aos Estados Unidos o Oeste não deixou nunca de ser cultura, até porque seria a partir daquele espaço, que se iriam encontrar vastos focos de civilização dos índios e onde os colonos, vindo de toda a parte do mundo se viriam a fixar, com as suas tradições, os seus costumes e as suas culturas e que, por suas vez, se viriam a espalhar por todo o vasto continente dos Estados Unidos.

Além disso o enriquecimento daquele país deve-se igualmente, em muitos aspectos, à colonização do Oeste. Um dos frutos dessa cultura seria o cinema do Oeste, um legado do povo norte-americano, que o espalharia por todo o mundo e onde o mesmo seria aceite com grande receptividade, de tal forma, que até na Europa, apesar do tema não ter nada a ver connosco, viria a ser imitado. Muitos vezes nem sempre muito bem, mas algumas vezes com algum sentido e também interesse. Evidentemente que seriam os norte-americanos e realizar filmes de maior impacto e com maior realismo.

Matt MarriottDe qualquer dos modos, os italianos assemelharam-se bastante ao espectáculo apresentado por aqueles, não deixando os seus créditos por mãos alheias. No entanto, se quisermos considerar que o cinema europeu não conseguiu atingir os objectivos a que se propôs, ninguém terá dúvidas que as Histórias aos Quadradinhos europeias cujo tema era o Oeste, soube e bem, alcançar um lugar cimeiro nesse campo, ultrapassando mesmo os mestres, neste caso os norte-americanos.

Os desenhadores e argumentistas italianos, os primeiros, os ingleses, os espanhóis, os franceses e os belgas, por esta ordem, demonstraram um incrível capacidade de retratar o Velho Oeste de uma forma fabulosa, criativa, realista, bela e até fiel à sua verdadeira História, o que não aconteceria com os trabalhos dos desenhadores norte-americanos, que viriam a mistificar, de uma maneira geral, todas as personagens, boas e más, que povoariam o Oeste. No que respeita aos ingleses, foram três, as séries do Oeste que teriam maior êxito: “Gun Law” de Harry Bishop, “West Slade” de Georges Stokes e “Matt Marriott” de Tony Weare, todas elas escritas pelo mesmo argumentista, Jim Edgar. As Histórias aos Quadradinhos inglesas, do mesmo modo que as italianas, tiveram sempre grandes escritores por detrás delas, que conseguem construir grandes narrativas, com personagens intensas e originais, já para não falar no desenrolar da acção, sempre emotiva, sempre constante nos acontecimentos, evitando que o leitor se desinteresse pela sua leitura.

Tony WeareJim Edgar começou a sua carreira a escrever contos e peças para a rádio, em fins dos anos quarenta e inícios dos anos cinquenta. Nunca tinha tido nenhum contacto pessoal com a Banda Desenhada, até então, até que conheceu Peter O’Donnell, autor de “Modesty Blaise“. Este aconselhou-o a tentar escrever argumentos para as Histórias aos Quadradinhos. Este resolveu ponderar e aceitar a sugestão.
Assim, em 1955, apareciam já nas páginas dos jornais, algumas séries de grande interesse e de sucesso garantido, tais como “Romeo Brow“, “Garth“, “Buck Ryan“, “Paul Temple“, “Jane“, etc.

Por essa altura surge então “Matt Marriott” da autoria de Reg Taylor nos textos e de Tony Weare nos desenhos.
“Matt Marriott” era um jovem fazendeiro, que vivia perto de Dogde City. Não era um pistoleiro. Usava unicamente uma espingarda para caçar. Infelizmente, o destino viria a provocar-lhe uma grande reviravolta na sua vida, quando uma manada de gado ao atravessar a sua fazenda, viria a matar os seus pais e a destruir tudo o que era seu.
Na procura de vingança, “Matt” acaba por aprender a usar o revólver, depois de conhecer “Luke Powder Horn“, um ex-sargento do exército, que também teve um irmão morto e a sua fazenda destruída pela mesma manada. “Matt” acaba por desafiar o poderoso texano, dono da manada e responsável pela sua desgraça, matando-o com um tiro certeiro. Ao mesmo tempo resolve não voltar para casa e continuar, com “Powder“, uma rota na procura de outros lugares, ajudando as pessoas que deles necessitem e combatendo as injustiças.

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 40Reg Taylor ficaria pouco tempo a escrever os textos da série, pelo que James Edgar continuaria a série ao longo dos anos sempre com enorme sucesso em toda a parte do mundo onde a mesma acabaria publicada. Os enredos de Edgar eram bem construídos e de agradável leitura, abordando todo o tipo de problemas, quer à volta das duas personagens principais, quer em torno de outras figuras secundárias.

Os desenhos de Tony Weare eram sempre originais e cuidados, embora lhes faltasse algum movimento. No entanto, no campo dos traços paralelos, criados com a pena e o pincel, ele era um mestre. Tratava-se de um trabalho muito pessoal e cuidadoso. A série era construída à volta de uma certa dose de fatalismo, já que na maior parte das vezes, as personagens secundárias raramente tinham sorte e conseguiam atingir os seus objectivos e os próprios “heróis” também pouco conseguiam ajudar, por sua vez fatalistas e sujeitos a todas vicissitudes que a vida lhes trazia. De qualquer dos modos, temos que admitir a excelente conjugação de todos os ingredientes necessários, para que por sua vez, transformassem a história em belos momentos de prazer ao lê-la.

O Oeste de Tony WeareO Oeste concebido por Jim Edgar e Tony Weare, afastava-se bastante daquele que conhecemos através dos filmes de Hollywood. A terra era desprovida de qualquer encanto, era rude, seca, fria e selvagem e os seus habitantes também se caracterizavam pela sua rudeza. Ali, naquele local, só sobreviviam os bravos e os aptos. As personagens eram todas feias e incultas, mesmo o nosso “herói” e o seu amigo. Ambos eram igualmente feios e grotescos. “Matt” era só um bom homem, cheio de sensatez afinal, apesar de não ser bonito. As pessoas gostavam dele pela sua contínua procura de justiça e pelo seu desejo de ajudar o próximo. Tony caracterizava o verdadeiro Oeste, nos seus desenhos e pouco deixava ao acaso. Hoje conhecemos já o verdadeiro Oeste, onde viver era uma aventura e onde os homens lutavam entre si, por um pedaço de terra, matando e deixando matar quem quer que fosse, para que os seus fins fossem atingidos.

Jim Edgar sempre foi um escritor com uma certa visão realista do Velho Oeste e do seu povo, mostrando que não precisava de ser norte-americano, para se debruçar em pleno sobre o tema, apresentando-o de uma forma honesta e isenta.
Mas Edgar era mesmo um grande argumentista, já que em 1966 iria substituir Peter O’Donnell nos argumentos de “Garth”, deixando os leitores da série entusiasmados com a sua facilidade em abordar qualquer situação ou qualquer tema, independentemente do tempo ou do espaço. Todas as 17 histórias escritas por este argumentista, seriam magistralmente desenhadas por Frank Bellamy e três delas iriam ser passadas no Oeste.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, e/ou imprimí-las, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. As minhas desculpas pela curiosidade: pode-me revelar a fonte que sustenta o envolvimento de Reg Taylor na série? Obrigado!

  2. Sobre o Reg Taylor em Matt Marriott e já como dizia o célebre Lavoisier “neste mundo nada se perde nada se cria, tudo se transforma”, ninguém é dono da verdade e os meus artigos são sempre suportados por outros, enciclopédias, livros e revistas da especialidade. Vá a
    https://texwillerblog.com/wp-content/uploads/2023/08/Digitalizar.webp
    e verá uma página de uma das enciclopédias francesas da autoria de Henri Filippini, onde fala de Matt Marriott … Eu comprei uma brochura em Londres uma vez, sobre esta personagem mas, sinceramente, não a encontrei. Nesta enciclopédia francesa diz só que Reg Taylor é só o autor do primeiro episódio desta personagem… no entanto, há dúvidas, razão pelo que eu indiquei que durante pouco tempo ele seria o autor dos textos deste “herói”.

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